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Rebel Heart Tour em Nova York: Não há ninguém como Madonna

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No primeiro de dois shows da Rebel Heart Tour na histórica arena, a Rainha traz Amy Schumer, Game Of Thrones, freiras travestis, um ukelele e os melhores sucessos

O álbum Rebel Heart foi atormentado por vazamentos, ela caiu de costas no Brit Awards e as gafes no Instagram lhe deram dor de cabeça. Ao chegar no Madison Square Garden para o quarto show da 10ª turnê (a última sob o contrato de 10 anos e US$120 milhões com a Live Nation), ela veio pra acabar com tudo! Mesmo assim, Madonna sempre dá o melhor de si quando é provocada, quando o instinto assassino que a sustentou ao longo de 30 anos na indústria vem à tona, em uma recusa visceral à derrota.

O ato de abertura escolhido não poderia ser mais apropriado. Um erro na teoria, mas um sucesso na prática, assim como Madonna, Amy Schumer assumiu o palco à frente de uma enorme imagem de Madonna olhando pro céu com uma espada rente ao peito, com a grande máquina de música Pop atrás dela. Com uma garrafa de champanhe, um microfone e um banquinho, a comediante do momento disse que ouviu a seguinte pergunta: “Quem melhor do que você para abrir o show da Madonna?”. “Uh,…”, ela retoricamente respondeu, “…alguma banda?.

Mesmo assim, a percepção que Amy teve da plateia, onde quase não há homens heterossexuais (“É como tomar banho em uma banheiros de pintos que não te querem!”), contagiou a todos antes mesmo de Madonna subir ao palco.

25 anos depois da apoteótica Blond Ambition Tour, a visão de um show Pop de Madonna – no qual a música se combina a dança, vídeo e figurino para reconceituar antigos sucessos – já é copiada por gerações de astros. Ela também é conhecida por encher o show com músicas novas. À primeira vista, os sinais não são promissores: tudo começa com um filme de Madonna se contorcendo dentro de uma jaula, enquanto uma voz clama que a criatividade está sendo ameaçada por grandes corporações (algo irônico, já que Madonna é uma formidável corporação por si só). Daí, ela desce do teto enquanto soldados em armaduras marcham pelo palco, cobrindo grande parte da arena. É Madonna no estilo Game Of Thrones.

A primeira canção é Iconic, um dos pontos fracos do álbum Rebel Heart, seguida de Bitch I’m Madonna, um grande título em busca de uma canção decente. Mas quando os dançarinos saem de cena e Madonna desce a passarela tocando guitarra, o show pega velocidade, com Burning Up. Uma das canções mais antigas, ela se torna um manifesto (“Farei de tudo, não sou a mesma, não tenho vergonha!”). Mesmo após todos esses anos, ela tira o seu ar.

Aos 57 anos, Madonna ainda tem fome de arte, e a performance dela é crua e verdadeira. Profunda e conceitual, ela é a líder do picadeiro do próprio circo, conectando-se ao âmago de maneira instintiva, sem importar a coreografia, pirotecnia e os figurinos extravagantes (criados por uma bateria de estilistas – mas quem se importa?).

A incrível habilidade de encher de significado canções que pareciam vazias é o ato que se segue. No disco, Holy Water é uma metáfora estendida e envergonhada das secreções vaginais dela. Mas no palco, é uma fantasia na qual freiras travestidas dançam em mastros (inclusive Madonna, de salto alto e girando sobre um homem nu, um dos momentos mais perigosos do show). A cena segue com uma inquietante paródia da Última Ceia, na qual Madonna acaba amarrada na mesa, de pernas abertas.

Duas outras faixas do álbum vieram – a insegura Devil Pray e a linda Messiah – antes da segunda parte do show, ambientada em uma oficina dos anos 50, onde Madonna e os dançarinos pulam com Body Shop (outra faixa sem graça no álbum) antes de se juntarem numa pilha de pneus para ela cantar True Blue, ao som do ukelele. Daí em diante, fica claro que a Rebel Heart Tour conecta o momento presente de Madonna com a energia e a coragem dos primeiros anos – há muitas obras-primas aí. HeartBreakCity, apresentada no topo de uma escada em espiral, se mistura à versão cover dos anos 80 de Love Don’t Live Here Anymore, de Rose Royce, antes de partir para Like A Virgin, atualizada ao século 21, mas apresentada sozinha, com a sedução e a agressividade imposta no lançamento.

Daí veio o tema mexicano, com Madonna elegante e, claro, cantando La Isla Bonita, a única canção antiga que ela reinventa em toda turnê, junto com Dress You Up, Into The Groove e Who’s That Girl? – uma canção, segundo ela, sobre “não saber porra nenhuma de si mesmo”. É uma afirmação do relacionamento instintivo e firme com o público latino.

A faixa-título Rebel Heart é apresentada com artes de fãs no telão, representando as muitas facetas dela, embora o show revele o quão consistente ela tem sido apesar de tudo, baseada sempre no poder insuperável de transformação do Pop. A reta final é só prazer, com Madonna em um figurino dos anos 20, cantando uma versão Jazz de Music (só no visual – musicalmente, ainda tem o lance robótico irresistível de 15 anos atrás), e, logo depois, Material Girl, em cima de uma plataforma de vídeo que se inclina a 45 graus, na qual Madonna empurra os dançarinos um a um, assim como no clipe.

E ainda há um momento de intimidade, com Madonna no fim da plataforma circular com o ukelele, anunciando que irá cantar uma de suas músicas favoritas. O que sucede é uma versão solitária de La Vie En Rose, de Edith Piaf, revelando surpreendentemente que, mesmo depois de todos esses anos sendo ignorada como cantora, Madonna manda bem nos vocais.

Finalmente, Madonna traz Amy Schumer de volta ao palco durante Unapologetic Bitch, batendo nela e dando uma banana como prêmio. Com o desafio aceito, Schumer finge colocar a banana por trás, para o delírio da plateia.

Holiday é a curva da vitória. Madonna dissera antes: “Estou muito nostálgica hoje… cantei aqui há 30 anos”. O show dela no Madison Square Garden parece a última parte de uma performance que durou 32 anos, sobre estrelato e uma afirmação de que simplesmente não há ninguém como ela.

Nesta noite, Madonna foi destruidora! (The Guardian)

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