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Liz Smith sobre REBEL HEART: Madonna jamais será como as outras

MADONNA REBEL HEART LIZ SMITH

“Vivo a vida de maneira masoquista. Ouvindo meu pai dizer: ‘Não disse? Não disse? Por que você não é como as outras garotas?’. E eu disse: ‘Oh, não, não sou assim. E acho que jamais serei’”.

Essas palavras vêm da letra da faixa-título do novo álbum de Madonna, Rebel Heart. Não importa o que ela faça, com quem ela case, transe, e não importa quantos filhos ela tenha ou qual seja a idade, ela jamais será como “as outras garotas”. E mais, aparentemente, Madonna nunca se reconciliará totalmente com o pai. (Uma das músicas mais poderosas dela, juntamente com o clipe, é Oh Father, de 1989).

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CRÍTICA MOJO REBEL HEART: Muito material bom é um bom problema

MADONNA - MOJO-REVIEW-REBEL HEART

O novo álbum de Madonna chega carregado de controvérsia, gingado, audácia e franqueza sexual. E, em algumas vezes, ele até exagera. “Beija mais, molha mais”, ela sugere em Holy Water, uma canção discreta que mistura o sagrado e o profano que remete ao álbum Erotica, de 1992.

É a típica metade do álbum, na qual produtores da moda trazem uma variedade de cores e tons contemporâneos enquanto Madonna declara que ela ainda está entre nós, talvez protestando um pouco demais. Algumas colaborações são melhores do que outras. A gélida Hold Tight, composta por Ryan Tedder, é melódica, mas insossa; as sirenes características do produtor Diplo em Unapologetic Bitch lembram muito a música de M.I.A.. Contrariamente, todas as contribuições de Kanye West – incluindo a já citada Holy Water, a igualmente sugestiva S.E.X. (“Sou uma porta aberta, venha e entre em mim”) e a ótima Illuminati, na qual Madonna imagina uma boate cheia de governantes mundiais não tão secretos, são extraordinariamente inteligentes.

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Crítica: Chamar Madonna de relevante virou seu maior elogio

madonna relevante aos 56 com rebel heart

Falar de Madonna à mesa de jantar a fará parecer ridícula. “Relevante” parece ser o último elogio que as pessoas têm dado a ela ultimamente. O crítico comum a elogiará pelo que ela costumava ser, mas vai desdenhar por ela permanecer na cultura Pop. As razões deste desprezo rondam os 56 anos dela e a crença de que ela está desesperada para continuar o que vem fazendo há mais de 30 anos.

Ironicamente, considerando a atitude aparente, há partes que querem novas músicas de Madonna no mundo antes delas estarem prontas. O lançamento do 13º álbum de estúdio Rebel Heart será lembrado pelos vazamentos prematuros. Mesmo antes do fim do ano passado, várias demos caíram na Internet, fazendo Madonna e equipe terminar seis faixas e disponibilizar imediatamente no iTunes. No fim, um israelita foi preso sob suspeita de invasão online, mas o álbum completo só apareceu neste mês.

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Por que LIVING FOR LOVE, de Madonna, é o melhor clipe em anos?

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Ao longo dos anos, muitos críticos afirmaram que Madonna definiu o conceito de “videoclipe” – e, com cada novo lançamento, ela o continua fazendo. Living For Love não é exceção. Na verdade, é possível dizer que ela criou uma nova forma de produzir um clipe. Esta vai para vários outros artistas:

1) A dança é moderna, e Madonna, diferente de muitos outros, dança de verdade, e perfeitamente! O estilo é novo, os passos são certamente icônicos e ela se apresenta com leveza, de forma que você mal percebe que está assistindo ao nascimento de uma nova forma de dança;

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Com REBEL HEART e nada para provar, Madonna é a rainha do pop e pronto!

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Nesta semana, Madonna liberou mais duas faixas do novo álbum, Rebel Heart, lembrando-nos que ela é a Rainha deste mundo Pop. Uma delas apresenta Chance The Rapper e Mike Tyson (Iconic), e a outra, Nas (Veni Vidi Vici). Lá em dezembro, ela soltou Bitch, I’m Madonna, com a herdeira do trono Pop, Nicki Minaj, e a produção de Diplo, Living For Love. Sim, ela está de volta, como se nunca tivesse se afastado.

