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Madonna: uma entrevista, por David Blaine

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Aqui está a entrevista traduzida completa de Madonna com o mágico David Blaine para a Interview Magazine….

“Deus lhe deu um rosto”, disse Hamlet, “e você cria outro”. Porém, se ele conhecesse Madonna antes de fazer tal citação e, consequentemente, profetizar muito da cultura moderna, ele poderia ter acrescentado: “…e outro, e outro, e outro…”.

O fenômeno pop nascido com o nome de Madonna Louise Ciccone, no Michigan de 1958, se tornou, ao longo da carreira como cantora, compositora, atriz e cineasta, o paradigma vivo da apresentação como um personagem. E sua mutabilidade evolucionária – a habilidade explosiva de crescer e mudar e viver múltiplas e espetaculares vidas na frente do público – deu a cada telespectador e ouvinte sua Madonna favorita. Dos primórdios na Nova York dos anos 80 à deusa sexual do livro Sex e o esplendor equestre na Inglaterra, cada capítulo da vida dela é relatado como um tipo de parábola “Dickensiana” de perseverança, força de vontade ou auto-invenção, ao se entrelaçar em ambições loiras, yoga ou orações.

E talvez o ícone Madonna seja a sua melhor forma de arte – algo tão vastamente influente quanto incomensurável, unindo todos na mesma trilha sonora, com todas as sensibilidades que ela informou, emocionou, desafiou, provocou e reimaginou novamente; todas as noções de beleza de um artista que ela moldou e remoldou. Com o 13º álbum a ser lançado em 2015, Madonna alcança um novo nível de talento artístico, criatividade e, talvez, identidade. Mesmo que ela se reinvente outra vez, ela permanece uma obra-prima.

Em uma noite de novembro, Madonna conversou com o amigo, o artista, o mágico e o dono de um talento inclassificável David Blaine em Nova York, sobre o poder do silêncio, a necessidade do fracasso e a sabedoria de ouvir a palavra “não”.

DAVID BLAINE: Trouxe vários cartões com perguntas que considero divertidas, então será nosso plano B.
MADONNA: Um plano B ou você quer que eu escolha uma agora?
BLAINE: Escolha uma. Mas não quero que você escolha a mais óbvia, que está na ponta.
MADONNA: Não sou dessas. Nunca escolho o óbvio.
BLAINE: Devo ler pra você?
MADONNA: Sim, não entendo sua letra.
BLAINE: Esta é boa. Eu fiquei em uma caixa por 44 dias em completo isolamento. Foi um confinamento auto-imposto. Mas…quero que feche seus olhos. Você consegue imaginar como é estar completamente isolada, sozinha, sem ninguém com quem conversar?
MADONNA: Por 44 dias?
BLAINE: Por um dia. Você já fez isso?
MADONNA: Não.
BLAINE: Ok, então pense nisso. Como seria?
MADONNA: Eu gostaria de fazer isso, no atual momento da minha vida.
BLAINE: Fique de olhos fechados.
MADONNA: Ok, desculpe. Acho que eu gostaria muito, da paz e quietude, porque sinto que as pessoas estão sempre falando comigo, para mim, pedindo coisas, me questionando, querendo informações, trabalho, música, barulho, filhos – é interminável. Então, a ideia de um dia inteiro de silêncio parece muito sedutora pra mim.
BLAINE: No que você acha que pensaria?
MADONNA: Eu teria ideias. (Ambos riem)
BLAINE: Ideias. Você pode tê-las com o barulho.
MADONNA: Sim, mas quando chego em casa do estúdio, só quero silêncio. Não quero falar com ninguém. Não quero responder perguntas.
BLAINE: É importante fazer isso, de vez em quando.
MADONNA: Voltei a fazer Yoga, o que não acontecia há anos. Estou muito acostumada a me exercitar com música bem alta, e, quando você faz Yoga, você só escuta a sua própria respiração. Acho isso incrivelmente… qual é a palavra? Não é satisfatório, mas…
BLAINE: Catártico.
