Munida de sensualidade e provocação e apoiada na melhor tecnologia, a popstar traz ao Brasil a turnê “MNDA”, seu mais ambicioso espetáculo em 30 anos que alimenta o culto à sua própria personalidade
Ao som de sinos, uma imponente catedral é vista nos telões de altíssima definição. Na porta da igreja, uma cruz exibe a sigla MNDA onde comumente se leria INRI, a inscrição em latim que marcou a crucificação de Jesus Cristo. Dessa forma, ao mesmo tempo solene, blasfema e impactante, inicia-se o novo show de Madonna, que chega ao Brasil para quatro apresentações a partir do domingo 2. Sempre fascinada pela iconografia religiosa, a popstar de 54 anos faz do espetáculo o templo de seu próprio culto, marcando três décadas de uma carreira que sempre aponta para o alto – como as formas góticas reveladas pelas imagens. Sua maior turnê em extensão – até se encerrar, no dia 22 de dezembro, terá percorrido 28 países –, MDNA Tour é também a mais ambiciosa em recursos técnicos e visuais. No auge da cultura digital, os shows de rock se transformaram em verdadeiros circos tecnológicos. No caso de Madonna, a performance vai mais longe, já que transporta para o palco todas as possibilidades de um grande musical da Broadway. Ou seja: Madonna está mais uma vez mudando a paisagem do show biz.
“O que conseguimos aqui é o começo de algo novo, grande, que ainda não sabemos aonde vai chegar”, diz o consagrado diretor de vídeos Stefaan “Smasher” Desmedt, conhecido pelos concertos do U2.
Para alcançar esse trunfo, a popstar se cerca dos melhores profissionais do mercado. Ao surpreender os fãs mais uma vez com um visual de tirar o fôlego, a cantora contou com a criatividade de outros pesos-pesados. Seu palco mirabolante, cujos componentes se movem segundo um sofisticado sistema hidráulico e de automação, foi criado pelo maior set designer atual, o arquiteto inglês Mark Fisher. A “ilustração” das canções ficou a cargo da empresa canadense de arte digital Moment Factory, colaboradora habitual do Cirque du Soleil. Não bastasse essa parceria high tech, a direção geral do espetáculo está a cargo de Michel Laprise, do mesmo Cirque. Autor da parte gráfica, tendo participado da criação do vídeo para a música “Justify My Love” (momento em que Madonna dança com o seu atual namorado, o bailarino Brahim Zaibat, de 24 anos), o diretor de arte brasileiro Giovanni Bianco comenta o resultado: “‘MDNA’ é o show de Madonna que tem a melhor tecnologia de vídeo, com uma qualidade visual maravilhosa.”
Trata-se de mais um feito da equipe que concebeu a espetacular apresentação da cantora no Super Bowl, em fevereiro, cuja transmissão ao vivo atingiu a marca de 114 milhões de espectadores. “Nossa equipe concebeu imagens para 12 músicas, incluindo o primeiro ato inteiro e as últimas canções do show”, disse à ISTOÉ Johanna Marsal, produtora da Moment Factory. “Não são projeções, são vídeos exibidos no próprio telão, sem a necessidade de projetores.” Outra novidade revolucionária é o palco móvel. Desenvolvido pela empresa belga Tait, o seu piso é composto por cubos que se elevam, servindo de elevadores ou escadas para a cantora e os 22 bailarinos nas elaboradas coreografias. “São 36 cubos móveis de LED, que estão sempre mudando de posição, possibilitando múltiplas configurações”, diz Johanna. Tudo isso funciona também como pequenos telões. Para a canção “I’m a Sinner”, um dos momentos mais empolgantes da apresentação, os artistas gráficos fizeram os três conjuntos de cubos ganhar a forma de trens que viajam pelo interior da Índia, mostrada ao fundo. Madonna canta sobre um dos vagões enquanto os bailarinos “surfam” no teto do comboio. O efeito é fabuloso.
Além de se interessar pelo que existe de mais novo em termos de tecnologia, Madonna sabe que uma das formas de se manter atual é se alinhar às modas e tendências, sejam elas musicais, sejam comportamentais ou políticas. Se no lado musical ela deu uma guinada em direção à progressive house (créditos ao produtor italiano Benny Benassi, que deu o tom do CD “MNDA”, sigla que a artista criou para si), no plano das provocações (o seu verdadeiro elixir da juventude), a “Rainha do Pop” tem se voltado para o noticiário internacional. No decorrer da turnê, Madonna comprou briga na Rússia – ao apoiar o grupo Pussy Riot e defender o direito dos gays – e na França associou a deputada Marine Le Pen ao nazismo. No show de Nova York, fez um striptease durante a música “Like a Virgin” e pediu aos fãs que pagassem pela exibição – o dinheiro atirado ao palco foi direcionado às vítimas da tempestade Sandy. O gesto não amenizou as críticas por ela abrir o espetáculo como uma espécie de bond girl justiceira – os telões mostram jorros de sangue a cada tiro que dispara. Diante da violência atual no País, esse é o tipo de censura que não se poderá fazer à Madonna.
IstoÉ