Arquivo da tag: Bye Bye Baby

Tony Shimkin: os 20 anos do álbum EROTICA, de Madonna

MadonnaTribe (Traduzido por Leonardo Magalhães)

Madonna

O álbum “Erotica”, de Madonna, completou 20 anos de lançamento. É hora de celebrar 20 anos de Erotica, um dos álbuns mais originais e controversos de Madonna, com um papo exclusivo com Tony Shimkin, co-produtor e co-autor de algumas das melhores canções do álbum.

Tony foi ao Madonna Tribe pra nos levar a uma jornada de fofocas, lembranças e a um relato exclusivo e inigualável do processo criativo de obras-primas como Erotica, Bye Bye Baby, Deeper And Deeper, Bad Girl e Why’s It So Hard, apenas pra citar algumas, mas também Vogue, Rescue Me, This Used To Be My Playground e as tão comentadas fitas de Rain.

MadonnaTribe: Oi, Tony, seja bem-vindo ao Madonna Tribe. Você é um produtor/compositor famoso e respeitado, mais conhecido pelos fãs de Madonna pelo seu trabalho no incrível álbum Erotica, de 1992. Vamos do começo. Como começou sua carreira?

Tony Shimkin: Comecei no Ensino Médio trabalhando como estagiário no Soundworks Studio em Nova York, que, coincidentemente, é o mesmo estúdio onde mixamos o álbum Erotica, assim como remixes de músicas anteriores dela. Mais tarde, me tornei Assistente do Engenheiro de Gravação e, então, Engenheiro. Durante aquele tempo, trabalhei com Duran Duran, Teddy Riley e, mais frequentemente, Shep Pettibone. Daí, comecei a editar remixes do Shep paralelamente. Pouco tempo depois, fui contratado pelo Shep pra ser seu assistente pessoal. Foi aí que fiquei mais envolvido em mixar e produzir. Devido ao sucesso dos remixes que estávamos fazendo, especialmente para Janet Jackson, Madonna e Mariah Carey, Shep e eu fomos convidados e começamos a compor juntos faixas para Madonna, Taylor Dayne e Cathy Dennis.

MT: Como você se tornou um dos produtores mais bem-sucedidos na Indústria?

TS: É muito gentil da sua parte, mas há muitos produtores que eu admiro como sendo mais bem-sucedidos. Sir George Martin e Quincy Jones, por exemplo, e eu hesitaria bastante em me colocar perto da categoria deles.

Meu sucesso é, em meu ponto de vista, devido, principalmente, ao meu amor pela grande variedade de estilos musicais, meu respeito pelos Artistas, Músicos e Engenheiros de Estúdio e Produtores, e pela minha habilidade de me relacionar bem com diferentes tipos de personalidade. Ser um Produtor Musical é quase ser um Diretor de Cinema.

Você deve reunir o melhor e mais apropriado elenco pra apoiar o Ator ou Atores principais. Na música, são apenas os Músicos e Engenheiros apoiando o artista. Além disso, a locação é importante…o estúdio certo, a atmosfera certa pra ser criativo.

MT: Então como você se envolveu na produção de Erotica?

TS: Como resultado do nosso trabalho remixado para Madonna, nosso envolvimento no álbum The Immaculate Collection nos permitiu colaborar numa canção original, Rescue Me, e nossa colaboração bem-sucedida em Vogue nos deu um convite para co-escrever canções para o futuro álbum dela.

Começamos a compor as faixas e então enviamos a Madonna em LA para escrever as letras e melodias. Daí, ela veio ao estúdio caseiro em NY e começamos a trabalhar.

MT: Erotica pode ser descrito como um álbum conceitual. Depois de ser muito criticada, e até ser chamada de “Fracassada” quando ele foi lançado, o álbum se tornou, com o tempo, um dos favoritos dos fãs por conter músicas fortes e muito bem produzidas. Vocês ficaram decepcionados pelas primeiras reações? Era como se a Mídia quisesse passar pro público uma outra coisa ou algo que ele não era.

