Madonna fala sobre Trump, filmes e mais para a Billboard

entrevista-madonna-billboard-magazine-elizabeth-banks

A atriz Elizabeth Banks, que estrelou “Destino Insólito” com Madonna em 2002, a entrevistou para a mais recente edição da revista Billboard de dezembro. Não deixe de ler!

Onde você está hoje?
Estou em Nova York, tentando organizar meu evento de arte para o “Raising Malawi”. Apenas lidando com artistas e gente temperamental.

Quantos artistas serão apresentados?

Serão provavelmente 12 trabalhos de arte. Eu quis dar preferência a artistas que eu coleciono ou amigos, ou até mesmo arte da minha própria coleção. No início, seria apenas arte, mas agora temos experiências, então estou tentando deixá-las o mais interessantes possível. Por exemplo, uma peça é de uma viagem minha ao Malawi, o berço de meus filhos David e Mercy. Outra é de um jogo de pôquer com Jonah Hill e Ed Norton, além de uma na casa de Leonardo DiCaprio em Palm Springs. Não achei que seria tão complicado, mas, enfim, é a vida. É complicado porque mexo com tudo: a iluminação, as cortinas, as flores, a decoração, a comida. Já provei muito vinho ruim. Este leilão é uma extensão minha, então quero que tudo esteja lindo e de bom gosto. Fica cansativo porque preciso estar presente em todos os aspectos: quem vai falar, os figurinos, as músicas…

Chegará o dia em que você não será mais tão controladora ou é, tipo, uma necessidade pra você?

Sim, uma necessidade.

E de onde vem isso?

Lógico, você deve pensar que tem a ver com minha infância, se for me analisar: minha mãe morreu e eu fiquei com esse sentimento de perda, traição, surpresa… Daí, por não ter o controle na maior parte da minha infância, me tornei uma artista que queria estar em todas as partes. Ninguém vai falar ou tomar decisões por mim. Pode-se dizer que sou maníaca por controle. É o que todos gostam de dizer. Não quero participar de um evento de que não me orgulhe. É como tudo o que faço. Meus shows, meus filmes, minha casa, a forma com que crio meus filhos. Fico muito ofendida quando os detalhes são ignorados.

Quero te perguntar sobre o “envelhecer” no mundo da música. Em Hollywood, como você sabe, são raras as mulheres que permanecem relevantes ao ficarem mais velhas. Imagino que seja ainda mais difícil ser uma mulher de certa idade na música Pop. Quando você entra em estúdio ou sai numa turnê como a “Rebel Heart”, você se preocupa em permanecer relevante?

Não ligo pra isso. O resto da sociedade, sim. Não penso na minha idade até alguém dizer algo sobre isso. Sinto que possuo sabedoria, experiência, conhecimento e um ponto de vista importante. Um adolescente é assim? Talvez não, mas tudo bem. Entendo isso. “Relevância” é um chavão que as pessoas usam por vivermos num mundo cheio de discriminação. A idade só é considerada quando se fala de mulheres. Ela está conectada ao sexismo, machismo e misoginia. Quando o Leonardo (DiCaprio) tiver 60 anos, ninguém vai questionar a relevância dele. Eu sou relevante nesta sociedade que odeia as mulheres? Bem, para os educados que não são machistas, eu sou.

Falando nisso, o que achou do resultado das eleições?

Parecia que alguém tinha morrido. Uma combinação de tristeza com traição, como quando alguém que você ama demais te abandona, ou morre. Sinto isso todo dia; acordo e digo: “Calma aí, Donald Trump ainda é o Presidente”, e não foi só um pesadelo. Parece que as mulheres nos traíram. O percentual de mulheres que votaram no Trump foi ridiculamente alto.

E por que acha que isso aconteceu?

Mulheres odeiam mulheres. Acho que foi por isso. A natureza das mulheres não é apoiar umas as outras. É muito triste. Os homens se protegem, e as mulheres protegem os homens e filhos. Elas ficam reclusas, e os homens se soltam. Muito disso tem a ver com ciúme e um pouco de incapacidade de aceitar que uma delas poderia liderar uma nação. Outros nem se importaram de votar por não gostar de nenhum dos candidatos, ou por acharem que Trump não tinha chance. Eles abriram mão do poder e tudo desabou.

Você ficou surpresa?

Lógico. Fiquei arrasada, surpresa, em choque! Não durmo direito desde a eleição dele. Estamos f*didos!

Você conhece alguém que votou no Trump?

Sim, e já discutimos bastante.

O que eles dizem?

Que preferem ter um homem de negócios bem-sucedido comandando o país a uma mentirosa. É um absurdo! As pessoas não acreditam no governo. Vivemos em um país comandado por banqueiros. De certa forma, faz sentido ter Donald Trump como Presidente. O dinheiro manda, e não a inteligência, a experiência, a moral, a habilidade de tomar decisões sábias ou de pensar no futuro da raça humana.

O que você acha que os artistas dirão?

Já vi muitos protestos em Manhattan, mas, no im, os protestos devem ter sentido. Algo deve se manifestar.

Você acha que pode ajudar a mudar algo?