MADONNA: É catártico, com certeza. Mas, não, isso me preenche. Gosto da ideia de ir a um desses retiros nos quais você não fala – tipo, silêncio por cinco dias. Não sei que conseguiria isso agora com filhos pequenos.
BLAINE: É como os monges fazem. Na verdade, acho que todos os monges e santos neste nível extremos de privação…
MADONNA: É essencial…
BLAINE: Não, acho que é quase egoísta.
MADONNA: Não é egoísta se te faz ser uma pessoa melhor.
BLAINE: Quando faço isso, me torno uma pessoa melhor pela duração. Daí, quando saio, me sinto um animal.
MADONNA: Mas você é um porco egoísta de qualquer jeito – é outro ponto. (Blaine ri) Você não está ligado à matriz. Ok, deixe eu organizar os cartões, pois tenho TOC.
BLAINE: (Ri) Calma. Vamos avançar. Novamente, você vai fechar os olhos. Ok, sem olhar. Agora, você está sentada nesta cadeira, neste quarto, mas não pode sair da mesa. Você pode se encostar se ficar desconfortável. Você pode ficar de pé, se alongar, o que quiser. Mas está completamente sozinha. Não há ninguém para interrompê-la, ninguém com quem conversar. O que aprende? Você desiste? Enlouquece? O que você sente?
MADONNA: Por quanto tempo?
BLAINE: Você ficará aqui por um dia inteiro. Eu fiquei 44, então um dia é pouco.
MADONNA: Acho que o silêncio seria bom pra mim, e a não-interação com as pessoas seria legal. Mas não poder sair do recinto seria difícil. Não poder circular – a imobilidade do meu corpo, fisicamente – seria o desafio.
BLAINE: Você falaria sozinha? Cantaria?
MADONNA: Eu cantaria.
BLAINE: O que cantaria?
MADONNA: Não sei. Dependeria do que estivesse acontecendo em minha vida naquele momento. Uma canção judaica? (Ambos riem). Shalom Aleichem. É sexta à noite, então…
BLAINE: Você se lembra da sua primeira canção favorita na infância? Só por curiosidade.
MADONNA: Sim. Só não lembro do nome.
BLAINE: Como ela é?
MADONNA: Você quer que eu cante pra você?
BLAINE: Claro! Está louca?
MADONNA: É parte da entrevista?
BLAINE: É a melhor parte!
MADONNA: Posso abrir os olhos?
BLAINE: Não.
MADONNA: Oh, Jesus! Então, é privação visual também. Ok. (Ela canta) Conheço um lugar onde ninguém vai / Há paz e quietude, beleza e repouso / Está escondido em um vale, atrás de um riacho montanhoso / e lá, ao lado do riacho, descubro que posso sonhar / Com coisas, com beleza, flocos de neve e montanhas elevando-se aos céus / Agora, sei que Deus criou este mundo para mim.
BLAINE: Isso foi lindo. Uau! Quantos anos você tinha quando ouviu esta canção?
MADONNA: Minha mãe cantava para mim aos 4 anos. Meus filhos sabem cantá-la também.
BLAINE: Ok, pode abrir os olhos. Parabéns.
MADONNA: Parabéns pra nós.
BLAINE: Você conheceu muitos artistas incríveis nos primórdios em Nova York. Quais artistas você espera que inspirem seus filhos hoje?
MADONNA: Bem, todos eles morreram.
BLAINE: Artistas vivos, que você conheça – quem você espera que inspire as crianças do futuro?
MADONNA: Gosto do Banksy. Acho ele inspirador e ele fala sobre o que acontece no mundo, socialmente. Gosto de JR. De (Jean-Michel) Basquiat e Keith Haring, que começaram como artistas de graffiti – sua arte está nas ruas, disponível a qualquer um. Não é elitista. Você pode ver o trabalho de Banksy ao dirigir pelas ruas. E o trabalho de JR – a forma com que ele fotografa as pessoas e os transforma em herois nas comunidades e faz as pessoas se orgulharem de quem eles são. Meu filho está estagiando com JR agora e é uma ótima educação para ele.
