Eis a quarta e final parte da entrevista de Madonna para a MOJO traduzida.
Mesmo assim, é surpreendente encontrar alguém como você gravando um álbum no apartamento de um cara inglês. “Por quê? O que alguém como eu faz?”. Bem, não é algo que você imagina ver uma grande estrela fazendo. “Oh, isso é besteira. Besteira, besteira, besteira”.
De lá pra cá, Madonna se apegou muito à Dance Music, em formatos diferentes: desde o R&B de Timbaland e Neptunes em Hard Candy (2008) aos sabores pesados da música eletrônica de MDNA (2012). O que faz a cultura das boates ser tão sedutora? “Apenas o sentimento de tribo, de comunidade”, ela se entusiasma. “Sabe, as pessoas juntas num cômodo. O baixo explodindo, todos dançando, se mexendo em união. Há algo bem primitivo e inexplicável nisso. Acho que está em nossa natureza querer fazer isso. Querer nos unir e dançar com uma batida. O batuque é muito antigo, assim como o fato das pessoas dançarem juntas como uma comunidade. Fazemos isso desde a evolução do Homem”.
À procura de colaboradores hoje em dia, Madonna busca os rebeldes, o que explica a presença de Kanye West em Illuminati e Wash All Over Me, de Rebel Heart. “Gosto que ele gosta de provocar”, diz ela. “Ele ouve a música de um jeito diferente e singular. Acho que o Diplo é assim também. Gosto de pessoas que pensam fora da caixinha, pois pegam uma canção que eu compus, que é bem direta e pop, e a desconstroem. Eles a despedaçam e transformam em outra coisa”.
No finzinho de 2014, o cantor/compositor e multi-instrumentista musicalmente esquizofrênico Ariel Pink sugeriu um alvoroço nas redes sociais quando afirmou ter sido convidado a trabalhar com Madonna para trazer algo “provocante” às sessões de gravação, achando que a carreira dela estava “em declínio”.
“Ele é um louco”, ela retruca. “Nunca estive com ele. Nunca pensei em trabalhar com ele. Não sei de onde ele tirou essa ideia. É possível que alguém mencionou o nome dele com mais milhões de nomes como possíveis parceiros. Mas nunca o escolhi e depois rejeitei”. Você nem ao menos conhecia a música dele? “Não, desculpe (risos)”.
Dois dos mais incomuns colaboradores de Rebel Heart são Dahi e Blood Diamonds, dois produtores de Los Angeles que se uniram para produzir algumas faixas do álbum. Madonna descobriu o primeiro através do trabalho com o rapper Kendrick Lamar; e o outro é um fornecedor de música eletrônica surreal, de 23 anos. “Pra mim, eles são complexos, interessantes e incomuns”, diz Madonna. “E são muito bons, muito espertos”.
Da parte deles, ambos estavam impressionados pelo envolvimento de Madonna como produtora. “Ela disse: ‘Quero que o som fique parecido com a Nova York de 1988”, nota Dahi. “Tudo que fizemos representou um momento ou experiência diferente”.
“Ela é definitivamente a capitã do próprio barco”, diz Blood Diamonds. “Ela sentava na bateria, pertinho de mim, e analisávamos palmas ou sons do baixo. Ela tem uma visão bem clara e é por isso que ela chegou até aqui”.
Em 2015, Madonna está lutando pra permanecer atual, moderna e, sim, provocante como sempre foi. Já são 10 da noite nesta noite de quinta-feira e há grandes possibilidades da sessão de gravação desta noite ir até as 4 da manhã. Aos 56 anos, e com muito pouco a provar pra ela mesma ou pra qualquer pessoa, ela continua viciada em trabalho, em cada detalhe, até quando prefere ter uma agenda mais social.
“Não prefiro trabalhar à noite”, ela admite, enquanto se prepara pra voltar à sala de controle. “Tenho filhos, então devo acordar de manhã, mesmo que trabalhe até tarde. Mas, daí, eu volto a dormir e eis o problema, já que acordo tarde e é um ciclo horrível”.
Mais do que um desejo prolongado pela fama em alto nível – que ela conseguiria manter com bem menos esforço – ou uma ânsia de competição, parece ser uma paixão resistente pela música que move Madonna. Ela é fã de Adele, Sam Smith e especialmente Beyoncé (“Acho que ela é uma ARTISTA”), e, às vezes, ela ouve uma canção que gostaria de ter composto. A última dessas foi a versão fraca e emotiva da cantora canadense Leslie Feist para Limit To Your Love. “Incrível”, ela reconhece.
Como uma entusiasta da música, ela não gosta de discutir as riquezas cada vez menores da indústria musical. “Será um canto fúnebre”, ela resmunga, antes de criticar novamente. “Não importa o quão marginalizados e instigados nós sejamos, iremos nos reerguer! E a música é algo necessário pra nós, seres humanos. Portanto, como podemos parar de fazê-la?”.