Madonna vai deixar o triste palhaço pra trás nos shows da Austrália?

MADONNA TEARS OF CLOWN REBEL HEART TOUR AUSTRALIA

O “triste palhaço” de Madonna não foi visto no meio das freiras sem calças e com crucifixos no palco de Melbourne. Ela subiu ao palco com apenas 45 minutos de atraso, depois de fazer os fãs esperarem na chuva na última quinta-feira (10) para o show no Teatro Forum, o primeiro em 23 anos.

Madonna voltou ao que faz melhor: apresentar um grande show. E os fãs foram à loucura na arena Rod Laver. Claramente emotiva, ela não manteve segredo quanto à amarga batalha pela custódia do filho Rocco. Madonna até bebeu um pouco no palco, dizendo aos fãs que era a primeira vez em que ela fazia isso em toda a carreira. “Meus erros não têm fim. Nunca mais quero causar dor na vida de alguém!”, disse ela.

Desde que chegou em Melbourne na segunda-feira (07), Madonna não parou de ensaiar. Mas isso não é novidade. Na última visita à Austrália, em 1993, quando um show externo seria cancelado por causa do mau tempo, ela buscou um lugar para os dançarinos ensaiarem mais, ao invés de tirar a noite de folga.

Ela contratou a Arena Hisense para ensaios intensos na terça-feira (08), antes de passar quatro horas montando o show Tears Of A Clown, começando às 22h de quarta.

Madonna é uma perfeccionista, mas este show foi diferente de tudo o que ela fizera antes, e nada parecido com o show super moderno da Rebel Heart Tour.

No Forum, Madonna não dançou, não houve trocas de figurino… apenas um coração aberto e ferido. Ela dedicou a canção Intervention (“Preciso salvar meu bebê…”) ao filho Rocco, com fotos dele no telão.

“Todos sabem da saga entre meu filho Rocco e eu. Não é uma história divertida para se contar, nem para se pensar.

Provavelmente, eu poderia ter me divertido mais nesta turnê se ele não tivesse sumido tão repentinamente, e também se eu soubesse quando o veria outra vez”, lamentou ela.

Aos 15 anos, Rocco, que dançou com ela na MDNA Tour, de 2012, abandonou a Rebel Heart Tour para ficar em Londres com o pai Guy Ritchie e a nova esposa. A filha Lourdes, de 19 anos, está na faculdade, enquanto os dois filhos mais novos David e Mercy viajam com Madonna.

As batalhas pela custódia ficaram mais feias entre Madonna e Ritchie, que supostamente só fala através de advogados. Madonna se referiu a ele como um “babaca” no palco, e, na Nova Zelândia, disse que choraria se continuasse falando do filho.

A jornalista Liz Smith é amiga de Madonna e, em fevereiro, escreveu uma carta aberta fervorosa sobre a situação. Ela relatou que Rocco preferia o estilo de vida mais “sem graça” do pai, e que Ritchie levou mais de US$75 milhões do divórcio com Madonna em 2008. Segundo ela, Madonna ficou “arrasada” com tudo o que aconteceu.

“Eu a vi com todos os quatro filhos. Ela é defensora ferrenha da educação, da autodisciplina e da motivação. Apesar da imagem profissional e da personalidade nos palcos, Madonna é uma boa mãe e não, apesar das aparências, hedonista ou autodestrutiva. Nada de drogas, bebidas e desperdícios”.

Smith também se pronunciou sobre aqueles que mencionam a idade de Madonna (57) como prova de que ela deveria usar mais roupas, mostrar menos pele e se afastar da controvérsia. “Eu, assim como outros, posso até reprovar alguns dos figurinos dela, ou como ela se porta em ensaios fotográficos ou no Instagram, mas esta não é a rotina diária dela. Ela segue a própria filosofia e se recusa a ser rotulada ou criticada pelo que os outros consideram ‘apropriado’ a uma mulher de 57 anos. Ela gosta de nos enlouquecer”, disse.

Kylie Minogue (47), que se encontrou com o empresário Guy Oseary, sofre com o mesmo problema. “Há muita coisa em comum entre Madonna e eu neste aspecto. Não acho que as pessoas querem ver Madonna em um vestido velho de uma senhora grega, né? Elas querem glamour, querem fantasias. Talvez não faça sentido no dia-a-dia, seja lá qual for a sua definição de ‘normal’. Nem eu sei mais”.

As últimas cinco turnês mundiais de Madonna desviaram da Austrália, e Madonna pediu desculpas aos fãs, afirmando que o tempo com a família e a escola dos filhos vêm em primeiro lugar. Liz Smith disse em bom tom o que alguns fãs australianos temiam, que ela não iria ao continente. Fato este que não aconteceu.

“Tenho quase certeza de que seguir com a Rebel Heart Tour tem sido uma agonia, mas Madonna não seria ela mesma se desistisse de tudo. O que ela ganharia com isso? Críticas negativas, fãs enfurecidos e o filho ainda estaria na Inglaterra”, profetizou Liz.

Nicole Condon, uma fã de Melbourne, já gastou mais de $20 mil indo às turnês que não vieram ao país. Ela também administra a página Madonna Australia. Nicole disse que o show no Forum foi o mais emocional que ela presenciou. “É uma situação bem real, ela é mãe e não dá pra fingir choro. Ela luta com a situação toda, ela é humana. As pessoas se esquecem disso. Ela baixou a guarda e se ficou com menos medo de mostrar as emoções.

