Apesar dos críticos que insistem pra ela desistir de tudo, Madonna está determinada a dominar a cultura social mais uma vez. Ela está nas manchetes e, pela primeira vez em dois anos, o tema da conversa é a música.
Nas últimas semanas, várias demos das novas canções caíram na rede, forçando Madonna a pensar logo na próxima jogada. Numa decisão aparentemente desesperada, ela concluiu seis faixas e as disponibilizou para download no dia 20 de dezembro de 2014, além de anunciar que o 13º álbum de estúdio, Rebel Heart, agendado para lançamento apenas em 10 de março de 2015, viria com mais 13 faixas.
Cada lançamento de Madonna é tido como algo de alto padrão por críticos profissionais e fãs mais ardorosos. Por bem ou mal, a Rainha do Pop tem um legado impressionante a manter, e não é suficiente pra ela lançar um bom álbum Pop. Ela deve lançar o melhor álbum toda vez, ou seja, cada lançamento deve ditar moda e ser icônico. É por isso que os críticos e fãs não gostaram de Hard Candy (2008) e MDNA (2012). Para outros artistas como Britney Spears ou Katy Perry, estes seriam álbuns sólidos, mas, para Madonna, foram tentativas chatas de apelar ao grande público. Obviamente, não é justo, e tantas expectativas tão altas ignoram o fato de que até mesmo o trabalho mais fraco de Madonna é significantemente mais interessante do que o pop contemporâneo. Porém, é melhor isso do que aceitar tudo que ela faz simplesmente por levar o nome dela.
Ao contrário dos Little Monsters, dos Swifties e dos Arianators, os fãs de Madonna não têm medo de dizer quando ela precisa se esforçar mais, e não a defendem apenas por gostarem dela. Quando ela lançou Give Me All Your Luvin’ como primeiro single do álbum MDNA, por exemplo, os fãs a desdenharam, e a grande maioria não conteve a decepção. “Como uma artista premiê da música Pop produz um single banal e estúpido?”, pensaram eles. Tal preguiça não seria tolerada.
Se o vazamento de Rebel Heart terá impacto nas vendas da primeira semana ou não, os fãs de Madonna podem descansar, sabendo que será o melhor álbum dela desde Confessions On A Dancefloor (2005), se não melhor. Há um sentimento de alívio e respeito por ela desta vez.
A primeira faixa, Living For Love, é a mais alegre desde Express Yourself, e nos mostra por quê Madonna ainda é importante hoje. A produção, inspirada na batida House dos anos 90, é audível instantaneamente, e a letra inspiradora se encaixa na obsessão do Pop contemporâneo com otimismo e autoajuda. Como as faixas Shake It Off, da Taylor Swift; Break Free, da Ariana Grande; e Roar, da Katy Perry, Living For Love é um hino de sobrevivência. Entretanto, ao contrário dos outros grandes artistas, Madonna já viveu o suficiente para ser uma sobrevivente, o que faz a canção dela ser mais poderosa e emocionante.
Devil Pray é a segunda faixa, e lembra a Madonna mais introspectiva de Ray Of Light (1998) e American Life (2003). A canção traz Madonna em busca da salvação, e é confusa e linda ao mesmo tempo. A faixa 3, Ghosttown, também é introspectiva, e é, discutivelmente, a canção de amor mais sombria da carreira dela.
Embora fãs e críticos são unânimes em elogios às primeiras três faixas, as outras três – Unapologetic Bitch, Illuminati e Bitch, I’m Madonna – dividem opiniões. Uns admiram a audácia de Madonna em se divertir, enquanto outros acham que ela está velha demais pra cantar sobre farras. Alguns apreciam a habilidade de Madonna de experimentar sons atuais, enquanto outros queriam que ela parasse de tanto tentar permanecer relevante.
Apesar das críticas negativas, é impossível não admirar a bravura de Madonna. Em uma época em que a música Pop está saturada de jovens em seus vinte e poucos anos, a veterana de 56 assume um grande risco sempre que volta pra recuperar o trono. Ela se arrisca a isolar os fãs mais antigos, assim como se separar da geração mais jovem que não se familiariza com a personalidade mais agressiva dela. De certa forma, ela lembra o cineasta Jean-Luc Godard, que, aos 84 anos, decidiu lançar o primeiro filme digital em 3D, Goodbye To Language, em 2014. Apesar dos críticos que insistem pra ela desistir de tudo, Madonna está determinada a dominar a cultura social mais uma vez.
O fato dela ter sido bem-sucedida, pelo menos por ora, é uma conquista impressionante, e questiona a significância das vendas na era digital. Uma artista como Madonna não precisa de um sucesso #1 da mesma forma que Taylor Swift e, neste momento da carreira, ela parece estar mais interessada na qualidade da música do que em qualquer outra coisa. Ao invés de perseguir o topo das paradas como fez com Hard Candy e MDNA, Madonna finalmente parece perceber que o panorama da cultura Pop que ela dominou nos anos 80, 90 e no início do ano 2000, mudou drasticamente. Tais mudanças a liberaram e a inspiraram a fazer a música mais pessoal e coesa da carreira.
A ideia do legado de um artista merece contemplação, especialmente quando ícones como Madonna continuam criando. Como devemos medir o novo álbum de Madonna, e de que maneiras ele pode influenciar a reputação dela? As vendas da primeira semana e a quantidade de singles no Top 10 realmente importam? E as críticas positivas dos especialistas e dos fãs? Qual a importância da qualidade?
Talvez, nada disso importe, a menos que o artista entre no debate, o que Madonna segue fazendo com cada lançamento. Sempre que alguém opina a respeito dela, de forma positiva ou negativa, eles reforçam a relevância dela. Usuários de redes sociais em todo o mundo se juntaram à discussão após o lançamento-surpresa das seis canções supracitadas, uns comemorando o retorno dela, e outros condenando a carreira toda. De qualquer forma, todos se importam o suficiente para opinarem.
Quando a poeira baixar, Rebel Heart será citado como um dos melhores álbuns de Madonna, e fãs e críticos elogiarão o retorno dela à forma. Entretanto, como todos sabemos, os debates nunca foram apenas sobre música, e, mais do que tudo, Rebel Heart mostra que ela ainda é a artista mais comentada do mundo. (PopMatters)