Iconic e Living For Love apresentam batidas dançantes que te fazem querer se jogar e flertar com algum estranho na boate. Bitch, I’m Madonna e Veni Vidi Vici são mais tradicionais, mas não menos radiofônicas. Nicki, Chance e Nas cospem fogo em suas respectivas participações. É ótimo ela ter rappers no novo álbum, é uma forma de respeito a um gênero que, ao longo da carreira dela, se transformou de modismo a uma força espetacular na cultura popular.

Aquela que nunca foge de uma controvérsia, Madonna se sentiu completa com a campanha de marketing online de Rebel Heart. Ela replicou a capa do álbum ao colocar os vários rostos “rebeldes” de Nelson Mandela, Martin Luther King Jr., Bob Marley e Jesus Cristo amarrados. Muitos ainda tentam entender a razão desta arte. Ela tentou se comparar aos ícones e, depois, pediu desculpas por isso, o que tirou um pouco do crédito do projeto. A tal campanha foi modesta, e o fato dela já ter 56 anos e não ter produzido um grande álbum em nove anos, fez tudo parecer um pouco forçado. Houve um tempo em que fãs do mundo todo ficavam eufóricos com os álbuns de Madonna. Há algumas décadas, a música de Madonna era bem mais familiar. E é este o sentimento que o novo álbum traz, uma reminiscência daqueles tempos.

Não há espaço para cópias. Lady Gaga não tirará o trono da Rainha, uma vez que Madonna é mais original e se esforça bem menos. As únicas que se aproximam em termos de qualidade são Onika, Azealia Banks, Rihanna e Beyoncé. Rihanna é uma máquina de hits, e Beyoncé nasceu para se apresentar. Madonna deu luz a todas elas, e merece respeito e honra ao próprio legado. Espera-se que Rebel Heart seja um álbum platinado e que Bitch, I’m Madonna e Living For Love tenham toquem muito no Spotify. (uk.complex.com)

Não mande Madonna parar!

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Nesta semana, os Céus se abriram e nos deram um novo clipe da Madonna através do Snapchat. Na última década, vimos a cantora da forma mais efêmera e boba. Apesar de momentos de grandeza inegável (lembram-se da apresentação no Superbowl?) e relativo sucesso comercial, os álbuns Hard Candy e MDNA foram considerados fracos não apenas pelos críticos, mas também pelos mais ardorosos fãs.

Não dá pra negar que são grandes álbuns. O enorme sucesso de Blurred Lines prova que, por mais ínfimos que sejam, as batidas e ondas de Hard Candy chegaram cinco anos mais cedo. Mas a “hora certa”, assim como o vazamento de Rebel Heart, nem sempre esteve do lado da Rainha.

É isto que faz o lançamento do clipe ser um sucesso estrondoso. Desde Confessions On A Dancefloor, as rádios ignoram as músicas de Madonna – não importa o quão bem-sucedido ou inovador um álbum ou turnê seja, ela foi isolada como algo diferente, algo inferior ao produto “comercial”. Para ela, ter sido rebaixada a esta fase de “legado” seria menos insultante se ela fizesse música merecedora de estar neste “legado”, mas não foi o que aconteceu. Ou não exatamente.

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Clipe de LIVING FOR LOVE é o melhor trabalho de Madonna em 10 anos

Madonna - Living For Love videoclipe

Madonna lançou o clipe de Living For Love pelo programa Snapchat hoje à tarde, se aproximando do lançamento (oficial) do 13º álbum de estúdio, intitulado Rebel Heart, no dia 10 de março.

O clipe traz Madonna brincando de “matadora” com vários homens vestidos de touros em uma arena vermelha que brilha como um Moulin Rouge latino. As imagens combinam com a faixa, aplaudida por muitos quando chegou ao iTunes em dezembro do ano passado. Para uma canção que carrega a tocha de Express Yourself, a cantora veste uma malha reminiscente do icônico clipe Hung Up, de 2005, e emerge vitoriosa em meio a um exército que não tem a menor chance contra uma guerreira que “pegou a coroa e pôs de volta na cabeça” – um sentimento especialmente forte, perante aos múltiplos vazamentos que tomaram conta das músicas novas.