MadonnaTS: Entendo a resposta inicial. Quer dizer, ele foi lançado ao mesmo tempo que o livro SEX e o filme altamente sexual dela com William Dafoe, e você tinha os clipes de  Erotica e Justify My Love, então a Mídia estava… “Sexo, sexo, sexo!”. Era Madonna ultrapassando os limites de SEX.

O resto das músicas do meio que se perderam. Se Erotica não tivesse sido o primeiro single, isso poderia não ter acontecido. Acho que quando Rain foi lançada, as pessoas tiveram a oportunidade de ver além da coisa sexual.

Havia mesmo muita diversidade nas canções de Erotica e aquilo se perdeu nas críticas iniciais. Também acho que dois milhões dificilmente é um fracasso, mas, se comparado ao trabalho anterior, que vendeu quase sete milhões no lançamento, o álbum foi visto como um fiasco. É engraçado porque com as vendas atuais, dois milhões é um sucesso enorme e, desde o lançamento, acredito que já tenha vendido mais de cinco milhões.

MT: Você é co-autor com Shep Pettibone e Madonna de algumas das melhores faixas do álbum: Erotica, Bye Bye Baby, Deeper And Deeper, Bad Girl, Why’s It So Hard, apenas pra mencionar algumas. Você se lembra do processo que deu à luz algumas dessas canções?

TS: Erotica foi, definitivamente, uma longa evolução das duas versões finais, a do álbum e a versão inspirada no Oriente Médio chamada Erotic, inclusa no livro SEX. Bye Bye Baby foi muito divertida, já que o efeito do vocal filtrado foi aplicado durante a gravação e tocado enquanto ela cantava. Este vocal está também na primeira demo.

Durante a mixagem de Deeper And Deeper, eu estava zoando com um violão acústico, tocando música espanhola, no estilo flamenco. Madonna me ouviu e quis adicionar aquela parte na música. Daí, acrescentamos castanholas e…voilá! A parte com o estilo latino da canção nascera!

Tínhamos acabado de voltar de férias no meio do processo de composição, Shep estivera na Jamaica e eu fora mergulhar nas Ilhas Cayman. Ambos voltamos com uma pesada inspiração do Reggae, e daí veio Why’s It So Hard. Depois que Madonna passou um dia fora, eu toquei com uma ideia e adicionei alguns vocais de fundo. No dia seguinte, não sabia que ela já tinha chegado e estava tocando. Daí, ela gritou do andar de baixo: “O que é isso…gostei!”. Cheio de vergonha, contei a ela que era eu cantando e ela me fez cantar de novo na frente dela. Aquela foi a minha estreia como cantor. Foi engraçado ouvir minha voz durante o Girlie Show nos alto-falantes do Madison Square Garden.

Bad Girl foi uma partida do resto do álbum e uma boa quebra no processo de composição, porque nos desacelerou e foi legal ficar sério por um momento.

MT: O som de Erotica parece bem cru quando você ouve as primeiras canções. Esta foi uma decisão consciente?

TS: Usamos muito dos vocais demo que foram gravados com um microfone SM-57, mais comum para apresentações ao vivo, porque tinha uma grande energia e gostamos da performance.

Quando gravamos na fita, usamos um gravador de  ¼ de polegada (Ver Foto) e a faixa de 2 polegadas foi gravada com 15 ips (Inches Per Second) pra dar um toque mais antigo ao som, ao contrário do formato digital, que é o que estamos acostumados a trabalhar. Portanto, o “som cru” foi deliberado, por querermos usar o máximo das nossas performances demo.

MT: Quais das canções de Erotica são as suas favoritas e por quê?

TS: Quando o álbum foi originalmente lançado, o Shep me contou que eu devia escolher apenas uma música na qual colocar meu nome como compositor. Sabendo o que sei hoje, eu teria dito “Não, colocarei em todas ou então comece tudo de novo sozinho!”.

