Comentário faixa a faixa de MDNA
Por Neil McCormick do The Telegraph
O novo album de Madonna, MDNA, foi mostrado para os críticos britânicos nesta sexta em uma audição especial nos estúdios de Abbey Road em Londres. Neil McCormick estava lá. Aqui está um comentário faixa a faixa. MDNA será lançado mundialmente no dia 27 de março.
1) Girl Gone Wild
Uma batida seca, com sequências pesadas e ao mesmo tempo suaves conduzem Madonna ao caminho que ela quer seguir – como a máquina precisa do techno pop do século 21, fazendo um contra balanço entre o que as rádios querem com o frenesi das pistas de dança. “As garotas só querem se divertir”, diz a nossa líder sem medo algum.
Mas onde será que já ouvimos isso antes? Esta noção não é particularmente original, é o manifesto central do álbum: diversão inocente e introspecção.
2) Gang Bang
Apesar do título da música, que os jovens fãs serão advertidos a não jogarem no Google para não saberem seu real significado, esta não é ( ainda bem ) uma música com rompante sexual brutal. O título é uma tentativa mal sucedida de dinstinguir a música de uma outra muito popular nos anos 60 chamada Bang Bang de onde Madonna toma emprestada a imagem central de alguém que assassina o amante. Bang Bang, te matei. Dei um tiro na cabeça de meu amante. Esparsa e atmosférica, com uma batida de fundo descascada, vocais lentos, apoiados por estalos de um sub-baixo que vai se desenvolvendo em uma batida techno groove sólida, esta é uma das faixas mais bizarras e interessantes do álbum, apenas manchada pela dedicação intensa de Madonna de não deixar os clichês da letra passarem desapercebidos. Aparentemente ela está como um peixe fora d´água ou como um morcego fora da caverna.
3) I´m Addicted
Arpejos de sintetizadores se transformam em sequenciais eloquentes marcados e efervescentes que criam sons estridentes por toda a faixa. Um pop digital eficiente que vai soar fantástico nas altas pistas de dança, mas, como muitas das músicas deste 12º álbum de estúdio de Madonna, vai parecer óbvio que as letras foram incluídas na canção posteriormente. Alguém realmente precisa de outra música sobre ser viciado em amor, comparando o efervecer dos hormônios aos narcóticos? O vocal é cortado e gago, de forma que Madonna repetidamente declara ser a dick, a dick. ( Nota da tradução: dick aqui se refere ao órgão sexual masculino sendo a expressão a dick cacofônica com o título da música e à palavra addicted.)
4) Turn Up The Radio
Mesmo na era da Internet, ainda é o rádio que encanta a nossa rainha do pop de 53 anos. Teclados reluzentes e rebuscados emolduram um início lento, com Madonna procurando espaço na multidão (ou melhor, numa tentativa de se usar todos os clichês disponíveis, ela cita “the maddening crowd” – a multidão enlouquecida – mas fazendo trocadilho com seu nome) antes que um sintetizador agradável, mas frouxo, lançar um pop mais sólido. Madonna se sente “sugada como uma mariposa pela chama”, mas o efeito da música na pista de dança com certeza deve distrair seus ouvintes da banalidade da letra.
5) Give Me All Your Luvin’
Seria a maneira de grafar o título uma forma de distinguir essa canção de outra do ZZ Tops chamada Gimme All Your Loving nos mecanimos de busca? As tentativas seriadas de apropriação de coisas alheias pela parte de Madonna podem levemente passar por algum tipo de jogo de conhecimentos musicais a ser jogado em qualquer sala de estar com um aparelho de som.
O primeiro single do álbum é a mais leve e mais superficial faixa do álbum, propositalmente bonitinha e curta, contruída com sintetizadores frenéticos estilo anos 80 e uma batida constante. O seu objetivo central parecer ser envolver Nicky Minaj e M.I.A como representantes da próxima geração de cantoras pop em um coro que faz juramentos de fidelidade e lealdade à rainha do pop, dizendo: “L-U-V Madonna”.
6) Some Girls
Vamos dar à Madonna o benefício da dúvida e presumir que ela não sabia que os Rolling Stones já haviam lançado uma música chamada Some Girls. De qualquer forma, você nunca veria Mick e Keith fazendo uma canção com um groove meio tempo em uma linha de baixo totalmente electro e com sintetizadores. O produtor Willian Orbit brinca com os vocais de Madonna levando-o do intimista até o ecoado, do tímido ao sedutor, mas a intenção aparentemente não é a de retratar Madonna como qualquer tipo de mulher: “Algumas garotas não são como eu. Eu nunca quis ser como algumas garotas.”, declara Madonna na letra.