O show no Forum não foi nada polido. Para um fã, é um momento impagável, e nós adoramos. Ver toda essa luta com confiança, se render ao controle foi um risco enorme pra ela. Foi um outro lado dela, a baixa da guarda. Talvez, neste estado emocional, ela precise ser criativa e expressar isso”, finalizou.

No show, Madonna contou aos fãs que muitos perguntam quando ela vai parar de se apresentar em turnês. “Acho que é a pergunta mais estranha a se fazer. Não há um limite para a criação. Quando Pablo Picasso pintava, as pessoas diziam pra ele parar? Não mesmo. Eles não diziam para Charles Chaplin parar. Eles diziam para Hugh Hefner parar?”, questionou.

Esta foi a deixa para Don’t Tell Me, cheia de referências a misoginia. Quando o álbum Rebel Heart foi lançado ano passado, ele chegou ao #1 na Austrália (o 11º a conseguir tal feito), mas as rádios a ignoraram, dizendo que a música dela não cumpria o formato deles.

É um assunto que Tina Arena, que estava na plateia do Forum, abordou nos ARIA Awards no ano passado. Ela citou a si mesma, Madonna, Kylie Minogue e Annie Lennox como artistas que ainda fazem música, mas são ignoradas pelas rádios, que um dia as aceitou. “Quero ainda reconhecer que as senhoras com mais de 40 permanecem no jogo. Continuem fazendo isso, senhoras, porque nós vamos decidir quando devemos parar”, disse Arena durante o discurso de indicação ao Hall Of Fame.

Enquanto Madonna é vista como sendo muito velha, o colaborador dela Diplo ganhava muita atenção das rádios com sucessos de artistas mais jovens. “As rádios prezam a idade. Se você não tem 20 e poucos anos, eles não tocam a sua música. Isso é besteira, mas é assim que acontece”, disparou Madonna no fim do ano passado.

“Vivemos em uma sociedade que se baseia em idade. Já fiz de tudo pra tentar mudar a percepção que as pessoas têm das mulheres, de idade, do que é possível e de por que qualquer um de nós deveria se limitar independente de nosso sexo, preferência sexual, idade, crenças religiosas, raça etc. Portanto, pra mim, é chocante hoje e nesta era em que aceitamos casamentos gays ainda tratarmos as mulheres de forma tão sexista. Esta é outra fronteira que ainda não foi conquistada. Se eu fosse homem, tudo seria diferente”.

Madonna está acostumada a ser ignorada: ela foi rotulada como “artista de uma só música” assim que o primeiro single Holiday foi um estouro em 1983. Depois de 83 singles e 300 milhões de cópias vendidas, ela provou que é a artista mais bem-sucedida e em constante evolução da sua geração.

Neste mês, a turnê dela arrecadou $1 bilhão. Apenas seis artistas conseguiram este feito, estando Madonna no #3 atrás dos Rolling Stones e Bruce Springsteen. Os outros são U2, Elton John e Bon Jovi. “Madonna é uma das melhores artistas ao vivo do mundo”, disse o amigo e jornalista australiano Molly Meldrum. “Ela sempre foi tão ambiciosa, até mesmo quando eu a conheci em 1984. Nos shows dela, todo mundo no palco dá 100% de si, mas ela vai aos 110%. Ela pode parecer durona, mas quer tudo perfeito”.

O show no Forum teve também referências ao primeiro marido, o ator Sean Penn, além à visita que fez a ele na cadeia, quando foi preso por abusar de paparazzi que os perseguia. Na Rebel Heart Tour, ela ressuscitou True Blue, uma canção que ela escreveu sobre Penn em 1986.

No ano passado, ele foi ao show no Madison Square Garden em Nova York, indo aos bastidores contar que finalmente deu crédito a ela como artista, 30 anos depois. “Ele disse algo assim. Ele já foi a muitos shows meus, sempre me apoiou e me reconheceu. Acho que ele, sei lá, com o tempo e conseguindo ser mais objetivo, coisas assim…”, Madonna contou a um jornalista.

A dupla continua amiga. Liz Smith disse que Madonna “não se arrepende” do casamento com Penn. “Acredito que ela se arrepende mais do casamento com Ritchie, menos do filho Rocco”.

Smith também questionou a motivação do diretor Ritchie ao escalar Madonna para um filme no qual ela interpretou uma estrela de cinema que sofrera abuso pelo motorista, e para o fracasso Destino Insólito, no qual interpretou uma mulher muito rica que sofrera abuso por um empregado.

“Madonna entrou de cabeça no casamento com Guy. Tanto, que fotos do casamento nunca foram a público. As núpcias dela não apareceram na mídia. Os dois “Sim” de Madonna – para Sean e Ritchie – foram totalmente sinceros. Aquela garota católica do Michigan está sempre oculta por baixo da “extravagante” estrela.

Madonna toca no Brisbane Entertainment Centre na quarta e quinta-feira (16-17) e na arena Sydney’s Allphones nos dias 19 e 20 de março.

Set-list do show:

Send in the Clowns (Glynis Johns cover)
Drowned World/Substitute for Love
X-Static Process
Between the Bars (Elliott Smith cover)
Nobody’s Perfect
Easy Ride
Intervention
I’m so Stupid
Paradise (not for me)
Joan of Arc
Don’t Tell me
Mer Girl
Borderline
Take a Bow
Holiday

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