Com isso, escolhi Deeper And Deeper, porque sabia que seria um sucesso. É difícil dizer agora, mas eu deveria ter escolhido Rain, porque amo a ascensão que vem com o sintetizador e como ele te eleva às outras partes, mas o clipe pode ter inspirado esta resposta.

MT: Recentemente, houve um papo na Internet sobre as chamadas fitas de Rain. Delas, parece que as canções de Erotica passaram por muitas fases diferentes. De onde estão vindo essas fitas?

TS: Não sei. Certamente não fui eu, acredito que apenas Shep, eu mesmo e Madonna têm cópias das primeiras fases das demos. Portanto, o seu palpite é tão bom quanto o meu. Algumas ofertas me tentaram a lançar coisas assim, mas Madonna sempre me tratou com respeito e eu não faria nada sem o consentimento dela.

MT: Uma antiga versão acapella de Erotica, conhecida pelos fãs como You Thrill Me, apareceu na Internet alguns anos atrás. A música era completamente diferente da versão do álbum. Então, isso significa que Erotica foi uma das canções que passaram pelas maiores mudanças durante a produção?

TS: Sim, começou como uma canção totalmente diferente. Apenas uma parte do vocal: “You thrill me, surround me, you fill me” se tornou “Erotic, erotic, put your hands all over my body”. Quando isso aconteceu, a coisa do sexo meio que tomou o controle e acabou indo numa direção completamente nova.

MT: Mas Madonna não esqueceu de You Thrill Me, já que a repetiu na Confessions Tour, em 2006. Você ouviu aquela versão ao vivo de Erotica/You Thrill Me? Você gostou? Você ficou surpreso por ela ter desenterrado a demo pra reinventar a canção pro palco?

TS: Não, não ouvi, mas vou pegar uma cópia e ouvir agora que você me contou. Estou muito interessado em ouvi-la. Madonna geralmente explora uma nova direção ou revisita uma antiga quando se apresenta ao vivo e eu acho isso ótimo, odeio ir a um show e ouvir uma canção feita exatamente como o arranjo de gravação. Esta é a razão por ir ver um show ao vivo. Pode apostar que as pessoas comprarão o DVD daquela turnê apenas pra ouvir estas novas/velhas versões.

MT: Do que eu entendo, a parte “You are who you are” substituiria a parte falada “Give it up, do as I say” na estrutura da canção inicial e o refrão “You thrill me, surround me, you fill me” estava lá, ao invés do mais famoso “Erotic, erotic, put your hands all over my body”, certo? Basicamente, na Confessions Tour, ela cantou a canção feita de dois refrões.

TS: Às vezes, as canções realmente são desenvolvidas. Sei que é mais fácil achar que foi composta uma vez, da forma que você ouviu. Mas, neste estilo de música, ao contrário dos Beatles, que compunham no violão ou piano, a canção evolui. Começando com uma faixa para uma energia, Madonna cantava as ideias dela. Inspirados nelas, nós mudávamos e construíamos a música, mudando completamente, às vezes. Daí, se tornava um esforço colaborativo, de trás pra frente, até você ter o que todo mundo ouve.

MT: Na versão do álbum Erotica, dois samples foram inclusos. Um é de Jungle Boogie e o outro é o canto assombrado El Yom. Pessoalmente, acho que eles deram à canção um bônus adicional e foi uma ótima ideia. De quem foi a ideia de incluir samples nas canções?

TS: Os samples eram de uma coleção de sons escolhidos da extensa coleção de discos do Shep e foram usados como inspiração na construção das canções. Geralmente, nos livrávamos deles depois de terem servido ao nosso propósito. Os samples que você mencionou se tornaram parte integral da canção e a música sentia a falta da energia que adorávamos quando os tirávamos. Às vezes, você não pode substituir ou recriar essa mágica.

MadonnaMT: A faixa Goodbye To Innocence também foi descartada pra favorecer o cover de Fever na época. Como isso aconteceu?