7) Superstar
Doce e quente, um ambiente cintilante se controi de um loop de guitarra redondo até um ecoante tum Tum que deve ter sido feito com base nos arranjos de bateria dos Beatles. A melodia pegajosa e os “ ohh la la, você é uma superstar” do refrão que o convida a cantar junto constrói uma letra tão desastrosa que sua estupidez soa como proposital. “Você pode ter a senha do meu telefone. Te mandarei uma mensagem quando chegar em casa.” Para alguém determinada a se conectar com as crianças, as referências retrô de Madonna ao homem ideal são de deixar qualquer jovenzinho desnorteado: Brando, Travolta, James Dean, Bruce Le e Abe Lincoln (porque você luta pelo que é correto.)
8) I Don´t Give A
Tem uma certa energia essa produção de Martin Solveig. Madonna levanta o dedo médio para o mundo em geral e para o ex-marido Guy Ritchie em particular. “Tentei ser uma boa moça. Tentei ser sua esposa. Eu me diminuí e engoli toda minha luz. Eu tentei ser tudo que você esperava de mim. E se isso foi um fracasso, eu não dou a mínima.” (eu tentei pensar em um obscenidade que rimasse com “me”, mas talvez eu não tenha entendido o contexto . O final se mistura com um enorme coral com o drama de Carmina Burana. Um destaque no álbum, embora o rap explosivo de Niki Minaj mostra a mensagem mais estática de Madonna.
9) I´m a Sinner
Com Orbit de volta ao controle, isso é uma reminiscência da eloquência de Ray of Light. Contruida em cima de um loop de bateria, ela pulsa junto com um teclado fluido quase anos 60, evoluindo para um grande e declarado coral techno gospel, com Madonna extenuantemente declarando que, como Santo Agostinho, ela quer ser salva, mas não ainda. A pausa na pregação dos Santos (Critóvão, Sebastião e Antônio, todo têm seus nomes marcados) é eficiente e termina com “ooh ooh’s” reminiscentes de Sympathy for the Devil dos Stones. Divertido.
10) Love Spent
Cordas ciganas tratadas como um banjo Western Spaghetti surgem para introduzir um sentimento quase que orgânico para um álbum muito sintético e estilizado. Uma canção pop sobre amor e dinheiro (tópicos que Madonna frequentemente visita) que se eleva para padrões electro elegantes e um coro pulsante.
11) Masterpiece
Uma canção de amor doce e gentil, com toques de guitarra espanhola, batida leve e melodia fluente, tudo preenchido por cordas sintéticas. A música tema para o seu criticado filme W.E. Ela deveria estar pensando no rei Eduardo VIII quando escreveu: “honestamente não dá para ser divertido ser sempre o escolhido”, mas a mensagem se aplica quase em sua totalidade à própria Madonna. Por todo o álbum ela determinadamente tenta demonstrar que uma mãe de 50 anos, com quatro filhos, ainda pode estar na ativa e se divertir com suas crias na pista de dança. Mas ainda, perversamente, ela soa um pouco suave demais quando acalma um pouco o seu show e age como alguém da sua idade.
12) Falling Free
As primeiras cinco faixas de MDNA foram todas produzidas pelo time do hit techno e os resultados são digitalmente brilhantes, pegajosos e contemporâneos. A segunda parte do álbum é comandada por Willian Orbit e é mais introspectiva e inventiva. Mas somente no encerramento do álbum vemos que existe uma sugestão de que existe vida além da parada de sucessos. Com uma melodia progressiva, sem batidas e poética, desprendida de letra, o vocal puro e sonhador de Madonna a fez declarar como alguém livre para errar. É uma canção sobre se deixar levar, de uma mulher que, na sua totalidade parece estar se agarrando a tudo firmemente. Apesar de um pouco deslocada do resto do álbum, em sua esfuziante juventude focada no eletro pop, ela sugere que Madonna pode, na verdade, ter ainda lugares de musicalidade e sentimentos a serem explorados quando ela tenta, eventualmente se cansar da batida pop.
Obrigado ao amigo Gustavo Espeschit pela tradução.
NÃO DEIXE DE CURTIR A PÁGINA DO MADONNA MADWORLD NO FACEBOOK.