HUMAN NATURE – O HINO DE MADONNA QUE DEVERIA TER SIDO UM SUCESSO

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De Vogue a Take A Bow e Ray Of Light, Madonna criou grandes sucessos nos anos 90. Enquanto a maioria dos compatriotas Pop dos anos 80 lutavam pra permanecer nas rádios, Madonna manteve o mesmo nível de estrelato por toda a década, conquistando apenas duas entradas no Top 10 da Billboard a menos do que nos anos 80.

Mas, entre Bedtime Stories e Evita, Madonna viveu a primeira queda na carreira. Depois de vários anos de imagens e composições sexuais (do clipe de Justify My Love ao livro Sex) e algumas aparições públicas não tão voltadas à família (especificamente a entrevista de 1994 no programa de David Letterman), uma parte do público americano estava cansada dela em 1995. Os amantes do Pop puritano até aceitam um pedido sincero para manter um bebê, mas couro e chicotes são demais.

Ela voltou à forma com um filme de prestígio (Evita) e uma elegante coleção de baladas (Something To Remember), mas havia uma infeliz casualidade musical nessa calmaria: Human Nature.

Um dos poucos singles com influência do Hip Hop na discografia dela (há um sample de Main Source, o mesmo grupo de Rap que deu a Nas a primeira gravação em estúdio), Human Nature possui uma base profunda de Funk, enquanto mantém a produção leve e comum a muitos sucessos R&B dos anos 90.

Take A Bow – lançada um ano antes e presente no mesmo álbum, Bedtime Stories – foi um sucesso #1, mas Human Nature não saiu do #46, apesar de um clipe incrível e uma mensagem desafiante e poderosa. Liricamente, Madonna arrasa os puritanos que a culparam de estar focada no sexo, destacando que o assunto “tabu” é apenas a natureza humana – o elemento mais básico.

Ela também destaca que teria sofrido menos se fosse homem (“Seria melhor se eu fosse homem” é uma das perguntas retóricas sussurradas ao longo da música). E é complicado discutir com isso – algum dos diretores de filmes sexualmente explícitos sofreu tantas críticas como ela?

Além disso, o refrão “Expresse-se, não reprima-se” é clássico – o tipo de verso a ser repetido décadas à frente. Então, por que Human Nature não chegou ao menos ao Top 10?

Uma das razões pode ter sido o fato do single anterior, Bedtime Story, afastar muitos programadores de rádio e fãs casuais. A faixa, com participação de Bjork na composição, não fez sentido nas rádios dos anos 90, apesar de aventureira e revigorante, mas era estranha demais para a maioria dos fãs mais jovens (e, em 1995, ela tinha muitos deles).

Basicamente, foi o conteúdo da canção que não a deixou entrar na cultura de massa como singles dançantes anteriores. Human Nature foi criada como um desafio àqueles que acharam que ela exagerou ao lançar um livro inteiro dedicado a fotos eróticas, e essas pessoas não querem discutir sexualidade – só querem te castigar por falar disso. Apesar do verso “Não sou sua puta/Não desconte sua merda em mim” ter sido censurado para as rádios, a mensagem de Human Nature ainda era demais para quem odiava a persona Dita Parlo.

Human Nature é a Unapologetic Bitch original, mas ela veio numa época em que a ideia de uma mulher sem remorsos era ameaçadora demais para a maioria das pessoas – não apenas programadores de rádio e pais de família, mas até mesmo muitos fãs. Para um puritano, a única coisa pior do que uma mulher com um simbolismo proibido é uma mulher orgulhosa por ter um símbolo proibido.

De qualquer maneira, Human Nature se mantém como um dos melhores singles dos anos 90, e merece a saudação por não se desculpar por estar certo.

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