O show Tears Of A Clown de Madonna foi o tipo de coisa que você nunca imaginou ver uma popstar fazendo. Depois do show de duas horas terminar, pouco antes das 3 da manhã, muitos fãs saíam do teatro Forum pensando: “O que eu acabei de ver?”, e também se perguntando como chegavam em casa.
Como prometido, Madonna apresentou uma mistura de música, comédia e histórias. Tudo no tempo dela. Ela ensaiou até as 23h, deixando os fãs esperando do lado de fora – na chuva – até pouco depois da meia-noite, quando os portões se abriram.
Fãs do início da fila dormiam lá desde a segunda-feira (07), e esperavam que ela se atrasasse, mas nem tanto. Já dentro do teatro, os verdadeiros fãs de Madonna viam o espetáculo apenas como um sonho.
Para qualquer outra pessoa, vencedores de concursos ou convidados, foi uma experiência difícil, com muitos indo embora antes da abertura dos portões para pegar o último trem ou quando perceberam que não seria um show com os melhores sucessos – algo que ela nunca fez. Ao invés disso, quem ganhou ingressos pelo fã-clube pôde ver Madonna em sua forma mais crua e vulnerável.
Sem coreografias, nem dançarinos, e com uma versão mais simples da banda, Madonna tocou muitas canções que nunca performara antes. Vestida de palhaço e andando em uma bicicleta pequenininha, ela introduziu o show dizendo que era um “trabalho em andamento”, um fato repetido várias vezes durante a noite.
“Quero deixar algo claro. Se alguém acha que veio aqui para uma versão finalizada do show, a porta da rua é serventia da casa. Isto aqui é uma coisa totalmente nova. Não sei se vocês gostam assim”, bradou ela.
“Tive a ideia na cabeça para este show Tears Of A Clown, uma combinação de música e histórias, porque, no fim das contas, eu me considero uma contadora de histórias. Porém, é difícil pra car*lho, então sejam pacientes comigo e me apoiem de todas as formas que puderem. Fiz de coração. Escolhi estrear este trabalho em andamento, este ensaio, aqui na Austrália, pois me sinto mal por ter cancelado os shows aqui da última vez. Me desculpem. Vocês foram muito pacientes, esperaram por tanto tempo. Sinto que devo um presente a vocês, então eis o seu presente”.
E isso fez o show ser fascinante – e difícil – de assistir. Ninguém está acostumado a Madonna no palco fazendo nada que não seja exaustivamente ensaiado. Ela estava na forma mais crua e vulnerável, e cantou várias músicas tristes em sequência, incluindo um cover de Elliott Smith (Between The Bars). Os fãs tiveram que ouvir dela: “Eu não disse que seria um show alegre”. Na maior parte do show, Madonna interpretou um palhaço triste.
A sombra da batalha pela custódia do filho Rocco era como o elefante branco no salão. Alguns fãs acharam que ela cancelaria a passagem pela Austrália com a Rebel Heart Tour, mas ela vai seguir com o show, e revelando o lado humano mais do que nunca.
Madonna dedicou a canção Intervention, do álbum American Life, ao filho distante, cantando com fotos dele no telão. “Meus erros não têm fim. Todos sabem da saga de meu filho e eu. Não é uma história engraçada pra se contar ou pensar. Eu provavelmente teria me divertido mais nesta turnê se ele não tivesse sumido tão de repente, e também se eu soubesse quando o veria outra vez. Quero dedicar esta próxima canção ao Rocco”.
A letra começa com os versos “Tenho que salvar meu bebê (…)/ Sei que o amor vai nos manter unidos”. A voz de Madonna estava emotiva, e os fãs gritavam mensagens de apoio.
Diferente dos shows comuns dela, Madonna parecia estar à vontade. O tecladista jogou efeitos sonoros de risos e baterias após as piadas, enquanto Madonna de vez em quando apertava uma buzina de palhaço.
Apesar de parecer um pouco insegura e arrastada em alguns momentos, Madonna contou aos fãs que não estava bêbada, mas pediu álcool no palco. “Uma coisa que quero fazer e que nunca fiz antes é beber no palco”, disse ela, antes de duas dançarinas entregarem um Cosmopolitan. Infelizmente pra elas, eram as duas dançarinas, Aya e Bambi, que arrancaram a capa dela no Brit Awards do ano passado. “Elas são muito fortes”, destacou Madonna.
No entanto, ela rapidamente esclareceu que nunca bebe durante os shows de arena, altamente coreografados. “Acha que eu conseguiria terminar o show grande bêbada? Lógico que não!”.
As piadas? Madonna sempre teve um senso de humor negro, e a maioria delas não podem ser contadas de dia. A comediante Dawn French estava na plateia e ficou até o fim, às 2h50, então pense o que quiser.
Comédia não é o forte de Madonna; pelo menos, não ainda. Ela disparou piadas aleatórias ao invés de um show de stand-up. No entanto, ouvi-la falar da vida entre as canções foi outro momento raro pros fãs.
Com fotos do ex-marido Sean Penn perseguindo paparazzi, ela abriu o jogo sobre as confusões dele com a lei. “Ele passou um tempo na cadeia quando éramos casados. Fui visita-lo em uma prisão de segurança máxima. Ele estava numa cela especial, ao lado de Richard Ramirez, um serial killer”.
Daí, Madonna falou como o assassino era bonito. Talvez tenha sido por isso que ele seduzia várias mulheres e tinha várias fãs em fila pra vê-lo na prisão. “Sempre que ia ver meu marido, eu estava sozinha, graças a Deus, porque eu mataria qualquer uma daquelas vadias. Ele tinha dezenas de groupies de short curto e sem calcinha. Até mesmo serial killers têm fãs. Vivemos em um mundo muito estranho”.
Os fãs tiveram uma noção da rotina de trabalho de Madonna, quando ela mencionou que geralmente vai dormir às 6 da manhã. Ela se referiu à turnê dizendo: “Não estou ganhando nada com isso por causa das minhas multas por atraso”.