Madonna é, para melhor ou pior, considerada (bem ou mal) como a Rainha do Pop e, ao contrário da crença popular, o título faz com que seus braços com veias movam-se da esquerda para a direita em trajes de líder torcida. Ficamos com a sensação muito real quando se olha para Madonna em 2012 que percebemos em todos os sentidos que ela atingiu o ponto final da década de 1980. Quando, mais uma vez, ficamos sem palavras para definir a velha ‘Madge’, uma única frase vem à mente: “Ela literalmente conseguiu.”
Ela é, no entanto, a mesma Madonna que chega a San Jose para as apresentações de duas noites no HP Pavilion, em 06 e 07 de outubro. E da mesma forma que a advertência dos pais não surtam mais o efeito que já surtiram como nos anos 80, Madonna permanece cimentando o seu lugar na cultura pop e ainda faz barulho por onde passa.
Em honra da chegada da rainha, uma coisa deve ser lembrada (apenas uma) para realmente entender o que exatamente Madonna representa no vazio da cultura contemporânea. Porque, como é provável que você esteja lembrado, muitas vezes a própria Madonna abriu as portas para muitos jovens com vaginas e seu desejo de cantar.
A porta também é muitas vezes deixada entreaberta para a bajulação e imitação (válida ou não, e só para lhe atualizar, Lady Gaga, também está vindo à San Jose, em 17 de janeiro), mas as comparações parecem discutíveis: Nunca haverá uma “nova Madonna” porque nunca haverá novamente um momento como aquele, quando Madonna entrou em destaque. Ela é tão puramente o subproduto de sua época que as discussões sobre originalidade são quase totalmente sem fundamento.
Por exemplo, acreditem ou não, Zers Gen* (Geração Zero – em tradução literal), houve um tempo em que a apropriação irônica de imagens religiosas na verdade era um grande negócio. E como para algumas pessoas isso realmente importava, como em afiliadas da Igreja Católica que verdadeiramente protestavam. Agora é só uma chatice induzida (pelo menos no Ocidente), com todos usando uma cruz de cabeça para baixo como uma forma de fazer algum tipo de protesto.
Mesmo Madonna ainda usando esses velhos temas; sua atual MDNA Tour apresenta uma catedral e alguns arrulhos sagrados que pode ser mais o resultado de má acústica do que intenção estética. De qualquer forma, Madonna (cujo nome permanece como uma espécie de profecia auto-cumprida) foi uma das primeiras a realmente mexer com todos os que amam esse cultura hippie de “chinelão e cabelos compridos desleixados”.
É verdade, ela não estava sozinha. A década de 1980 foi o momento em que as desprezadas crianças católicas cresceram e começaram a colocar seu ressentimento religioso em sua arte (Bruce Springsteen completamente, The Cure, talvez, em parte). Mas Madonna fez primeiro e fez melhor, e literalmente não parou de fazê-lo, mesmo quando foi louvada e isso poderia fazê-la calar-se.
Ela estava em todos os lugares, ou seja, em qualquer coisa hedionda que tenha os anos 80 como tema que você já tenha visto. Entrar e encher os olhos no binário impressionante: luz neon para os homens; eclética mistura para as mulheres. A estética de misturar todos os estilos de moda que acabou se transformando em seu próprio estilo foi pelo menos parcialmente construída pela estrela pop.
Eu gostaria de dizer também que a palavra “estrela” (star) na frase anterior foi auto corrigida para “armazenar”(store), e se isso não lhe diz tudo o que você precisa saber sobre o estado atual e natureza intrínseca do pop e da música e da cultura , então eu não sei o que o faria.
No entanto, juntando cerca de 300 anos de Madonna (acho que houve um erro de digitação e na verdade ele queria dizer 30. Ou também pode estar fazendo uma alegoria de que seus 30 anos de carreira equivalem a 300), na verdade, se torna difícil, pois Madonna foi realmente a primeira estrela pop a nascer simplesmente como uma série de imagens e idéias mais do que qualquer catálogo singular de músicas ou vídeos ou esforços de cinema, ou mesmo um próprio perfil de relacionamentos.
Seus elementos mais marcantes são as escolhas de fotografias tiradas por Richard Avedon e similares, enquanto ela foi feita como Marilyn, vestida de Jean Paul Gautier, tiradas muitas vezes em preto-e-branco e com um sentido similar de minimalismo aplicado a sua própria mitologia: menina de Detroit foge para Nova York no auge da fusão da arte, moda, música e energia, e as façanhas da menina punk e pop foi dominar essa cultura com efeito. Esta é a história de Madonna, e isso realmente importa se foi divulgado e perpetuado pela própria?
Ninguém cuidou mais dessa imagem destinada a sustentar-se por cerca de 30 anos mais do que Madonna. Ela sempre foi obcecada por estar alguns passos à frente. Essa tática se aplica a sua música, pois ela é quem mais tem feito uma carreira localizando os sons que saem dos becos mais obscuros e colocando-os nas rádios cerca de seis a nove meses antes que eles realmente se tornem grandes sucessos (pense no New York clubhouse, no movimento Vogueing; e na house music eletrônica de “Ray of Light”).
A coisa sobre constantemente reinventar-se é que, em um certo ponto, você não está mais ajudando a definir a cultura, mas apenas lutando para permanecer relevante nela. Superficialidade é adotada como parte da lente pós-moderna. Mas o legado de Madonna está enraizado em uma crença genuína de que esses elementos têm sua importância. E quando o seu legado é mexer com a sociedade, o que é devido à provocação de um artista e o que é devido à sensibilidade inata do público? Madonna foi realmente brilhante na forma como ela abordou temas tão tabus como sexo e homossexualidade, ou foi numa época em que a América estava totalmente fechada, sem ouvir nada, que facilmente poderia ser provocada?
Difícil dizer com certeza, mas é mais difícil dizer se isso importa. Como uma estrela pop que gosta de abordar o exagero e a distração como elementos vitais do que ela vagamente chama de “sua arte”, Madonna conseguiu criar em si mesma uma imagem de como ela quer ser vista, mesmo (ou talvez especialmente) agora. Dessa forma, ela sempre se posicionou como uma estrela pop para ser desconstruída em uma série de motivos e idéias, um esboço vago do que a década de 1980 deve ter sido, até mesmo para as pessoas que podiam jurar que a conheciam.
METRO ACTIVE – ROD BASTANMEHR (Obrigado a Jorge Luiz pela tradução)