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Por que Bedtime Stories, é o mais importante de Madonna?

MADONNA BEDTIME STORIES CD

Durante toda a carreira musical de Madonna, ela já enfrentou implacáveis críticas por sua sexualidade. Talvez, ela seja o alvo mais consistente na indústria da música por mais de 30 anos, sendo que críticas ao seu trabalho sempre serviram de manual sobre como analisar mulheres em cada estágio da carreira. Não importa se foi pura especulação o fato dela não ser “como uma virgem” ou a punição ao corpo ao vestir uma malha daquelas, houve muitos momentos vergonhosos, apesar de uma verdade absoluta: ela exagera mesmo!

É por isso que o álbum Bedtime Stories, mesmo no 20º aniversário, permanece como o trabalho mais importante. Durante meses após o lançamento, ele foi vendido como um pedido de desculpas pelo comportamento sexual; e os críticos esperaram que fosse o retorno dela à inocência. Ao invés disso, ela ofereceu um conteúdo do tipo #desculpamasnaoestouarrependida e uma resposta ao problema das cantoras serem analisadas por sua sexualidade, ao invés da música. Como resultado das preocupações morais do público, o álbum se tornou o mais importante, abrindo caminho para a forma dos artistas lidarem com a vida sexual.

Em 1992, Madonna lançou Erotica, um álbum techno-conceitual e uma ode à servidão sexual, juntamente com o livro Sex, um catálogo fotográfico pornô com fotos dela e de seus amigos. Os lançamentos coincidentes resultaram em várias críticas negativas e na proibição de vendas em vários países, além da proibição de entrar no Vaticano. Madonna já se estabelecera como ícone, mas as letras honestas sobre masoquismo e as fotos explícitas publicadas incitaram a mais pesada raiva do público de sua carreira. Bedtime Stories nasceu para ser sua última chance de redenção, e a gravadora Warner concordou em produzi-lo sob a proteção de uma imagem menos provocativa.

Tanto a gravadora quanto sua assessora de imprensa Liz Rosenberg fizeram de tudo para reverter o dano causado pelos projetos anteriores de Madonna. Eles a fizeram lançar o single I’ll Remember, da trilha-sonora do filme Com Mérito para criar um sucesso “familiar” e aumentar a especulação de que Bedtime Stories traria seu pedido de desculpas. O vídeo-promocional do álbum prometia que “não haveria referências sexuais” e ainda trazia Madonna afirmando: “Sou eu completamente nova! Serei uma boa menina, eu juro!”.

A humilhação de Madonna foi construída em duas partes. Primeiramente, ela foi desprezada por sua sexualidade, pra depois cair na escuridão. Por ter eleito o sexo como seu produto, o vídeo fez todos se perguntarem sobre o quê ela cantaria, se o tema não fosse sexo. As especulações sobre o álbum se focaram no plano de fuga dela por se tornar irrelevante, na questão dela fazer cirurgias plásticas e o quê ela ofereceria como uma versão “mais velha” de si mesma.

“Quando se é uma celebridade, você tem permissão para ter uma característica de personalidade, o que é ridículo”, contou Madonna ao jornal Detroit News em 1993. Quando Bedtime Stories foi finalmente lançado, no dia 25 de outubro, ela falou sobre ambos os aspectos de sua humilhação pública. Apesar das promessas feitas em vídeo, ela continuou abordando os seus desejos sexuais, embora também tenha experimentado com o som e o tema. Começando com Survival, uma canção co-escrita com Dallas Austin, Madonna não hesitou em falar dos ataques e cantou: “Nunca serei um anjo / Nunca serei santa, claro / Estou muito ocupada sobrevivendo”. As letras continuam expressando uma narrativa tensa sobre o castigo que a mídia lhe impôs e seus sentimentos logo após, e as canções carregam melodias do R&B, em sua maioria produzidas por Austin, Nellee Hooper e Babyface.

O single definitivo do álbum é uma censura explícita às críticas. Em Human Nature, ela confirma que não está arrependida e que não é a “puta” de ninguém, além de perfeitamente combinar a canção com um clipe, no qual aparecem brinquedos que reminiscem a época de Erotica. Logo quando ela vai soltar o microfone, ela sussurra: “Ficaria melhor se eu fosse um homem?”.

