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Madonna: uma rebelde criticada e coagida – Liz Smith

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“Na verdade, o público odeia reconhecer o que lhe é familiar. Todos odeiam serem perturbados e se chocam com surpresas. O pior que pode acontecer a uma peça de arte é não ter culpa de nada, não obrigando o autor a tomar uma atitude de oposição”.

Esta frase é do cineasta, artista, designer e dramaturgo Jean Cocteau, de 1923, que pode ser associada à última controvérsia de Madonna. A capa do novo álbum, Rebel Heart, cujas faixas demo foram roubadas e lançadas na internet, mostra Madonna com cordas pelo rosto, enfatizando sua própria visão de “rebelde”, que tem sido limitada e depreciada. Ela já o fizera, de maneira mais persuasiva, no clipe de Human Nature, alguns anos atrás.

Os fãs, então, montaram imagens “rebeldes” pessoais, enviando fotos de Martin Luther King e Nelson Mandela com cordas nos rostos. Madonna postou os trabalhos e, imediatamente, foi acusada de racismo e, claro, egomania, atrevendo-se a se comparar a King e Mandela.

Madonna é muita coisa, mas racista não, com certeza. Ela já namorou homens afroamericanos e latinos, além de adotar duas crianças africanas do Malawi, David e Mercy. A propósito, filhos esses com quem ela não desfila como “acessórios”, como os críticos insistem que ela fez, à época das adoções.

Egomaníaca? Digamos que ela tem um ego enorme, misturado com um sentimento de vitimização. Tudo isso a faz ser parecida com qualquer outro grande astro. Ela também é surpreendentemente vulnerável, mas apenas com quem a conhece intimamente. E neste mundo de postagens desesperadas no Facebook, Instagram ou Twitter, Madonna tem o mesmo cuidado que centenas de outras pessoas famosas e milhões de cidadãos comuns. Ela já teve que se pronunciar frente a falsos ataques dos críticos, se desculpar por quaisquer ofensas, desmentir acusações de racismo e negar qualquer tipo de comparação com King ou Mandela.

Outros astros que já foram “amarrados” por Madonna incluem a Princesa Diana, Marilyn Monroe, Bob Marley e Jesus. Todos eles, segundo ela, lutaram de verdade, nadando contra a maré.

Alguns fãs de Madonna gostariam que ela confinasse as expressões artísticas no estúdio. Mas por quê? As seis canções que ela foi forçada a lançar, frente ao material roubado, chegaram ao topo do iTunes em 40 países. Ela conseguiu pegar os limões e fazer uma limonada.

Quanto às canções, três delas são realmente lindas e lembram muito a Madonna dos anos 80 e 90 (Ghosttown é emocionante). As outras três são dançantes e com batidas Techno. Mais faixas virão em março.

Madonna deveria ignorar esse tema de auto-referências. Uma das novas faixas se chama Bitch, I’m Madonna. Todos sabem disso, ninguém irá esquecê-la. (Liz Smith)