Durante uma entrevista para a BBC, Madonna mencionou que gostaria de fazer um show mais intimista e que permaneça em um local, em vez de rodar o mundo. “Já fiz muitos shows: turnês mundiais, estádios, arenas, tudo. Sinto que preciso reinventar isso também. Gosto de shows intimistas e de poder conversar diretamente com o público.
É algo que estou analisando agora – a ideia de um show que não rode o mundo, mas permaneça em um local e inclua não apenas humor e a música em um contexto mais intimista, mas também canções de outros artistas e mais entretenimento. É meio que um universo cheio de talento – dançarinos, músicos, cantores, comediantes, eu, humor. Sei lá! Tipo, estou criando esses conceitos agora.”
Ela também falou da vida em turnê, a mudança de conceitos a respeito de sexo e o recente problema com uma empresa de entregas.
BBC: Antes de começarmos, preciso saber de uma coisa. O seu pacote da FedEx chegou?
Madonna: Ha ha! Sim, chegou. A FedEx culpa a alfândega, a alfândega culpa a FedEx e a gente nunca vai saber o que aconteceu. Mas já recebi.
BBC: Então, eu assisti à Rebel Heart Tour em Londres e o DVD consegue registrar a emoção da plateia. Como você analisa isso?
Madonna: Eu estive presente em cada parte do processo, todos os dias por meses. É muito difícil registrar a verdadeira emoção, a energia, o sangue, suor e lágrimas. Estou satisfeita com o resultado.
BBC: Há uma parte emocionante em “True Blue”, na qual todo mundo se abraça.
Madonna: Eu sei, é um momento fofo e emocionante no show. Eu não esperava, mas, quando assisto no DVD, eu quase choro, porque todos parecem apaixonados.
BBC: Como você monta um show desses? De onde tira as ideias?
Madonna: Tudo depende da escolha de músicas. Então, primeiro, eu analiso o meu catálogo com a banda e começo a trabalhar no que me emociona e inspira naquele momento. Já não aguento mais algumas músicas e não quero cantá-las. Com outras, eu penso: “Não, já esteve na turnê passada, não quero repeti-la”.
Então, tento mudar as coisas e refletir o que sinto no momento, além das minhas inspirações artísticas, cinematográficas, políticas e filosóficas. Tento agrupar canções com um tema, e, daí, contar uma estória. Depois, parto para o visual. É todo um processo.
BBC: E quais músicas você não aguenta mais?
Madonna: Bem, eu costume não repetir as músicas da turnê anterior. Então, se cantei “Material Girl” ou “Express Yourself”, eu penso: “Tá, fiz isso em 88 shows. Não dá pra repetir”.
BBC: Como você mantém um equilíbrio entre as novas músicas e o catálogo?
Madonna: Vai dos ensaios. É difícil pra mim, especialmente com as canções antigas, apresenta-las com o arranjo original. Depois de 33 anos, você precisa reinventar as coisas. Bem, eu faço assim.
Pra mim, é divertido pegar uma música dos anos 80 e transformá-la numa salsa ou samba, ou fazer uma canção agitada virar uma balada.
BBC: O tema central da turnê foi a rebeldia. Na introdução, você diz “quando ditadores fascistas te atacam como homens íntegros”, você precisa se erguer e tomar uma atitude. Se a turnê fosse um protesto contra o atual cenário político, essa mensagem seria mais relevante?
Madonna: É, eu criei essa narração pro meu curta Secret Project. Acho que foi um sinal do que aconteceria, como uma profecia.
BBC: Você teve um pressentimento?
Madonna: Na época, sim – e acho que todo mundo achou que eu estava sendo dramática e radical, mas me senti presenciando o início de tudo na MDNA Tour. E, claro, olha o que acontece hoje. É uma loucura.
BBC: Há 27 anos, o Papa tentou banir um de seus shows. Hoje, você traz freiras fazendo pole-dancing e ninguém liga. Foi um progresso?
Madonna: Progresso? Bem, acho que dá pra chamar assim. Quando lancei meu livro Sex, a ideia de alguém nua nas ruas era um ultraje. Mas veja as redes sociais hoje, não é nada.
As pessoas se acostumam a tudo, mas não acho que seja um progresso. Minha definição de “progresso” é a mentalidade mais aberta das pessoas, compreendendo a diferença entre arte e abuso.
Quando o Papa me baniu, eu brincava com as ideias de religião e sexualidade, geralmente opostas. O sexo é considerado pecado na Igreja Católica e eu questionava isso, desafiava este ponto de vista, porque, obviamente, não concordo com ele.
O fato de ninguém ligar pras freiras nos poles, não significa que o Vaticano ou a Igreja Católica está refletindo ou analisando as próprias escolhas. Não acredito que as pessoas achem que a sexualidade e Deus talvez não devessem estar separados. Pra mim, isso seria progresso.
BBC: O DVD também inclui o show Tears Of A Clown gravado em Melbourne. Foi um evento único ou o experiment de um tipo diferente de show da Madonna?
Madonna: Eu gosto de shows intimistas e de poder conversar diretamente com a plateia; de brincar com eles e usar humor com a verdade, compartilhando minha vida e criando estórias. Gosto dessa liberdade e da intimidade, e gostaria de explorar mais disso no futuro.
BBC: Talvez uma residência?
Madonna: É, uma residência. Analisando a Rebel Heart Tour, minha parte favorita é a última, na qual eu sento no palco e toco o meu ukelele, cantando “La Vie Em Rose” e conversando com o público. Foi algo mais intimista. Mais participação da plateia e conexão com os seres humanos – sinto que quero mais disso.
BBC: Houve mais improvisação nessa parte?
Madonna: É, eu tenho mais liberdade e posso errar mais. É outro ponto no show Tears Of A Clown – se começo uma música da forma errada ou cometo um deslize, posso começar de novo.
Em um show de arena, tudo está conectado ao video, então não dá pra parar. Depois que começamos, devemos continuar. Há muita adrenalina nisso – mas zero possibilidades de erro. Assim, eu gosto da ideia de errar e improvisar. Algo mais espontâneo, é o que me anima neste momento.