Crítica – O Rebel Heart Tour de Madonna bate em Montreal

madonna rebel heart tour montreal 2015-2

Ontem (09), em um segmento diferente da Rebel Heart Tour, sem adornos, após mais da metade do início do show na arena Bell Centre, Madonna anunciou que “iria cantar ao violão, onde tudo começou”. Antes dela mandar uma versão flamenca de Who’s That Girl, a surpresa de um fã chamou a atenção dela: “Sim, eu sei que toquei bateria primeiro, mas dá pra ver alguém atrás das baquetas? Sou leonina, gostamos de ser o centro das atenções”.

Portanto, ela ainda sabe das coisas. E, em um show sem medir gastos nem esforços, ela fluiu sucesso após sucesso, e provou mais uma vez que não deseja o holofote – ela o possui.

Montreal viu o primeiro show da turnê depois de cinco shows serem adiados para mais ensaios, mas já estava tudo pronto na noite de terça (tá, 99% apenas: “Este figurino é traiçoeiro”, exclamou Madonna quando um item cheio de joias rasgou uma peça). Com quatro seções temáticas e trocas de figurino, quase todas as músicas possuem um item próprio, com um pequeno exército de dançarinos graciosamente executando coreografias intensas.

E não dava pra ficar sem o lado provocativo. Qualquer um que esperasse que Madonna quebrasse novos tabus ficariam desapontados, já que ela já destruiu quase todos. Mesmo assim, a leve rebelião do primeiro segmento foi construída com temas já familiares: sexo, salvação, religião, opressão.

O vídeo de introdução colocou Madonna como fugitiva e líder, com imagens dela – e, por quê não, Mike Tyson – em cativeiro, e papos de “muita criatividade sendo destruída pelas rodas de marcas corporativas… é hora de acordar!”. Ignorando o fato de que Madonna há muito se tornou uma marca, era emocionante vê-la descendo do teto e saindo da jaula. Com um batalhão de soldados em armaduras caindo ao comando dela, Iconic foi insanamente teatral, digna de um espetáculo da Broadway, e apenas o começo.

Houve uma projeção de Nicki Minaj no telão, em meio a batidas estremecedoras de baixo em Bitch, I’m Madonna (raramente o título de uma canção foi mais perfeito para vender camisetas caras nas barracas de merchandising), embora a participação virtual tenha sido ofuscada por um ciclone de gueixas. Madonna tirou a blusa e brincou com os fãs de olhos arregalados (“Estou aqui!”), enquanto mandou ver na guitarra em uma agressiva Burning Up – em forma elementar, como a maioria dos sucessos do show.

E houve também as freiras strippers. Vinte e seis anos depois do clipe de Like A Prayer escandalizar o Vaticano e os pais que confiavam na MTV como uma babá de baixo custo, a visão das dançarinas torcendo crucifixos de aço enquanto Madonna bradava “Bitch, get off my pole!” em Holy Water foi propositalmente cômica. O quadro vivo da Santa Ceia que surgiu durante Vogue foi mais desafiador, assim como a batalha de dança em Devil Pray, que parecia defender a espiritualidade como droga mais poderosa.

Daí, o tom do show foi mais despreocupado, com uma cantora que claramente estava se divertindo. O segundo e mais modesto segmento centrou em uma certa jovem inocência; em uma exibição do talento de Madonna para o literalismo, ele começou com ela de bobeira no capô de um carro, brincando com os camaradas em uma extravagante Body Shop. Ela tocou True Blue no ukelele em cima de uma pilha de pneus. Foi lindamente exótico e exagerado, com um coral de 16 mil vozes; um momento arrepiante que parecia mais grandioso do que as obras-primas antecedentes.

O drama intimista de HeartBreakCity se revelou em uma escada espiral entre Madonna e um solitário dançarino, jogado à própria condenação em um clímax eficaz. Uma Like A Virgin esquelética foi enorme e muito pequena, com Madonna largada sozinha, espalhada pela passarela em formato de cruz com seu carisma. Sem problemas!

O terceiro bloco abriu com a nada sutil e irrealizada promessa de atos sem tanta censura, com os dançarinos fazendo passos sexuais enquanto S.E.X. tocava, antes de Madonna chegar lutando com demônios com os rostos cheios de joias ao som de Living For Love, exibindo um par de chifres como troféu no fim. Em um dos melhores momentos do show, ela fez uma suave transição para o romance latino de La Isla Bonita – um dos únicos sucessos a permanecer na versão original, com referências culturais que não irão ceder às mudanças de um artista inquieto.

Perigosamente na ponta de mastros de borracha e curvando com o vento em uma incrível exibição acrobática, os dançarinos quase roubaram o show sem Madonna no palco, em outra troca de figurino, ao som das batidas tontas de Illuminati. Após uma revisão no estilo Jazz de Music abrir uma festa, Madonna voltou ao jogo, atualizando a coreografia do clipe de Material Girl ao derrubar pretendentes na plataforma do centro do palco (a canção também foi atualizada, escurraçada dos anos 80 por um fim apocalíptico). Este foi o elemento-chave do elegante palco, que se elevava e voltava ao chão, e servia de tela e playground.

La Vie En Rose foi outro grande pequeno momento, com a introdução de um discurso sobre a crença no amor apesar de estar “devastada, feita em pedaços”, que pode virar rotina em algumas semanas, mas pareceu original nesta quarta-feira. Apresentada no topo de uma plataforma circular, a performance foi mais forte por ser vulnerável, e recebeu aplausos de pé que transcenderam qualquer tipo de carinho.

Ela arriscou toda essa adoração ao se enrolar na bandeira canadense durante a celebração obrigatória de Holiday. A julgar pelo manto estrelado dela, foi uma substituta temporária à bandeira americana…Este foi um gesto raro em um show quase perfeito, cuja polidez não mascarou a energia contagiante. As grandes apresentações foram elevadas por uma alegria admirável; as canções menos enfeitadas, por um calor genuíno.

Na segunda categoria, nenhuma se destacou mais do que a faixa-título Rebel Heart, uma afirmação de identidade e gratidão. Antes de agradecer aos trabalhos dos fãs projetados no telão, Madonna perguntou: “Será que realmente sabemos quem somos? Leva toda uma vida pra entender”. Outra interjeição da pista a fez rir: “‘Vadia, somos Madonna’. É, é um começo”.

O começo e o fim. A faixa-título e o show compartilharam um senso de autoconfiança e brincadeira. A primeira nunca teve dúvidas; a segunda foi uma revelação de uma artista cuja disciplina e perfeccionismo não comprometeram o amor pela diversão. (Montreal Gazette)

SETLIST OFICIAL
Iconic
Bitch I’m Madonna
Burning up
Holy Water/Vogue
Devil Pray
Messiah (Interlude)
Body Shop
True Blue
Deeper and Deeper
HeartBreakCity/Love Don’t Live Here Anymore
Like a Virgin
Justify my Love/S.E.X. (Interlude)
Living for Love
La Isla Bonita
Dress You Up (ft. Into the Groove/Everybody/Lucky Star)
Who’s That Girl
Rebel Heart
Illuminati (Interlude)
Music/Get Stupid
Candy Shop
Material Girl
La Vie en Rose
Unapologetic Bitch
Holiday

Mais fotos na fanpage do Madonna Madworld.

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