TS: Quando estávamos na fase de mixagem da produção, Madonna começou a cantar Fever sobre a faixa Goodbye To Innocence. Ficou uma regravação legal e fomos até o fim. Eu sempre amei Goodbye To Innocence e fiquei um pouco desapontado por perdê-la. Fiquei feliz quando ela a relançou tempos depois.

MT: Fever também foi remixada em uma nova versão pra ser usada no clipe. Você trabalhou na produção daquele remix também?

TS: Não, não estava ciente que tinha sido feito como um clipe. Porém, nós fizemos o arranjo daquela versão ao vivo para a aparição no Saturday Night Live.

MT: Aparentemente, há muitas faixas que foram compostar pro álbum e nunca foram terminadas ou lançadas. Muito tem se falado de uma canção que você ajudou a compor com Madonna e Shep, chamada You Are The One. Você pode nos contar mais sobre ela?

TS: Havia duas canções que fizemos, mas não foram lançadas. You Are The One e Shame. You Are The One era uma canção agitada e bem chiclete. Uma verdade é que Madonna nunca criou melodias esquecíveis. Infelizmente, nem toda canção chega ao CD. Talvez ela lance uma coleção de canções não-ouvidas um dia, mas eu duvido. Ainda tenho uma cópia em cassete dessas demos antigas. Preciso converter para arquivos digitais para a posteridade um dia.

MT: Em Shame, Madonna, aparentemente, reprisa sua personagem Dita da canção Erotica. Estou muito curioso sobre esta canção…

TS: Shame ficava na memória rapidamente, embora o refrão tenha ficado muito parecido em termos de melodia com uma outra canção com o mesmo título. Mesmo assim, mantinha a fidelidade com o resto do material gravado e, sim, o alter ego Dita pode ter nascido desta canção também.

MT: Você acha que um dia teremos uma chance de ouvir essas produções não-lançadas?

TS: Como eu disse antes, a decisão é de Madonna. Eu a respeito demais pra lançar qualquer coisa sem ela saber, lembre-se de que não foi ela que me sacaneou com os créditos e a publicação.

MT: Antes de Erotica, você também trabalhou em The Immaculate Collection, Vogue, Rescue Me e no remix de Keep It Together. Qual foi o seu envolvimento nestas canções?

TS: Vogue foi a primeira vez em que conheci “Mo”. Ela tinha voado de LA pra graver vocais e não tínhamos ouvido muito das ideias dela pra música. Daí, quando ela começou a cantar, eu soube instantaneamente que seria um mega sucesso. Aconteceu dela escrever toda a parte “Greta Garbo and Monroe…Deitrich and Dimaggio…” no voo de NY para a gravação. Muito impressionante, se você me perguntar.

Rescue Me foi uma faixa original que fizemos pra ser inclusa em The Immaculate Collection, e foi realmente minha primeira composição pra ela, embora eu nunca tenha levado o crédito. E o remix de Keep It Together foi um de três que fizemos, sendo os outros para Express Yourself e Like A Prayer.

Naquela época, os remixes que fazíamos foram muito bem recebidos e frequentemente éramos convidados a remixar cada canção que era lançada. Com Rhythm Nation da Janet Jackson, nós remixamos todos os sete singles, sendo o primeiro Miss U Much. Se você ouvir o nosso Club Remix (http://www.youtube.com/watch?v=zWp0vGtwc2E) daquela canção, você perceberá muito da inspiração para Vogue, basta ouvir a bateria e a linha de baixo que entenderá. Às vezes, o que você faz para um remix é bom demais pra ser ouvido apenas numa boate.

MT: Depois de Erotica, Madonna lançou o álbum Bedtime Stories em 1994. Aparentemente, Shep Pettibone também trabalhou em algumas das canções dele, como Secret, mas, originalmente, ele não foi creditado. Shep e você estavam, originalmente, envolvidos em Bedtime Stories também como produtores?