BLAINE: Nos cartões, há uma questão diretamente do JR. Mas você não a lerá agora. Eu deveria ter te levado nesta direção, mas tudo bem.
MADONNA: (Ri) Você é a pessoa mais neurótica que já me entrevistou, a propósito.
BLAINE: (Ri) A quais cenas de filmes você assiste várias vezes em sua mente? Tipo, eu vejo Daniel Day-Lewis em Haverá Sangue (2007) várias e várias vezes.
MADONNA: Este é um ótimo filme. Vejo In The Mood For Love (2000) de Wong Kar-wai. A cena em câmera lenta naquela linda Chinesa subindo as escadas, pra cima e pra baixo, várias vezes. Repito tudo daquele filme na minha mente. A filmagem em trilhos quando ela está no quarto com o amante, e eles estão comendo – que filme lindo, como uma dança! O filme O Ano Passado em Marienbad (1961) de Alain Resnais, outro dos meus favoritos, foi o filme que criou a ideia de filmagem com a câmera em trilhos, eu acho. (Andrei) Tarkovsky é outro dos meus diretores favoritos, e há muitas cenas lindas nos filmes dele.
BLAINE: Há alguma cena na qual o ator faz um monólogo?
MADONNA: Oh, atuando! Achei que você estava falando sobre filmagens. Não consigo lembrar de uma cena específica, mas tudo o que Al Pacino faz na trilogia O Poderoso Chefão, como Michael Corleone.
BLAINE: Ou John Cazale sentado na cadeira e gritando…
MADONNA: Bem, não, quem está sendo entrevistado: você ou eu? Essa é a sua cena. Pra mim, eu vivo indiretamente através de Michael Corleone. Gostaria de lidar com a vida assim como ele. Quando ele conta a… qual o nome dele?… Quando ele conta o que fará em uma pequena viagem de pescaria. Meu Deus! Brilhante! Ou a cena na qual Marlon Brando está falando com a esposa morta no caixão em O Último Tango em Paris (1972).
BLAINE: “Sua porca imunda!”. Supostamente, ele estava cansado de atuar durante esta cena, então começou a grunhir como um porco no trailer, apenas para zuar. Daí, ele sai e improvisa a cena para a esposa, e sai assim, “Sua porca imunda!”. Minha citação favorita do Brando, que eu busquei no Google antes de vir pra cá, diz: “Você pode sempre ver o quão bem sua carreira está indo baseado nos dentes das pessoas”. Ele dizia que você pode julgar o que fez baseado na quantidade de dentes que pessoas aleatórias, como aeromoças, mostram quando lhe veem, o quão grande é o sorriso deles.
MADONNA: Que engraçado!
BLAINE: Acho que esta também é importante, de Henry Ford: “Pensar é o trabalho mais difícil que existe, o que explica por que tão poucos se ocupam com isso”. E a razão por eu dizer isso é porque quando lhe conheci…
MADONNA: Há uns cem anos.
BLAINE: Fui com você a um museu e você teve toda a exposição do pintor Edward Hopper só pra você. Lembro que você rascunhava ideias enquanto olhava as pinturas. Já fiz muito trabalho braçal – trabalhei com construções – e posso dizer que é mais fácil pra eu fazer um truque do que decidir o que fazer. Pensar é o mais difícil. Como um amigo disse quando eu era jovem: “Sabe, o que Michael Jackson faz é fácil”. Tínhamos, tipo, 10 anos. Mas a maioria das pessoas presumem que é fácil porque você trabalha muito pra fazer parecer fácil.