Madonna afirmou a sua falta de remorsos por não ter dito ou feito nada incomum; só foi estranho porque foi uma mulher dizendo tudo. Em entrevista ao jornal LA Times, ela defendeu o álbum Bedtime Stories dizendo: “Estou sendo punida por ser uma mulher solteira, por ser poderosa e rica, e por dizer o que penso, por ser uma criatura sexual – na verdade, não sou diferente de ninguém, mas falo sobre tudo isso. Se eu fosse homem, não teria nenhum desses problemas. Ninguém fala da vida sexual do Prince”.

Além de mostrar a palavra final de Madonna a respeito do escândalo de sua sexualidade, o álbum gira em torno da concepção errada de que sua persona sexual limitou a versatilidade da artista. A narrativa do álbum se torna imediatamente introspectiva: “Sei rir / mas não conheço a felicidade”. Enquanto Bedtime Stories pega emprestado muito do R&B e do ritmo New Jack Swing (muito utilizado também por Michael Jackson no álbum Dangerous), ele se torna mais experimental com a faixa composta por Björk, acompanhada do clipe que só poderia ter explorado o inconsciente coletivo de forma melhor se fosse dirigido pelo próprio Carl Jung. O clipe de Bedtime Story é o primeiro exemplo do que a longa história de questionamentos espirituais de Madonna se tornaria. E mais, até hoje, ele está armazenado em uma coleção do Museu de Arte Moderna.

O par Human Nature e Bedtime Story prova que Madonna assumiu sua sexualidade e não seria ocultada por ela. Enquanto o primeiro abraça as decisões feitas nos álbuns anteriores, o segundo desmonta a narrativa “vagabunda” de que sua sexualidade pública tira o crédito de sua profundidade como artista. É claro que as pessoas veriam isto como uma obra-prima feminina, não é?

Mesmo assim, os críticos não entenderam. O jornalista Jon Pareles, do New York Times, caiu na nostalgia, citando a época em que “Madonna prosperou nos anos 80 por ser sensacional e sugestiva, contra uma cena cultural monótona”, e chamou o trabalho mais recente dela de “vulgar, ao invés de chocante”.

As críticas mantiveram o foco no escândalo da atitude dela, ao invés de estar no próprio disco. “A carreira de Madonna nunca foi realmente musical, mas, sim, sobre provocações, sobre imagens, sobre publicidade”, lia-se em uma crítica da revista TIME, sem nenhuma originalidade. Qualquer menção ao som experimental do álbum ou às várias colaborações foram ocultas pela imagem promíscua, que foi, mais uma vez, rebaixada. Bedtime Stories, o álbum, não foi o pedido de desculpas que o público exigiu, e sua profundidade emocional foi amplamente ignorada. Em seu melhor, foi considerado o retorno de Madonna a uma expressão mais segura de sexualidade.

Alguns reviews da imprensa sobre a performance de Madonna na noite do Grammy

Alguns reviews da imprensa sobre performance de Madonna na noite do Grammy no último domingo 26.

MACKLEMORE & RYAN LEWIS, MADONNA, QUEEN LATIFAH

madonna - grammy 2014 - same love open your heart2O Grammy é o evento no qual artistas lutam para agradar a todos. Porém, apesar de saber muito bem que o tema “Casamento Gay” ainda provoca debates quentes pelo país, Macklemore & Ryan Lewis apresentaram Same Love com orgulho e compromisso, perante 33 casais gays e héteros. Não foi apenas uma performance, foi uma afirmação. Gay ou hétero, quem não gostaria de ter Madonna cantando Open Your Heart no casamento?
New York Post

Macklemore & Ryan Lewis — A dupla fez história com a performance do sucesso Same Love. Enquanto a autora do refrão, assumidamente gay, Mary Lambert, cantou a parte principal, 33 casais de verdade – alguns héteros, outros gays – trocaram alianças em um casamento diferente. Durante a cerimônia, a estrela Madonna trabalhou seu antigo sucesso Open Your Heart. Como antiga apoiadora dos direitos gays, ela foi muito apropriada.
New York Daily News

