Há uma grande diferença entre Madonna e Beyoncé. Madonna é a artista que toda cantora quer ser. Sua sexualidade sempre revolucionária é sua marca – uma forma de auto-expressão. Nos anos 90, ela usou o infame sutiã de cone de Jean Paul Gaultier com os espirais hipnóticos que enfatizavam a sexualidade, em justaposição com sua criação católica (tudo isso enquanto seduzia uma cadeira), durante a Blond Ambition Tour. Ela supostamente arrecadou quase US$ 63 milhões, o que tornou esta a turnê mais bem-sucedida à época. Uma década depois, sua The Confessions Tour, durante a qual ela cantou Live To Tell pendurada em uma cruz, rendeu a ela US$ 194,7 milhões, segundo a Billboard.
Agora, parece que Beyoncé tem estudado a cartilha. Ela vestiu uma tanga La Perla no Grammy deste ano para exibir seu corpo, enquanto apresentava Drunk In Love – também em uma cadeira – enquanto seduzia (e era seduzida) seu marido Jay-Z.
Talvez sua performance no Grammy e este lado mais atrevido sejam uma homenagem a Madge (em seu quinto e homônimo álbum, a canção e o clipe de Haunted têm sido comparados a Erotica, de Madonna). Ou talvez ela entenda que começar uma revolução pseudo-sexual em troca de lucro seja como se manter relevante.
Afinal de contas, sexo ainda vende. E outros negócios estão surgindo. A revista Forbes, por exemplo, questionou se a performance de Drunk In Love serviu para aumentar as vendas do álbum. A resposta é, “claro que sim”.
“Abri minha própria empresa”, Beyoncé contou à Billboard, sobre a Parkwood Entertainment, fundada em 2008. “Quando decidi que seria minha própria empresária, foi importante não ir a uma grande empresa de gerenciamento. Senti que queria seguir os passos de Madonna e ser uma potência, com meu próprio império, e mostrar a outras mulheres que, ao se chegar neste ponto na carreira, você não precisa assinar um contato com outra pessoa e dividir seu dinheiro e seu sucesso – você o faz sozinha”.
Mas se Beyoncé está tentando ser como Madonna, a pergunta é: “será que ela consegue?”. Não será fácil.
Após décadas na indústria, Madonna é a artista feminina que mais vendeu singles de todos os tempos. Aos 55 anos, ela vendeu mais de 300 milhões de discos em todo o mundo, arrecadou centenas de milhões em turnês sozinha e ganhou 14 Grammy em 26 indicações. A Billboard a classificou em segundo lugar, atrás apenas dos Beatles em sua última lista dos “100 mais”, tornando-a a artista solo mais bem-sucedida na história da parada de singles americana. Só no ano passado, Madonna ficou no topo da lista da Forbes de celebridades que ganharam mais de US$ 125 milhões, e, apesar do álbum MDNA não ter vendido tanto, sua turnê rendeu US$ 305 milhões.
Beyoncé, 32, tem sido uma artista solo desde o fim das Destiny’s Child em 2005, e, assim, já vendeu mais de 80 milhões de discos e ganhou 14 Grammy de 25 indicações, em apenas nove anos. Em 2009, a Billboard a nomeou a “Melhor Artista dos anos 2000” e ela também foi a “Artista do Milênio” em 2011. A Forbes registrou os ganhos de Beyoncé no ano passado em US$ 53 milhões. Sua última turnê, The Mrs. Carter World Tour, teve 132 apresentações e ela arrecadou US$ 183 milhões até o dia 12 de março.
“Beyoncé tem um controle incrível sobre sua pessoa e o que ela coloca no mundo. Você nunca sabe se existem pessoas nos bastidores que a ajudam”, disse Kevin Allred, professor na Universidade Rutgers, que estabeleceu uma aula sobre raça, gênero e políticas sexuais, chamada Politizando Beyoncé.
“Ela colocou o controle em ação no ano passado, quando a Target escolheu não vender seu álbum homônimo após ela ter dado ao iTunes uma semana de vendas exclusivas. Bey assumiu o controle. Ela foi a uma loja Wal-Mart em Tewksbury, Massachusetts, e ofereceu a cada cliente na loja “50 dólares pra gastar com ela” durante a temporada de compras de Natal, efetivamente dando o dedo do meio à Target e, engenhosamente, dizendo “aqui está um dinheiro extra pra comprar meu álbum”.
Estar no controle é o que faz de Beyoncé a mulher de negócios que ela é – uma característica que ela aprendeu a aperfeiçoar. “Nunca estou satisfeita”, contou Beyoncé à Forbes em 2009. “Tenho certeza de que, às vezes, não é fácil trabalhar pra mim. Nunca conheci alguém que trabalhe mais pesado do que eu na minha indústria”.
E enquanto “Madonna poderia ser vista assim, com muito controle [sobre sua imagem]”, Allred contou a Quartz, “parece que existe um nível extra [com Beyoncé]. Se alguma foto desfavorável é publicada, ela é retirada da Internet”.
Beyoncé reservou cinco meses pra se preparar para o Superbowl de 2013, que é o show mais assistido do ano (Madonna levou quatro meses). Ela tomou todas as rédeas e prometeu perfeição. Gawker descreveu sua apresentação: “Beyoncé existe pra nos surpreender com perfeição e uma ética de trabalho extraordinária, e ela conseguiu fazer um espetáculo único na vida”.
Mas, de algumas formas, a perfeição de Beyoncé é um “calcanhar de Aquiles”. Para revolucionar a indústria da música, de forma tão rápida, ser melhor do que todos não é o bastante, porque tudo muda num piscar de olhos. Os artistas devem se reinventar pra permanecer no topo ou serão deixados pra trás.
Isso é algo que Madonna conhece bem. Recentemente, ela compartilhou uma foto de sua axila cabeluda no Instagram. Ela escreveu: “Cabelo grande…nem ligo!!! #artforfreedom #rebelheart #revolutionoflove”. Mas, como um escritor observou, Beyoncé não se permitirá este tipo de liberdade – ela está sempre e completamente no controle, impecável.
“Beyoncé possivelmente nunca viu uma foto desfavorável dela em qualquer mídia”, escreveu Esther Zucherman sobre o documentário de Beyoncé. “Ela está deslumbrante ao gravar closes de si mesma com pouca luz. Ela está deslumbrante quando vai trabalhar. Assistir às suas performances perfeitas é uma emoção. Assistir aos seus momentos difíceis sem perder um fio de cabelo faz você se sentir mal consigo mesmo”.
Beyoncé é o chefe, batalhadora, ambiciosa. Mas os chefes não são bons com revoluções: se Bey quer começar uma – e uma feminista – trave uma guerra ou coloque cabelo falso debaixo do braço e poste no Instagram. Ela se livra fácil disso. Mas até entender isso, ela não será como Madonna, muito menos tomará seu lugar – ela continuará agindo rapidamente. (Fonte: Quartaz)