Chris Azzopardi, editor do Q Syndicate (o serviço a cabo LGBT internacional) escreveu uma crítica muito positiva do álbum Rebel Heart. Leia:
Como uma virgem, Madonna é pura outra vez. Purificada das tendências inconvenientes que estragaram trabalhos anteriores – especialmente o juvenil e pecador Hard Candy, e MDNA, melhor, mas ainda assim uma mistura bagunçada – nossa Deusa Abençoada volta ao raio de luz e aplica um novo brilho a um velho som.
Pra variar, Madonna traz a nostalgia pra perto. Na verdade, durante Rebel Heart, o lançamento mais sofisticado desde Confessions On A Dancefloor, de 2005, ela mantém a melancolia próxima. O resultado é um bom enredo torturante, mas autenticamente chocante, no deleite da glória do auge que deu à sonhadora do Michigan poder e, no fim das contas, uma coroa. Não importa o que a vida trouxe para Madonna – os filhos estão crescendo e ela também – Rebel Heart e ela estão bem melhores.
Observá-la aos 56 anos e em modo “autorreflexão”, à la Ray Of Light e American Life, é revigorante e, apesar da recusa de Madonna em envelhecer, confortável. Ela segura a sua mão durante a perseverante Ghosttown, uma balada melancólica que lembra This Used To Be My Playground. O mundo está magoado, Madonna medita, mas o amor cura. A canção é um pilar de esperança, um tema reciclado durante a inspiradora Hold Tight; é um abraço, quando ela relutantemente envia os filhos pra fora deste “louco mundo”.
A Mãe Madonna reafirma: “Aguente firme, tudo vai dar certo”, sob o som de uma bateria retumbante. Aproveitando-se de uma energia orgânica que estava faltando nos confeitos Pop fabricados produzidos por Pharrell, Rebel Heart cai na batida ao recapturar o lado cru presente particularmente no subestimado American Life. Body Shop resume isso bem, a insinuação sexual em segundo plano com a vibe folk influenciada pela música indiana. A voz dela está rala e plana, como se ela estivesse liderando um retiro de yoga.
As tentativas descaradas de ser relevante são menos eficazes, quando a provocante essencialmente parodia a si mesma em Holy Water, um exercício de excesso. Faça quanto sexo quiser, Madonna. E, de toda forma, escravize o mastro. Mas daí a gemer no álbum? Talvez seja hora de aposentar as alegorias religiosas cheias de referências sexuais.
Outra música fraca e safada, S.E.X. nem se importa com as metáforas (em um momento, ela aleatoriamente solta a expressão “carne crua”), usando promessas como “te levar a um lugar inesquecível”, mas isso não acontece.
O mais memorável em Rebel Heart é o fato de Madonna ser uma mensageira de amor, união e paz – “a feiticeira no âmago”, como ela coloca na poderosa faixa da versão Deluxe, Messiah. Há um alívio nestes momentos de meditação, nos quais ela olha pra dentro e manda a luz pra fora, quando a coroa, mesmo que brevemente, é retirada.
O ego é desmembrado. Pra variar, goste ou não, o ícone, a diva, a alta sacerdotisa do Pop – ela é real. “Não posso ser uma super-heroína agora / Até corações de aço podem quebrar”, ela lamenta em Joan Of Arc, um surpreendente reconhecimento direto às facetas que, particularmente mais recentemente, evadiram a essência de Madonna: sensibilidade, sinceridade e honestidade.
Tudo se completa com a faixa-título Rebel Heart, que encerra o álbum. Com uma linda memória, uma alegre Madonna analisa o caminho que escolheu pra si – e, obviamente, pra outros – através de uma determinação feroz e, você e ela sabem, um narcisismo. O álbum é quase o resultado de fronteiras quebradas e uma fanfarrice de vida toda – e, pela primeira vez em 10 anos, este Coração Rebelde bate mais forte do que nunca. Nota 7.