O uso da palavra com “N” por Madonna é mais do mesmo
Na sexta, 17, Madonna postou uma foto de seu filho adolescente, Rocco, no Instagram, dando socos num ringue de boxe com a legenda: “Ninguém se mete com Dirty Soap! Mamãe disse pra te nocautear!”, ela escreveu abaixo da imagem, adicionando a hashtag “#negao”.
Sim, claro.
Quando o inevitável protesto do público começou, a foto foi deletada e repostada, com a legenda substituída por, na moda de Madonna, “#medeixaempazcar###o!”.
Nada neste furor foi acidental.
O ícone pop já está familiarizada com controvérsias, mas, agora, talvez seja a hora de examinar as consequências de sua última viagem cultural em nome da reinvenção.
Em cada uma de suas várias encarnações visuais e flertes culturais, Madonna foi uma parasita previsível. Sem o menor pudor, ela se muda para o próximo personagem, depois de usurpar todas as partes legais e controversas do anterior. Agora, eis o uso da palavra com "N".
A falta de preocupação pelo impacto de suas palavras é problemática, especialmente por sua aliança com crianças, adotadas e biológicas.
Mas é de Madonna que estamos falando.
Com rumores de uma possível performance com Beyoncé no Grammy, faz sentido voltar ao noticiário. Esta é a mulher que abraçou o título de Rainha do Obsceno décadas atrás. Esta é a mulher que se despiu para o livro Sex, lançado junto com o álbum Erotica, em 1992.
Ela já se apresentou pendurada em uma cruz, criticou a Guerra do Iraque e se masturbou no palco e no cinema.
Lady Gaga pode viver pelo aplauso, mas Madonna, sem dúvida, vive pelo alvoroço. Ela é adepta de manchetes e de álbuns recordistas. E é mais provável que ela responda com o dedo do meio do que com uma desculpa sentimental. Ela se mantém firme em suas decisões e, historicamente, não retira seus comentários.
Previamente, eu já apreciei esta qualidade dela.
Madonna: “A hashtag com ‘N’ foi um ‘termo carinhoso’ com meu filho”.
Como dançarino e ex-aspirante a coreógrafo, aprecio o espetáculo corajoso nos shows de Madonna. A bem-sucedida Confessions Tour, por exemplo, demonstrou uma queda por destruir barreiras criativas, que me manteve alerta mesmo quando os críticos a abandonaram.
Mas até os fãs têm suas críticas.
Espera-se que as influências sejam diferentes conforme as tendências musicais e os interesses mudem. Mas e Madonna? Ela já trabalhou demais para ganhar seu status de “chef cultural”, exigente ao escolher os aspectos mais singulares de mercado para benefícios comerciais com pouca referência a integridade de seu comportamento.
Quando ela ofendeu os Hindus ao vestir uma “bindi”, símbolo de castidade e pureza, enquanto vestiu um top transparente em uma performance no VMA, uma porta-voz contou a MTV que Madonna não “entendeu porque (eles) estavam chateados”.
Ela defendeu o uso de imagens Nazistas durante a MDNA Tour para destacar “a intolerância que os humanos têm um pelo outro”.
Madonna repetidamente já demonstrou que vê a iconografia cultural, de estilos de dança a símbolos religiosos, como afirmações artísticas e os separa quando não é mais conveniente. No passado, ela imitou Marilyn Monroe. Depois, veio sua fixação espanhola no fim dos anos 80 com La Isla Bonita. Em 1990, ela apresentou o Vogue ao mundo, um estilo de dança popularizado por gays negros e criadores latinos.
Daí, vieram os “bindis”, “saris”, as vibrantes tatuagens de henna e a magia ambígua de cantos de oração no álbum Ray Of Light. Ela foi uma versão feminina e poderosa de Che Guevara na arte de American Life. Cada imagem estilizada de forma imaculada, cada renovação aguentando o ciclo da vida de sua mais recente fascinação.
Usar a palavra com “N” no Instagram é apenas Madonna sendo Madonna. E o seu estilo “Desculpe se você se ofendeu” de não se desculpar não indica que ela aprendeu algo no passado.
Ela seria insolente para usar a frase “termo carinhoso” se fosse direcionado aos seus filhos negros adotados do Malawi, David Banda e Mercy James?
Ela se tornou acomodada demais, tendo amigos, colegas e filhos negros? Este incidente é menos sobre Madonna ser racista e mais sobre sua contínua falta de tato.
Isto seria uma grande lição a seus filhos sobre erros e consequências, em sua última reinvenção como humanitária e mãe. Mas deveria, em primeiro lugar, ser uma lição para a própria Madonna.
Alexander Hardy é escritor, professor e crítico cultural. Ele escreve sobre raças, sexualidade, e observações de Panama no blog The Colored Boy. Twitter: @chrisalexander_. Link original aqui.