Nesta semana, os Céus se abriram e nos deram um novo clipe da Madonna através do Snapchat. Na última década, vimos a cantora da forma mais efêmera e boba. Apesar de momentos de grandeza inegável (lembram-se da apresentação no Superbowl?) e relativo sucesso comercial, os álbuns Hard Candy e MDNA foram considerados fracos não apenas pelos críticos, mas também pelos mais ardorosos fãs.
Não dá pra negar que são grandes álbuns. O enorme sucesso de Blurred Lines prova que, por mais ínfimos que sejam, as batidas e ondas de Hard Candy chegaram cinco anos mais cedo. Mas a “hora certa”, assim como o vazamento de Rebel Heart, nem sempre esteve do lado da Rainha.
É isto que faz o lançamento do clipe ser um sucesso estrondoso. Desde Confessions On A Dancefloor, as rádios ignoram as músicas de Madonna – não importa o quão bem-sucedido ou inovador um álbum ou turnê seja, ela foi isolada como algo diferente, algo inferior ao produto “comercial”. Para ela, ter sido rebaixada a esta fase de “legado” seria menos insultante se ela fizesse música merecedora de estar neste “legado”, mas não foi o que aconteceu. Ou não exatamente.
Living For Love é a melhor canção lançada por Madonna desde 2005. O clipe, que a apresenta como uma Matadora no estilo Take A Bow, lutando contra minotauros, ou cortejando-os, ou ambos, é excepcional de várias formas. Apesar da edição rápida, a fluidez das câmeras nos mostra Madonna em sua melhor forma física. Esta é a lendária Madonna, não a real, que vemos cometer gafes no Instagram.
Está tudo lá: os gestos imaculados, os giros… Foi um momento no qual, como sugere a letra de Living For Love, Madonna pegou a coroa de volta e a colocou na cabeça. Ela não é a mesma, como muitos a acusaram recentemente.
É difícil entender a ação de alguns blogs “feministas” como Jezebel premiarem uma das mulheres mais importantes do último século, opinando que ela está desesperadamente se agarrando à juventude. Ou pior, mandando-a “parar”. Não, não façam isso! Por favor, não! Nunca mandem Madonna parar.
No clipe, Madonna domina uma sala cheia de homens, não com uma rejeição Pop delicada, mas com convicção e força palpáveis. O olhar dela é insensível e confiante como sempre foi, enquanto ela voa e aniquila os ex-amantes: Guy, Sean, Warren, Jesus. Devemos acreditar que todos estão lá, representados. O contexto feminista não é uma agulha no palheiro. É o palheiro todo!
Os maiores adversários de Madonna vivem sob instituições que ela ajudou a construir: homens gays traiçoeiros que preferem os mais novos, divas Pop que não se põem em seu lugar, páginas de fofoca que negociam pela marca da celebridade Madonna, e feministas que mergulham teimosamente na importância de Madonna.
É preciso acreditar que qualquer um com a audácia de mandar Madonna parar dormiu durante as primeiras três décadas da carreira dela. Toda a premissa da “empresa Madonna” é que ela é uma força invencível, que fará o que quiser sem se render às críticas. Os fãs estão sempre defendendo-a, mesmo frustrando-se: às vezes é fácil; outras, é um desafio. Porém, não é um momento difícil para defender Madonna. Não é um ritmo difícil de seguir.
Os fãs sempre contam histórias de como Madonna os faz se sentirem fortes quando estão fracos, como a rebeldia dela frente às críticas fez os fãs não se importarem com as suas próprias. Pode-se dizer que Madonna ajudou muitos fãs a se assumirem, que as músicas e apresentações foram experiências transcendentes na vida de todos. Fala-se muito sobre envelhecimento e sexismo, mas este novo clipe foge disso tudo.
Em suma, os mais recentes álbuns de Madonna foram descritos como “espertos”. No clipe novo, Madonna não está sendo esperta. Madonna está sendo Madonna.