MADONNA: Mas esse é o nosso trabalho. Estamos em um mundo de criação de ilusões, para darmos às pessoas a habilidade de sonhar e se inspirar. Então você não quer que as pessoas vejam o trabalho nos bastidores. E eu fui treinada, como bailarina, a manter o rosto relaxado, não importa o quanto você esteja sofrendo. Você deve criar esta ilusão. É parte do seu trabalho.
BLAINE: Você diria que pensar é a parte mais difícil do seu trabalho?
MADONNA: Não. Dormir é a parte mais difícil do meu trabalho, e relaxar também. Me desprender das coisas. Pensar não é algo em que se pensa, mas vem naturalmente. Pensar envolve muitas coisas. É parte de ser observador. Isso envolve análise, a compreensão do que lhe rodeia e descobrir como inspirar seu trabalho ou transformá-lo em lição para seus filhos. É a atenção que se presta aos detalhes. Isso é pensar: processar informação.
BLAINE: Por isso, é importante ter tempo.
MADONNA: Falamos disso antes – separar um tempo para orações. O ritual da oração não é algo religioso como ter um momento ritualístico para reconhecer as coisas e não subestimá-las. Por exemplo: o fato de você acordar e haver ar em seus pulmões; o fato de ter um emprego; o fato de ter amigos; o fato de ter saúde. Você fará algo que lhe trará alegria. Nós subestimamos essas coisas. E, sabe, acho que é importante chamar os anjos pra lhe protegerem.
BLAINE: Explique isso.
MADONNA: Bem, é parte do momento ritualístico. O chamado dos anjos.
BLAINE: O que isso significa? Quais anjos? Tipo, meu anjo é minha mãe.
MADONNA: Sua mãe estará com você em todos os momentos. Há outros anjos além de sua mãe. Minha mãe também me protege, mas ela não é a única.
BLAINE: Você diria que sua mãe é parte da força que lhe move, um pouco?
MADONNA: Bem, esse é outro ponto. Tenho certeza de que, até certo nível, ela é, mas, na verdade, a ausência dela também seria a força.
BLAINE: Ela faleceu quando você era muito jovem. Isso lhe fez acreditar que a vida é curta?
MADONNA: Fiquei obcecada com a morte, e a ideia de que você nunca sabe quando ela chegará, então você deve fazer de tudo para aproveitar o máximo da vida. Esta seria uma força motivacional. E a morte foi uma grande parte da minha infância. Eu fui a muitos funerais… mas você saiu do assunto. (Ri) Estávamos falando de Henry Ford. Estávamos pensando sobre o pensar.
BLAINE: Pedi a alguns dos meus amigos artistas para fazerem uma pergunta. (O diretor) Darren Aronofsky perguntou se você acha que as pessoas são, intrinsicamente, boas ou más.
MADONNA: Acho que são intrinsicamente boas. Sim, pronto. (Ambos riem) Somos todos bons, intrinsicamente, apenas cobertos, às vezes, por sujeira e escuridão. Nosso trabalho é nos livrarmos disso, descascar as camadas e revelar nossa bondade.
BLAINE: Como os seus primeiros anos em Nova York, no meio de grandes artistas, influenciaram as escolhas que você faz em sua arte hoje?
MADONNA: Lembro de conversar com Keith (Haring) e com Basquiat sobre a importância de sua arte ser acessível às pessoas. Esse era o detalhe deles – ela deve estar disponível a todos. Era muito importante pro Keith ser capaz de desenhar em metrôs e muros. E o Basquiat sempre me dizia: “Você tem muita sorte por fazer música, porque ela toca nos rádios em todo lugar”. Ele achava que o que eu fazia era mais popular, mais conectado à cultura popular do que o que ele fazia. Mal sabia ele que sua arte se tornaria cultura popular. Mesmo assim, nós não conversávamos sobre o significado da arte. Lembro de ouvi-los conversando sobre isso.
BLAINE: Você saía com eles?
MADONNA: Sempre! Com Martin Burgoyne, meu colega de quarto e também artista, Keith Haring e Basquiat. Às vezes, Warhol vinha conosco, mas ele não falava muito.
