Em 25 de outubro de 1994, o álbum “Bedtime Stories” foi lançado, com uma indicação ao Grammy de “Melhor Álbum Pop” e sete milhões de cópias vendidas. Leia abaixo duas críticas deste incrível álbum.
ROLLING STONE
Depois de tantos problemas nos anos anteriores, Madonna merecia estar furiosa. Esta raiva cicatrizada vem com tudo no álbum “Bedtime Stories”, e Madonna desenvolve estratégias de sobrevivência. Uma feminista de exemplo, e não de palavras e tratos, Madonna parece verdadeiramente chocada com o recato hipócrita dos antigos fãs, fazendo todos esperarem por algo bem chato. Mas, ao invés de consciente, “Bedtime Stories” demonstra um desejo de perder a consciência. Madonna ainda quer ir pra cama, mas desta vez é debaixo das cobertas.
E mesmo assim, Madonna criou um som bem persuasivo. A troca do sexo pelo romance trouxe quatro produtores renomados de R&B: Dallas Austin, Kenneth “Babyface” Edmonds, Dave “Jam” Hall e o britânico Nellee Hooper (Soul II Soul), que adicionaram baladas com um toque exuberante. Com todo este talento, o disco é um sucesso. Os sons pesados do baixo levam o sentimentalismo à tona, o que é um prazer às paradas.
Algumas canções – “Survival”, “Secret”, “I’d Rather Be Your Lover” – vibram pelas caixas de som. E Madonna destroi os críticos com um sintetizador em “Human Nature”: “Eu disse algo errado?/Ops, não sabia que não podia falar de sexo (eu devia estar louca)”.
Mas você não precisa ouvir que ela “curte uma tristeza” ou que “a solidão sempre foi um amigo”, como ela canta na triste “Love Tried To Welcome Me”. Os vocais melancólicos já o fazem na doce “Inside Of Me” e nos versos chorosos “A felicidade está em suas mãos/Levei muito tempo para entender”, de “Secret”.
O disco vai do pesar ao esquecimento com o “techno” sedutor de “Sanctuary”. O zumbido pulsante da faixa-título (composta por Björk e Hooper), com o refrão sussurrado “Vamos perder a consciência, amor”, abre mão da linguagem pelo torpor.
Envolta em uma dúzia de canções de amor, “Bedtime Stories” brada “Foda-se, ainda não acabei”, mas você tem que prestar atenção para entender esta mensagem. A mensagem de Madonna ainda é “Se expresse, não se reprima”. Desta vez, no entanto, ela vem de maneira sussurrada.
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Quando Madonna declarou que “apenas quem inflige a dor pode acabar com ela” no álbum “Erotica”, de 1992, ela não estava de brincadeira. Após a ginga “erótica” e o notório livro “Sex”, Madonna providenciou o bálsamo “Bedtime Stories”, um álbum conceitual e macio que se revela como um conto de fadas musical.
Durante anos, Madonna falou por metáforas, fantasias e táticas chocantes, mas ela atirou com força nos críticos em “Human Nature”: “Ops, não sabia que não podia falar de sexo (eu devia estar louca)/Não sabia que não podia falar de você”. Seja na balada poética “Love Tried To Welcome Me”, inspirada em uma stripper que Madonna conheceu em uma boate, ou a encantadora “Sanctuary”, na qual ela cita o poema “Vocalism”, de Walt Whitman, Madonna parecia mais interessada em literatura e psicologia humana do que em biologia sexual desta vez. A mistura de tristeza e romance (ela compara a rejeição a um afrodisíaco em “Forbidden Love” e iguala morte e desejo em “Sanctuary”) revela uma mulher que deve ter precisado bastante de terapia.
O primeiro single do álbum, “Secret”, talvez seja a performance mais crua da carreira. Violões acústicos, vocais suavez e as batidas R&B do produtor Dallas Austin transportam o ouvinte ao mundo problemático, mas consolador de Madonna. Apesar dos temas bobos e dos múltiplos produtores, é este anseio que segura o álbum como um todo. O trabalho com produtores famosos é raro para Madonna, então Babyface, que co-compôs e produziu “Take A Bow”, não teve tanta companhia.
A balada confunde amor e dor, com palavras de um tal William Shakespeare para ajudar na dramática conclusão: “O mundo todo é um palco/E cada um tem o seu papel…Mas como eu ia saber que você partiria meu coração?”. “Take A Bow” se tornou o single de Madonna com mais tempo nas paradas, mas a composição de Björk “Bedtime Story” talvez seja o single que menos cumpriu o potencial de “hit” em 20 anos de carreira de Madonna. “Vamos perder a consciência, amor”, ela canta de maneira hipnótica com batidas pulsantes.
A canção foi uma dica do som pop-eletrônico que definiria a fase mais recente da carreira de Madonna.