TS: Não, Shep não estava envolvido e eu não estava mais trabalhando com ele. Sei que ele havia tentado escrever algumas coisas pra esse projeto e ele afirmou ter criado algumas faixas para as quais ela escreveu Secret. Conhecendo-a bem, ela provavelmente sempre teve aquela ideia no caderno, experimentou a faixa dele e, quando achou que não estava funcionando, seguiu em frente. Junior Vasquez era um amigo de Shep, eu o conhecia também e, à época, ele era provavelmente o melhor remixer e DJ, então ela começou a trabalhar com ele.

Junior me envolveu em algumas das produções e remixes de Bedtime Stories e foi divertido trabalhar numa capacidade diferente daquela de Erotica. Uma vez que você trabalha com Madonna, você nunca quer parar, mas ela é esperta e é conhecida por se reinventar e manter cada álbum fresco e, às vezes, isso significa trocar seus colaboradores ou produtores.

Shep levou pro lado pessoal e acho que ele tentou sacanear Secret, por estar magoado. Talvez ele foi creditado pra evitar futuros problemas.

MT: Também queria te perguntar sobre This Used To Be My Playground. Você esteve envolvido nesta canção e ela foi produzida na mesma época do álbum Erotica?

TS: Sim, fomos nos encontrar com Madonna em Chicago enquanto ela estava filmando “Uma Equipe Muito Especial”, e conversamos sobre uma canção original pro filme. Eu compus as partes de cordas e o solo de violino. Quando gravamos com Al Schmidt no estúdio Ocean Way em LA, tivemos uma orquestra de 30 peças e Jeremy Lubbock fez os arranjos de corda. Nunca incluímos a demo que tinha o solo de cordas quando ele montou tudo com a orquestra.

No dia em que estávamos gravando, achei que tínhamos terminado e percebi que esquecêramos o solo. Rapidamente cantei a parte pro copiador que montou tudo para os violinistas e eles gravaram com apenas um minuto no relógio. Quando você tem uma orquestra de 30 peças, pode ficar muito caro usar uma segunda hora do tempo deles. Foi um aprendizado enorme ver um mestre como Al Schmidt gravar e mixar, ele é simplesmente incrível, um verdadeiro artesão.

MT: Você trabalhou com muitos artistas de estilo, como Janet, apenas pra mencionar um. O trabalho com Madonna tem sido diferente dos outros?

TS: Muito, de algumas formas. Eu nunca trabalhei com uma artista tão determinada ou motivada como ela. Adorei o ritmo acelerado com o qual trabalhamos e definitivamente tínhamos isso em comum. Geralmente, eu trabalho bem rápido com gravação de vocais e raramente faço aquecimentos ou preparativos. Ela foi uma das poucas artistas que se desenvolveram nesta forma de trabalho. Acredito que você deve conseguir capturar ideias assim que elas aparecem e ela apreciava isso.

Lembro-me de uma vez, durante a pré-produção de uma das canções de Erotica. Em um dos nossos primeiros dias trabalhando juntos, houve uma estória engraçada. Eu estava organizando algumas coisas no computador e ela queria experimentar algo. Ela me perguntou se eu já estava pronto. Disse que não e, minutos depois, ela me perguntou novamente. Mais uma vez, disse não e, um minuto depois, ela perguntou outra vez. Joguei um lápis do outro lado da sala e disse bem alto: “NÃO!”… “Por que você não vai lá embaixo e faz pipoca…uma ligação…e eu te digo quando estiver pronto”.

Ela ficou quieta (provavelmente um pouco chocada por este moleque de 22 anos ter dito isso a ela)…daí disse “ok” e desceu. Daquele momento em diante, ela tinha o mesmo respeito por mim do que eu por ela e nossa relação cresceu muito bem. Em retrospecto, aquele poderia ter sido o fim da minha carreira, mas ela respeita alguém que fala o que pensa assim como ela e não apenas puxa o saco.