A multidão de casais trocou alianças ao mesmo tempo que a cantora os declarou casados, com Madonna trazendo seu clássico Open Your Heart. A ‘Material Girl’ vestiu um terno Ralph Lauren para a grande performance, depois de usar um dramático smoking preto no tapete.
Hollywood Reporter

Madonna pode até ser controversa às vezes, mas provou estar no lugar certo, ao usar um chapéu de caubói no Grammy deste ano, para cantar o sucesso Open Your Heart, no estilo gospel, como trilha sonora de 33 casamentos, ao vivo na arena.
Huffington Post UK

Mesmo não tendo ganhado nenhum Grammy, Lamar ganhou a noite – sua colaboração com Imagine Dragons foi eletrizante. A performance mais emocionante e mais chocante do que Queen Latifah e Madonna, com um visual curiosamente geriátrico, no meio de uma multidão de 33 casais gays e héteros. Foi um sentimento de alucinação em massa, mas os casamentos – uma conclusão à performance de Macklemore do hino gay Same Love – foram aparentemente legítimos.
Guardian

A performance, que aconteceu quase no fim do show, foi um dos momentos mais sentimentais da noite. “Esta canção fala de amor, não para alguns de nós, mas para todos nós”, disse Latifah antes de apresentar Macklemore e Lewis. Daí, o rapper revelou a faixa no estilo gospel, com uma atmosfera de igreja.
MTV

Macklemore & Ryan Lewis levaram seu sucesso emocionante Same Love a um novo patamar no último domingo, quando se uniram no palco para uma performance, juntamente com Mary Lambert, Queen Latifah e Madonna. Se esse time não fosse suficiente, 33 casais gays, lésbicos e héteros se casaram simultaneamente, sob o comando de Latifah. Katy Perry pegou um buquê, enquanto os recém-casados recebiam aplausos, e Keith Urban secava as lágrimas.
NBC

Uma colaboração lendária aconteceu no Grammy de 2014, ao ar do Staples Center em Los Angeles, no último domingo. O ícone pop Madonna subiu ao palco com os rappers Macklemore & Ryan Lewis, e a cantora Mary Lambert para cantar o hino de igualdade Same Love.
US Magazine

Madonna surpreendeu a multidão do Staples Center ao se unir a Macklemore & Ryan Lewis para uma apresentação emocionante de Same Love, que apresentou Queen Latifah casando 33 casais gays, héteros, jovens e velhos durante a música.
Forbes

E se não fosse suficiente para fazer nossos corações chorarem, lá veio ninguém menos do que Madonna para abençoar a cerimônia. A Poderosa M vestiu um terno todo branco e um chapéu de cauboi, parecendo o anjo mais andrógino do Paraíso, para cantar uma versão do clássico Open Your Heart, com o arranjo da marcha nupcial, enquanto um coral gospel fazia os vocais de fundo, antes de se unir a Lambert para um trecho de Same Love.
Queerty

O momento que parou a 56ª edição do Grammy foi o casamento ao vivo de 33 casais, gays e héteros, que se uniram durante uma performance de Same Love, o hino do casamento gay de Macklemore & Ryan Lewis. Queen Latifah oficializou a cerimônia, enquanto Madonna se uniu à multidão no palco para Same Love e um trecho de Open Your Heart. O momento marcou uma afirmação política para todos os presentes, além de ser uma causa com amplo apoio em toda a indústria do entretenimento.
Variety

Eles não vivem (só) de aplausos - O Globo

Madonna no Grammy 2014 cantando Open Your Heart e Same Love

A expectativa em torno da apresentação de Madonna na noite do Grammy era a mesma que sempre a envolve toda vez que decide sair de casa. Para os fãs, uma nova chance de vê-la em ação. Para os detratores, mais uma oportunidade para atacar os pontos fracos que ela dribla há 30 anos. Para a indústria, registradoras a tilintar, indiretamente.