BLAINE: Então você estava no meio dos melhores artistas do mundo. Você estava muito à frente do seu tempo.
MADONNA: Bem, eu sobrevivi. (Risos)
BLAINE: Mas você sabia o que era ótimo antes de todo mundo.
MADONNA: Pessoas criativas me atraíam. Você não quer ser a pessoa mais esperta do lugar; quer ser a mais estúpida. Você quer estar ao redor de outros pensantes que dirão algo que nos faz pensar: “Oh, meu Deus, que ideia incrível! Por que não pensei nisso?”. E, de alguma forma, nos encontramos em Manhattan. É muito doido. Nos encontramos e nos conectamos, andando juntos pela cidade. Eles me ajudaram nos shows, e eu os ajudei nos deles. Éramos uma unidade. E nem sei como aconteceu. Apenas aconteceu.
BLAINE: Você aprendeu muito com eles?
MADONNA: Eles eram incrivelmente dedicados ao trabalho. Sabe, Basquiat foi meu namorado por um tempo, e me lembro de acordar no meio da noite e não vê-lo na cama comigo. Ele estava de pé, pintando, às 4 da manhã, bem perto da tela, viajando. Fiquei pasma com isso, com o fato dele trabalhar quando sentisse a energia. E eles empregavam qualquer um. Keith conhecia crianças nas ruas e os chamava para esticar as telas dele. Basquiat levava vários B-Boys e grafiteiros pro apartamento dele. Ele dava muitas coisas. Acho que se sentiam culpados por terem sido bem-sucedidos e estarem rodeados de pessoas mais pobres, então eles compartilhavam o que tinham. Eram pessoas incrivelmente generosas, e eu peguei isso deles. Dessa forma, você se inspira. Eu jamais poderia trabalhar em um estúdio onde você tem esta vista maravilhosa e uma praia, com as ondas batendo. Pra mim, preciso estar em um quarto minúsculo com janelas pequenas. É quase como estar em uma prisão. E você pode criar beleza quando está em um ambiente de privação, que é uma recriação dos seus anos de formação.
BLAINE: Acabei de ouvir a canção Devil Prays (do novo álbum), e é incrível pra cacete. E não é que você estivesse usando drogas, mas tem tudo a ver…
MADONNA: Bem, não, é sobre como as pessoas usam drogas para se conectar a Deus ou a um nível de consciência mais alto. Eu sempre digo: “Se conectar à matriz”. Se você fica chapado, você consegue fazer isso. E é por isso que muitas pessoas usam ácido ou drogas, porque eles querem se aproximar de Deus. Mas haverá um curto-circuito e essa é a ilusão das drogas, porque elas podem te dar a ilusão de estar se aproximando de Deus, mas, no fim das contas, elas te matam. Te destroem. Sabe, eu já tentei de tudo, mas, assim que ficava chapada, passava o tempo bebendo litros de água pra tirar tudo do meu organismo. Assim que chapava, só pensava em tirar isso de mim. (Blaine ri) Eu dizia: “Ok, pra mim já deu”.
BLAINE: Essa canção foi escrita a alguém específico?
MADONNA: Não, eu apenas compartilhei minhas experiências. Há maneiras diferentes de se conectar a um nível de consciência mais alto e este é o truque do diabo. É a ilusão.
BLAINE: Então, quando você escreve uma canção assim, você fica sozinha?
MADONNA: Não, trabalho com um músico. Ele começa a tocar o violão e as ideias vêm a mim. Tenho um computador no meu colo e começo a escrever a letra, pensando em uma melodia. Daí, eu vejo como fica e peço a opinião dele. Cada um contribui com um verso. Gosto de ver as palavras escritas, elas me inspiram. Poesia, leitura, linguagem, jogo de palavras – estar rodeada de compositores talentosos faz você desenvolver uma compreensão inata de quais notas soam bem quando juntas. Não penso muito nisso, pra ser sincera. Você ouve a música, lê livros, assiste a filmes. A arte de outras pessoas te inspira. Eu não seria nada sem a arte de outras pessoas.