Todos os artistas têm uma visão, mas a dela sempre foi bem definida e clara. Mesmo assim, ela sempre estava aberta a críticas e sugestões, não que ela sempre concordasse, mas estava aberta e isso é importante.

MT: Quais são seus projetos futuros nos quais você está trabalhando agora, Tony?

TS: Eu havia mixado o álbum Between The 1 And 9 para uma artista da EMI chamada Patti Rothberg. Produzi o álbum Sky With Stars For Sony para um artista chamado Michal, do qual tenho muito orgulho. Compus para Wild Orchid (antigo grupo da Fergie) e fiz muitos remixes com Junior Vasquez e sozinho depois de trabalhar com Shep.

Mais recentemente, produzi um material para uma banda chamada The Vanderbits e fiz uma música com Anthony Hamilton e com uma nova artista chamada Niia. Todos podem ser encontrados no MySpace.

Ao longo dos últimos anos, compus e produzi, na maior parte, para TV e cinema, mas estou começando a compor novamente para artistas e espero voltar a fazer mais gravações.

MT: Tony, qual sua melhor lembrança do trabalho com Madonna?

TS: Acreditar em mim pra ajudá-la a alcançar sua visão, risos, pipoca e Caesar Salads do restaurante italiano na outra rua do estúdio Soundworks.

MT: Muito obrigado por conversar conosco, Tony.

A foto de Tony e a imagem de Tony e Madonna no estúdio são cortesias da página oficial do MySpace dele: www.myspace.com/tonyshimkin.

Álbum “Erotica”, de Madonna, completa 18 anos

OgAAACVGio5v7owjLF9Kz8nh2EIS4Vd4IzzhchGrEpkm APMdvgqGaH7e qsYkDcggCguNGpIPt7N Au2ZG 3iLKUV8Am1T1UBgBNMefa2FSfrTET1WAig7Ub4z8

Na mitologia é frequente a descrição de passagens em que deuses e deusas em um determinado momento de sua existência se deparam com a necessidade de confrontar o seu oposto. Tais episódios, geralmente ambientados nas profundezas do mundo inferior, narram a travessia pela qual a entidade em questão deve se despir de qualquer proteção ou ligação com o seu mundo para então confrontar seus medos e sentimentos mais íntimos e sombrios e renascer mais sábio e mais forte.

“Justify My Love”, lançada em 1990, seria o primeiro passo de Madonna para uma era em que a sexualidade seria seu tema de trabalho e quase obsessão refletida no álbum “Erotica”, no livro “SEX”, no filme “Corpo em Evidência” e finalmente em sua turnê mundial “The Girlie Show” que se estenderia pelo ano de 1993.

Utilizando estrategicamente todas as mídias e formas de marketing disponíveis na época, o álbum “Erotica” foi o primeiro disco da cantora a ser lançado pelo seu próprio selo: a Maverick Records. Dessa forma, Madonna conquistou e gozou seu período de maior exposição, causando controvérsia e levantando questionamentos sobre sua relevância no mundo da música.

Curiosamente foi a qualidade da música de Madonna que forneceu o suporte essencial para a continuidade e aceitação dos seus projetos paralelos. Na época, críticas positivas para o álbum “Erotica” foram publicadas por diversas revistas especializadas. Segundo a Billboard “Erotica” é um álbum ambicioso que contem algumas das melhores músicas de Madonna. Opinião compartilhada pela Rolling Stone pela qual o álbum foi considerado brilhante. Já para a Blender, o álbum conceitual recebeu quatro estrelas sendo classificado como chocante e inspirador.

Através de uma mistura inteligente do pop e house produzidos por Shep Pettibone com os elementos de jazz e hip-hop incorporados por André Betts, as letras das músicas falam sobre relacionamentos e perdas, e algumas transmitem um teor político muito expressivo. “Erotica” foi definido pela própria Madonna como um disco “áspero” e “cru” já que a idéia foi não produzir as músicas demais e deixá-las o mais próximo possível de suas “demos” originais gravadas nas primeiras sessões, sem os caprichos de muito polimento e pós-produção, o que mais tarde seria brilhantemente explorado nas performances ao vivo da turnê de divulgação do álbum.