Especulou-se muito como seria a apresentação, a aproximação com Beyoncé nas últimas semanas levantou possibilidades mirabolantes mas no final das contas ela fez uma participação no casamento coletivo que há muito já estava nos planos do rapper Macklemore em liderar. Por conta da faixa “Same love”, em que rapper levanta a bola do respeito às diferenças, ter se tornado um hino LGBT nos EUA, o rapaz de Seattle que se apresenta ao lado do produtor Ryan Lewis decidiu reunir os 30 casais para a tal cerimônia. Os casais que responderam ao chamado de Macklemore só souberam na última semana que tudo rolaria no Grammy e que teriam como cantora de casamento ninguém menos do que a diva herself.

A cena foi emocionante. Os primeiros versos de “Same love” já derretem os corações mais duros. LEIA A TRADUÇÃO DA LETRA AQUI. A apresentação de Queen Latifah deu o tom de que viria ali um verdadeiro manifesto político, em rede global, para incomodar de Putin aos presidentes africanos, religiosos tacanhos e conservadores defensores do ódio ao outro. “Música une as pessoas… vamos ouvir a música que diz “seja lá qual for o seu Deus, saiba que todos viemos do mesmo… livre-se do medo, porque debaixo dele tem o amor”, disse a cantora e atriz.

Ao fim da música de Macklemore, Queen Latifah voltou à cena e pediu que os casais trocassem alianças, os declarou casados. Foi quando Madonna entrou no palco, de roupa de cowboy branco, uma bengalinha afinada ao look mas certamente ainda funcionando como apoio por conta do problema no tornozelo nas férias (até semana passada ela estava com muletas) de fim de ano. A diva cantou trechos de “Open your heart” e encerrou com versos de “Same love”.

Corta para a audiência. Keith Urban tem lágrimas escorrendo, bem como Katy Perry, que sorria largamente de tão emocionada. Beyoncé tentando ver alguma coisa que Jay Z apontava, e muita, muita gente comovida. Entre os casais, a própria irmã do Macklemore, que se casou com o namorado.

E qual a importância disso hoje em dia? Dá uma geral no noticiário que você vai entender. O mundo está andando para trás e isso não é uma coisa boa. Como já dito antes, é crime ser gay em alguns paises, como na Rússia e em alguns países africanos. Até na França já se sente um movimento forte de homofobia. No Brasil, as estatísticas são assustadoras. O mundo está intolerante e a intolerância está, assustadoramente se tornando normal em alguns segmentos. Os artistas sensíveis estão percebendo isso e tentando fazer alguma coisa a respeito. Alguns deles, felizmente, não vivem apenas para o aplauso.

Crítica: Secret Project Revolution, por Madonna & Steven Klein

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E finalmente foi lançando esta semana o tão esperado Secret Project de Madonna e Steven Klein.

Desde o ano passado, quando rodou o mundo e fez 88 apresentações de sua MDNA Tour, considerada a segunda turnê feminina mais lucrativa da história, perdendo apenas para a Sticky and Sweet Tour da própria Madonna, realizada entre 2008 e 2009, os fãs de Madonna se perguntavam incessantemente: o que será que ela teria feito quando se trancou em um galpão em Buenos Aires, em dezembro, com Steven Klein e toda sua equipe de dançarinos? Seria um novo video clip? Seria uma sessão de fotos? Participariam outros artistas? Não se sabia de nada. E por isso o projeto ficou conhecido como Secret Project.

Marketeira de mão cheia, Madonna se aproveitou disso e começou a divulgar nas redes sociais e na Internet algumas pistas para provocar maior alvoroço. Uma foto onde o nome de Rihanna aparece causou rebuliço. Lady Gaga e ela trabalhando juntas? Pequenos trailers teasers lançados e o rebuliço continuava. Programado inicialmente para maio, na data lançada milhares ficaram prostrados esperando na rede e… nada! Chegaram a brincar que de tão secreto este projeto deveria nem existir! Provocações dela mesma vieram quando recebeu o Billboard Award este ano, quando disse que estava prestes a começar uma revolução: a revolução do amor.

Até que quando da divulgação do DVD da referida tour, também lançado agora em setembro, as coisas começaram a tomar forma e nesta última terça-feira foi jogado na rede o filmete de 17 minutos chamado Secret Project Revolution.