Bem, claro que você sabe a resposta. Estou tentando pensar numa resposta pro Trump. Gosto da ideia de mulheres marchando em Washington, no dia seguinte à eleição. Quero estragar a festa dele. Eu vim nesta Terra para lutar pelos oprimidos e contra a discriminação.

Você já conheceu o Presidente?

Eu não o chamaria de amigo, mas já o conheci. Fiz uma sessão de fotos anos atrás no Mar-a-Lago em Palm Beach, para uma campanha da Versace. Ele é um cara amigável e carismático, daquele jeitão de macho-alfa. Eu gostava dos erros políticos dele. Claro, não sabia que ele se candidataria à Presidência 20 anos depois. Pessoas como ele estão por aí, beleza. Mas eles não podem ser Chefes de Estado. Não consigo botá-lo junto com Barack Obama no mesmo lugar, no mesmo emprego.

Quando vai ao Malawi ou viaja pelo mundo, você deve ter uma impressão do quanto o nosso Presidente afeta o planeta.

Somos a piada mundial agora. Não podemos mais criticar outros governos, outros líderes. Tenho vergonha disso tudo.

O que você aprendeu com o trabalho no Malawi?

Eu realmente percebi o que acontece no resto do mundo. Este trabalho me conectou a organizações e ONGs (organizações não-governamentais) em outros países na África. Me uniu à importância do Ensino Médio para meninas, pois elas não têm incentivo ao estudo na África. Tenho trabalhado no Malawi por mais de 10 anos. Tenho um grande compromisso e amor pelo país, e nunca vou abandoná-los. Adotei meus dois filhos e tenho muita sorte por tê-los em meu lar hoje. Desde então, não tenho medido esforços para tentar transformar o Malawi em um país autossuficiente. Tenho construído centros de auxílio a órfãos, clínicas e escolas, e muito mais. Também tenho apoiado o cirurgião-pediatra Eric Borgstein, um anjo em forma de gente que dedica a vida a cuidar de crianças. Ele é incansável e destemido, e faz várias cirurgias por dia, nas condições mais calamitantes. Não dava mais pra aguentar, então construí um hospital. Tenho subsidiado a educação de outros cirurgiões para trabalhar com ele, pra que ele não faça tudo sozinho. Este é o verdadeiro propósito deste evento: doações com arte. É com a arte que me expresso, e é com ela que vou mudar o mundo.

Quando vejo suas mídias sociais, você posta sobre o Malawi ou sobre sua família.

Minha família é tudo, eu lutaria por eles. Seja qual for a minha luta, ela é por minhas filhas e filhos. Quero que eles tenham um bom futuro. Eu criei uma família não-convencional e conversamos sobre tudo na mesa de jantar. Meu filho de 11 anos é capaz de discorrer sobre Malcolm X e Martin Luther King, Nelson Mandela e James Baldwin. Minha filha Mercy toca piano e pode falar com você de Nina Simone. Me orgulho muito disso.

Como você decide quando incluir seus filhos nas mídias sociais?

Quando posto coisas deles, é porque tenho permissão. Muitas vezes, eles me mandam fotos e dizem: “Por favor, não poste isso”, e não posto. Eles têm contas privadas e eu respeito isso. Também considero meus filhos parte do meu trabalho, e do trabalho que fazemos juntos.

E quanto ao seu lado diretora?

Quero fazer mais filmes, e vou fazê-los. Já escrevi roteiros e espero realizá-los, mas quem sabe? Filmes são complicados. Há muita gente envolvida. Quando saio em turnê, simplesmente digo: “Beleza, estou saindo em turnê”. Mas com filmes, não tenho este tipo de controle. É muito mais frustrante pra mim.

Além do Trump, o que preocupa a Madonna? Você sequer se preocupa com alguma coisa?

O quê?! Me preocupo com absolutamente tudo: com meus filhos o dia todo, com minha saúde, com meus prazos a cumprir. Me preocupo com meus projetos, se vou conseguir dormir à noite, com a situação mundial. Não há nada com o que não me preocupe.

Leia a opinião de artistas sobre o papel de Madonna em suas vidas

“Quando penso na grandeza de uma lenda, sempre penso em Madonna. Ela sempre foi verdadeira consigo mesma como artista. Ela faz as coisas do jeito dela em todas as circunstâncias, e isso me inspira. Por ela nunca abrir mão daquilo em que acredita e por correr riscos, ela fez História. Trabalhar com ela foi um dos momentos mais importantes da minha carreira. Ela é a maior chefe de todos os tempos!” (Nicki Minaj)

“Madonna abriu caminho para as garotas no Pop se expressarem sexualmente, sem pedir desculpas. Eu realmente admiro o que ela criou!” (Tove Lo)

“Madonna sempre foi uma inspiração pra mim. Ela é uma mulher forte que sabe o que quer e não compromete a própria visão. E ela não tem medo de se reinventar – com cada álbum, ela experimenta mais e se arrisca. É preciso ter muita coragem, e isso motiva a todos nós.” (Britney Spears)

“Madonna é uma artista singular. Ela criou a popstar moderna e vence limites há mais de 30 anos. Ela é uma lenda viva, e ainda traz esta incrível energia jovem.” (Diplo)

Deixe um comentário