Com seis singles lançados: “Erotica”, “Deeper and Deeper”, “Bad Girl”, “Fever”, “Rain” e “Bye Bye Baby”, seus vídeos promocionais tiveram que competir pela atenção do público com a polêmica criada em torno do livro “SEX” com fotografias de Steven Meisel que retratam todas as formas de relacionamentos e as fantasias sexuais que permeiam este universo.

Apesar de esclarecer em quase todas as entrevistas que o livro era apenas uma ilustração das fantasias que todo ser humano tem em relação ao sexo, foi complicado convencer o público mais conservador a recebê-lo como arte, o que gerou um verdadeiro movimento de repressão e boicote à cantora.

“ The most important thing is that I say the things I want to say. In my music or whatever expression that may be. Wether that’s writing a book or writing songs or acting or whatever… the important thing is that I feel fulfilled as an artist and ultimately what the world gets out of it and what they chose to see.” Madonna – MTV Europe, Nov. 1992.

Porém, não são muitos os artistas que conseguem incluir em sua obra um retrato tão fiel do contexto histórico no qual se encontra e ao mesmo tempo gerar um impacto tão relevante na cultura e sociedade. No inicio da década de 90 o mundo se encontrava em um confronto ideológico com a sexualidade e a epidemia da AIDS e, como a personificação de um adolescente, presenciava uma época de transição na sociedade em que o diálogo sobre a sexualidade se movia da total repressão para a liberdade de expressão e novas formas de explorar esse universo.

Para entender o impacto de Madonna com “Erotica” basta recorrer a outras mídias da mesma época, uma recomendação seria a sequência inicial de “Cães de Aluguel”, primeiro filme de Quentin Tarantino, em que um grupo de ladrões discute o significado e as mensagens implícitas nos grandes hits de Madonna da década de 80. No ano seguinte ao lançamento de “Erotica”, foi lançado o filme “Corpo em Evidência” estrelado por Madonna e Willem Dafoe. O filme foi extremamente criticado e certamente não recuperou nas bilheterias o investimento para a sua realização.

Neste mesmo ano, inspirada por um quadro de Edward Hopper, Madonna levou para a América, Europa, Ásia, e Oceania a turnê mundial “The Girlie Show”. Com referências ao Catolicismo, Fellini, Bob Fosse, Gene Kelly, Marlene Dietrich e a Berlim de Weimar, Cabaret, Carmen Miranda, Metropolis, Cirque De Soleil, entre outros, o show foi concebido e vendido como um “Circo do Sexo” em que os gêneros se confundiam e performances jamais antes vistas eram realizadas ao vivo no palco. Funcionou.
Com uma produção elegante e muito bem elaborada a turnê se tornou o espetáculo mais bem sucedido daquele ano, recebendo críticas positivas por onde passava.

Ainda que não tenha se recuperado totalmente do período de repressão e censura, Madonna foi capaz de demonstrar que suas habilidades como artista extrapolam o mundo da música, através de uma bricolagem única de referências ao teatro, à dança, ao circo e ao cinema. Dessa forma, Madonna voltou ao centro das atenções com a sua capacidade intrigante de se reinventar, reafirmando a sua postura e relevância como uma das maiores artistas da história.

Assim como na mitologia, Madonna se despiu de qualquer preconceito e pré-julgamento e confrontou uma de suas (ou nossas) maiores obsessões: o sexo. E como deveria ser ela convidou o mundo para acompanhá-la nesse processo. Á frente de seu tempo foi difícil para o mundo seguir seus passos, já que nem todos estavam preparados. Porém, certamente todos estavam curiosos e como numa prática coletiva do voyeurismo o mundo se encontrou a espiar mesmo que à distância esse momento de descobertas e extravagância sexual proposto por Madonna.