Não era um ensaio fotográfico e nem um video clipe. O filme, em preto e branco, mostra cenas de opressão, de tortura, de massacre. Não é realmente muito agradável ver Madonna com uma arma na mão atirando em seus companheiros e, depois fazendo o papel de uma encarcerada, presa em uma cela e sendo torturada. Mas tudo isso é uma metáfora. Madonna está pregando a liberdade. A liberdade de expressão, a liberdade do ser, a liberdade em geral. No decorrer do filme, falas de seus discursos politizados, feitos durante a MDNA Tour são ouvidos, e uma narração em off explica o porque daquele projeto e o objetivo do mesmo.

” Essa revolução superará todo o medo, todo o sofrimento, e toda separação. E incluirá todas as pessoas: negros, brancos, cristãos, chineses, muçulmanos, judeus, gays, heteros, bissexuais, gordos, incapacitados, ricos, pobres, artistas e autistas. (…) Estamos juntos neste navio, navegando como um arpão incandescente no mar.” – diz Madonna em um dos trechos.

Ou ainda:
” Eu sinto que as pessoas estão ficando cada vez mais amedrontadas por aqueles que são diferentes. As pessoas estão ficando cada vez mais intolerantes. Nós queremos lutar pelo direito de sermos livres. Este é um momento muito sério onde nós podemos fazer a diferença, nós podemos mudar isso. Nós temos o poder. E nós não precisamos fazer isso com violência. Apenas temos que fazer isso com amor.”

As cenas de tortura, em especial, me remeteram a cenas de filmes sobre o período da ditadura militar na América do Sul, em especial a um filme chamado Garage Olimpo, que me causou a mesma sensação de sufocamento quando o assisti, ou nosso Olga. Impossível não ser remetido à cenas de filmes sobre o nazismo, como o célebre A Lista de Schindler, onde a personagem de Ralph Fiennes atira aleatoriamente em judeus no campo de concentração. Quando não aprendemos com a história ela acaba se repetindo, diz Madonna em um trecho, e é isto que está acontecendo.

Lembrando que ano passado, enquanto ela fazia sua turnê, ela se envolveu ativamente no caso da banda russa Pussy Riot que foi presa por se expressar contra o governo de Putin. Aconteceu também o caso de Malala Yousafzai, estudante, ativista e blogueira paquistanesa que foi alvejada dentro de um ônibus escolar por defender os direitos das garotas paquistanesas de estudarem.

Madonna provoca mais uma vez, instiga as pessoas a pensarem, usa sua arte como voz ativa dos oprimidos e prega a liberdade em todos os aspectos. Muitos, como sempre, vão torcer o nariz e falar que isso não passa de demagogia da parte dela. Outros, não só fãs e afins, vão se engajar no projeto e dar mais voz ainda ao mesmo. O importante aqui é a capacidade do curta de chacoalhar, de fazer pensar em quão robotizada, mecânica e manipulável a sociedade está se tornando com seus gadjets, iPhones, iPods e tantas outras coisas que de certa forma também oprimem, pois faz com que as pessoas parem de pensar e acabem se sucumbindo ao que lhes é entregue de maneira pacífica. Enquanto houver pessoas que pregam o ódio contra as diferenças, como os políticos brasileiros cujos nomes não irei citar, e incitam a violência contra quem eles consideram escória, teremos muitas sementes de ditadores como Hitlers e Mussolinis espalhados pelo mundo e a história corre sim o risco de se repetir.

Trazendo o tema para a realidade brasileira, a bandalheira e baderneira que ocorre em nosso país atualmente, junto com a falta de punição, é também uma forma de opressão. É também uma forma de pegar a arma metafórica de Madonna no vídeo e sair atirando aleatoriamente. É uma forma de encarceramento. O que houve com todos os protestos e manifestações realizados este ano? Cessaram?

Penso que artistas não são demagogos quando levantam essas questões. É mais do que obrigação de quem faz e promove arte se engajar ativamente e cutucar a ferida, como Madonna faz e sempre fez. Não precisam ser fã dela ou concordar com tudo que ela faz. Somente tomem um tempo, 17 minutos, para ouvir o que ela tem a dizer.

Vale a pena. O vídeo do Secret Project está disponível abaixo.

Are you with her?

Resenha de Gustavo Espeschit (Clube do Cinema).