MOJO: terceira parte da entrevista de Madonna traduzida

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Eis a terceira parte da entrevista de Madonna para a MOJO traduzida.

Sério, você nunca pensou que tudo seria mal-interpretado? “Não! Tô dizendo, não fazia ideia.”.

A boa música Pop deve sacudir as coisas, não é? “Sim. Talvez eu apenas inconscientemente escolho coisas que vão sacudir as pessoas sem realmente saber que isso irá acontecer. Honestamente, não sei. Não estava em meu laboratório matutando: ‘Ooh, isso vai acabar com todo mundo.’ (risos) Não…não sou assim. Então, parecia normal.”

“Não acho que havia qualquer tipo de intenção em chatear as pessoas”, diz Pat Leonard. “Nunca senti isso vindo dela. Nada foi, tipo: ‘Vamos manipular o sentimento e a emoção das pessoas.”. Acho que agora ela vai nos dizer que o single Like A Prayer (1989) não criticou duramente a Igreja Católica…

“Oh, mas a Igreja Católica precisa ser criticada, pelo amor de Deus”, ela exclama. “Não é? Em contrapartida, adoro ir a uma bela Igreja Católica e ouvir a missa em latim, e sentir o cheiro de incenso e toda a pompa e circunstância e drama de tudo. É lindo, é hipócrita, mas temos que criticar as nossas Instituições. Se você não o fizer, então você é meio fascista, que é o nosso atual cenário no mundo. Hey! Woo!”.

A equipe da revista MOJO contou a Madonna que, na semana anterior, tirou o vinil de Like A Prayer do armário e que, após 25 anos, ainda está com o cheiro da fragrância original de Patchouli. Tal fato a encantou visivelmente. “Que engraçado! Uau! Que perfume terrível, terrível! Não aguento ele.” Calma aí… você nem gosta de Patchouli? “Não mais. Tem cheiro de quem abraça árvores.”.

Convenientemente, da foto de capa hippie, de barriga de fora e jeans às letras confessionais, Like A Prayer foi uma mudança para algo mais adulto – de Promise To Try, a mensagem insuportavelmente triste à garotinha em luto de que ela estava prestes a perder a mãe, a Oh, Father, a carta abertamente acusatória ao pai. Parecia que Madonna queria provar algo, especificamente que ela podia criar um álbum adulto. Mas nem tanto, aparentemente.

“Não…de novo,”, ela continua. “Você realmente me marcou como alguém que tenta fazer coisas sem querer. Simplesmente aconteceu. Você só tem que se abrir e, daí, refletir onde está em sua vida. Isso é arte, isso é criar. Então, acho que é assim que me sentia na época.”.

Os anos 90 chegam, a imagem de Madonna se tornou ainda mais sexualizada, estabelecendo a notoriedade perante os tabloides e ofuscando as músicas, as batidas lentas de Erotica (1992) e o balanço R&B de Bedtime Stories (1994). Haveria um intervalo de quatro anos entre este último e Ray Of Light, mais complexo e introspectivo, apresentando os talentos psicodélicos e eletrônicos do produtor William Orbit. Muito havia mudado na vida de Madonna naqueles anos, com o nascimento da filha Lourdes em 1996, e a aceitação da Kabbalah.

“Comecei a estudar a Kabbalah quando estava grávida da minha filha, então acho que elas estão conectadas”, ela medita. Estes dois novos aspectos de vida te mudaram como artista? “Bem, me tornou mais ciente das minhas escolhas, minhas decisões, o que eu queria dizer, como tudo isso afetava as pessoas, enfim… Sinto que me tornou uma pessoa mais responsável. Sabe, há aspectos da Kabbalah que eu ainda não compreendo. Mas seria preciso dedicar minha vida ao estudo, o tempo todo, mas aí eu não seria quem sou. Mas eu certamente confiei e me ajudou muito como mãe e artista. De muitas formas, me levou ao caminho de mais perguntas (risos). Então, eu parei de questionar.”.

Ray Of Light trouxe Madonna de volta ao confessionário, com Drowned World/Substitute For Love revelando arrependimentos sobre a sufocante vida de celebridade; e a letra de Mer Girl retratava um voo temeroso da casa dela à terra do túmulo da mãe. Ela sempre escreve essas coisas e fica receosa de compartilhá-las com o público? “Uhn, uhn”, ela dá de ombros. “Gosto de contar o que outras pessoas não querem contar. Tentar dar voz a sentimentos meus, aos quais outras pessoas também possam se relacionar.”

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Ray Of Light e Like A Prayer são aclamados como os divisores de água do catálogo de Madonna. Ela presta atenção às críticas, boas ou ruins? “Não presto atenção”, ela diz, calmamente. “Tento não prestar muita atenção ao que as pessoas dizem sobre qualquer coisa que faço, pois, em 10 minutos, tudo pode mudar. Alguém acha que este é o seu melhor trabalho, enquanto outra acha que aquele é o seu melhor. No fim das contas, tudo é o seu trabalho. E alguns detalhes são transcendentes, enquanto outros, não.”

Quando não se revela tanto, as melhores músicas de Madonna soam como a melhor definição de modernidade. Foi esse caminho que ela escolheu, ao voltar à música de boates com Music, em 2000, e American Life, em 2003. Mas foi quando morou na Inglaterra que encontrou o “novo” Pat Leonard em Stuart Price, mais conhecido como Jacques Lu Cont, inserido no Mundo de Madonna como o Diretor-Musical de shows, na turnê Re-Invention Tour, de 2003.

Relembrando os velhos tempos quando trabalhou com DJs em pequenos estúdios em Nova York, e com Leonard em LA, Madonna decidiu fazer o álbum Confessions On A Dancefloor, de 2005, num estúdio que ficava no minúsculo flat de Price em Maida Vale, Londres. Foi, como ela lembra, um toque melancólico, uma experiência de liberação.

“Eu adorei aquele lugar”, ela diz. “Era pequeno e intimista, longe de tudo. Havia apenas uma pequena janela, de onde você via o céu. Éramos apenas Stuart e eu, e a mesa de mixagem e instrumentos, e ninguém podia se aproximar. Estávamos em nosso mundinho particular.”

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