BLAINE: O que mais te inspira?
MADONNA: Meus filhos, coisas que eles dizem. Tipo, meu filho veio ao estúdio outro dia e disse que não queria ir pra casa. Eu disse: “Não, você tem que ir pra casa, é hora de dormir”. E ele respondeu: “Mãe, me sinto isolado do seu coração”. (Blaine ri) Eu disse: “Oh, é um bom verso. Tenho que usar isso”. Você pega de todo lugar, o bom e o ruim. Você deve estar aberto a tudo. O sofrimento inspira muito, é um grande catalisador pra criação. Você pega a sua tristeza, seu desespero, seu senso de injustiça e coloca no trabalho.
BLAINE: É mais fácil compor quando se está triste ou feliz?
MADONNA: Triste. (Risos) Infelizmente, mas tudo bem, pois estou triste na maior parte do tempo, então ficamos bem. Não triste, mas chateada com alguma coisa.
BLAINE: Vamos escolher outro cartão? Se você pudesse voltar no tempo e falar consigo mesma aos 7 anos, o que diria? Quantos anos tinha quando sua mãe faleceu?
MADONNA: Seis.
BLAINE: Ok, então nesta época. O que você diria a ela?
MADONNA: “Essa merda vai melhorar”. (Risos) Naquela época, eu era obcecada por ficar doente e sempre manifestava sintomas. Eu diria a ela: “Tudo vai ficar bem”. Eu diria a mim mesma: “A sensação de ter formigas se arrastando em seu coração não significa que você tem câncer. Esta vida será longa e o mundo se desdobrará pra você. Você será capaz de realizar seus sonhos e encontrará pessoas que serão professores e guias pelo caminho. Você encontrará figuras maternas em outras áreas da sua vida, então não se desespere”.
BLAINE: Isso é bom pra cacete! (Madonna ri) Ok. Próximo cartão. E se você acordasse um dia e a música já não significasse nada pra você?
MADONNA: Impossível! Mas eu encontraria algo diferente que tivesse significado. É assim que eu sou. Eu simplesmente encontraria outra coisa.
BLAINE: A pergunta do JR é: “Você acha que artistas podem se tornar líderes?”.
MADONNA: Acho que sim. Bob Marley era um líder, por exemplo. Bono é um líder. Alguns artistas não querem tomar tanta iniciativa e se tornarem políticos demais em seu trabalho, mas acho que algumas pessoas querem, sim. Acho que Maya Angelou foi política e uma líder, e John Lennon, James Baldwin, só pra dizer alguns.
BLAINE: Outro artista ao qual eu pedi pra fazer uma pergunta pra você foi o ator Edward Norton. Ele pergunta: “Existe um caminho alternativo para a vida que você escolheu e que você acha que lhe faria feliz?”.
MADONNA: Ser professora.
BLAINE: Minha mãe era professora.
MADONNA: Talvez eu seja a sua mãe em um universo paralelo.
BLAINE: Acho que é a profissão mais importante que existe.
MADONNA: Concordo.
BLAINE: Isso responde a próxima pergunta, que é sobre a profissão mais importante.
MADONNA: Prostituição, lógico! (Ambos riem)
BLAINE: O que mais lhe atrai em um homem?
MADONNA: Os olhos e as mãos.
BLAINE: A NASA levou uma coisa ao espaço chamada Voyager 1, cheia de todos os tipos de arquivos humanos. Coisas que, em um bilhão de anos, quando o mundo não mais existir, ainda estarão flutuando lá para alguma outra vida inteligente descobrir. Quais relíquias da humanidade você teria colocado na Voyager?
MADONNA: A música de Chopin. Água, pois água é misericórdia e você não vive sem ela.
BLAINE: No quê você colocaria a água?
MADONNA: Em uma garrafa com o rótulo “Água Benta”. (Ambos riem) Um rolo do Velho Testamento. Uma tábua de xadrez com peças. Algo no que escrever: papel em branco e uma caneta tinteiro.
BLAINE: Qual foi a última lição que alguém lhe ensinou?
MADONNA: Aprendi a surfar neste verão. Foi muito difícil. Eu levantava e pegava uma onda.
BLAINE: Deve ser complicado pra você, pois é duro fracassar. Você é sempre vista bem-sucedida, certo?
MADONNA: Sim. Mas sempre que me apresento, aprendo uma nova habilidade. Sempre preciso fazer algo que nunca fizera antes. Tipo, na última turnê, aprendi o slackline, então foi um pesadelo, porque você continua caindo e tem que se levantar, cair de novo e aprender a se equilibrar. É muito difícil.
BLAINE: É difícil fracassar na frente de pessoas com quem você trabalha?
MADONNA: Não vou dizer que sou ótima em fracassos, mas, se você é artista e gosta do processo de aprendizagem, você aceita os erros. Eu ando a cavalo, e, depois de não fazê-lo por um tempo, sempre digo ao meu instrutor: “Ok, finja que sou iniciante. Não quero pular. Não quero fazer nada extravagante. Só quero que finja que sou iniciante”. E não me julgo. Se eu erro, já aceitei que vou errar. Meus filhos me colocam em várias atividades incomuns pra mim. Eu surfei porque meu filho me perturbou. Andei de ski porque meus filhos me perturbaram. E digo: “Bem, por que não? Vou errar, mas tudo bem”. Estou de bem com isso.
BLAINE: Então você é boa em aceitar erros e superá-los.
MADONNA: Em certas situações. (Risos) Erros são desafios. Erros são um convite.
BLAINE: Você diria ser assim com tudo?
MADONNA: Se eu gostar, sim. Não gosto de fazer tudo. Tipo, sou uma péssima cozinheira. (Risos) Não me sinto inspirada a continuar cozinhando. Se eu tivesse que fazê-lo pra sobreviver, eu o faria.
BLAINE: Você ouve “nãos”? Alguém diz “não” pra você?
MADONNA: O tempo todo! Mas, sim, como iremos transformar o “não” em “sim” ou como eu irei conseguir o que quero apesar de ter ouvido um “não”, ou como posso fazer este “não” vir a meu favor? Ou, beleza, vou aceitar esta rejeição e encontrar outra maneira de fazê-lo. Sabe, o “não” é tão valioso como o “sim” no jogo da vida. Na verdade, ele é essencial. (Ela se vira aos membros da equipe na sala) Não tenham ideias, pessoal. Voilà.

David Blaine é um mágico e ilusionista, morador de Nova York.

Ilusionista David Blaine e Madonna juntos no Art For Freedom

madonna david blaine Art For Freedom secretprojectMadonna anunciou na última sexta que o ilusionista David Blaine estaria com ela como curador-convidado para a edição de Dezembro do projeto +, a competição online que ela iniciou em Setembro com a empresa de multimídia Vice. O objetivo do programa é encorajar artistas, fotógrafos, videógrafos e poetas a criar trabalhos que destaquem a justiça social.

Na competição, novos trabalhos podem ser enviados ao site do Art For Freedom (http://artforfreedom.com), de onde Madonna e o Sr. Blaine escolherão projetos a serem postados diariamente. O vencedor, escolhido no fim do mês, ganha um prêmio de $10 mil, a ser doado a uma organização sem fins lucrativos escolhida pelo campeão.

O vencedor de Novembro, anunciado na última sexta, é Amber Fares, de Speed Sisters, um filme que ela está fazendo sobre um time de corrida totalmente feminino da Palestina, no qual uma das corredoras, Noor Daoud, iguala a corrida com liberdade. O prêmio em dinheiro será entregue ao término do filme. Os prêmios será dados mensalmente até o próximo mês de Setembro.