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MDNA Tour 2012 – A Experiência de ver Madonna

Madonna

MDNA. Madonna. Turnê MDNA. Pensei em tanta coisa enquanto estava assistindo a esse espetáculo. Pensei em escrever tanta coisa depois que ele passou. Pensei. Voltei de SP para MG maquinando parágrafos inteiros sobre essa experiência, sobre o que é está praticamente debaixo do ídolo, ver que ele existe, é palpável, é gente como a gente, com expressão cansada, mas profissional de primeira qualidade que não se deixa abater por nada. Pensei em escrever… e agora que me sento para fazê-lo percebo que são tantas coisas a serem ditas que as palavras fogem, não aparecem… ou seja, essa experiência é algo inenarrável! É algo que não cabe em uma crônica, em um conto, em uma resenha. Ela só cabe no coração e na memória de quem presenciou tal espetáculo. Espetáculo este que para ser totalmente absorvido, tem que ser visto mais de uma vez, ou de duas no meu caso. De longe, de perto, em DVD, da mais varias formas, para que cada nuance seja percebida. É tanta coisa, que você se perde. É tanto simbolismo e tanta mensagem que é transmitida que é realmente difícil, ou praticamente impossível, captar todas de uma vez.

A começar pela excelente entrada de Madonna. Ali a simbologia está praticamente em todos os lugares; a começar pelo turíbulo, pela catedral que se monta, pelo nome MDNA na cruz magnânima que se encontra projetada ao fundo do palco. O canto gregoriano do excelente Kalakan Trio. E eis que entra o Ato de Contrição, o pedido de perdão a Deus pelos seus pecados. E o estádio inteiro reza junto com ela, mesmo alguns não sabendo do que se trata, mas a conexão já está feita, e o tom do show está dado. E a diva entra, de dentro do confessionário, e faz seu paradoxo entre querer muito ser boa, mas ser uma garota má, como diz a letra da música. E a sua purgação começa, entre armas, luta pela sobrevivência, onde ela canta que o amor dela é um revolver, mata vários bandidos, pede que o pai não dê sermão, é sequestrada por radicais, forçada a andar na slackline, e depois de dizer que não dá a mínima para essas coisas, ascender de forma linda em uma plataforma, engolida pelas chamas e desaparecer. E isso tudo em 20 minutos de apresentação mais ou menos onde todo mundo já está embasbacado.

Madonna

O espetáculo segue e ela agora volta como uma festeira cheeleader, se divertindo, a parte alegrinha do show. Depois de se expurgar na primeira parte do show, porque não algo mais leve, lembrando seus tempos de líder de torcida na velha Detroit, para se divertir e nos divertir. Drummers pendurados no teto, muita coreografia de uma energia impressionante, e um pedido de para que as pessoas se expressem e não se reprimam, em uma de suas canções mais conhecidas. Todos gritam por ela quando cantam o início da próxima cancão  onde ela pede todo nosso amor. E o público dá, quase a transborda de tanto amor, de tanta energia.

Depois somos convidados a aumentar o som do rádio! Ah, e isso fazemos com gosto enquanto entoamos os versos da canção Turn Up The Radio. Todos já hipnotizados, absorvidos totalmente no clima dela. Tem-se mesmo que aumentar o som do rádio até que se estourem os auto falantes. E a parte emocionante chega. Abram os seus corações, ela canta. E evoca a obra de arte depois de um discurso que varia de noite pra noite, mas o de SP do dia 04/12 foi impactante. (Nota: Masterpiece foi a parte mais emocionante do show para mim. Foi como uma catarse, onde expurguei realmente tudo que eu passei para poder estar ali, cara a cara com esse espetáculo. A música é realmente tocante. Meu amigo que estava comigo que o diga. Foi uma lavada na alma.) O Kalakan Trio que a acompanha é muito bom. (quem se interessar em conhecer as músicas que eles cantam durante o show podem acessar http://www.kalakan.fr/wa_files/Collaboration_20Madonna_20Horizontal.pdf. Interessante ver como cada uma encaixa a mensagem a ser transmitida). Nessa parte ela se diverte vendo o filho Rocco dançar e logo após o interúdio nos convida a justificar nosso amor.

Madonna

O desfile de modas de Vogue. Está dado o tom da próxima parte. Um cabaré. Madonna se diverte com eles e com elas e vai se despindo. Aqui está seu famoso strip da turnê, depois de cantar a natureza humana e a hipocrisia das pessoas, esquecendo-se que não podia falar sobre sexo! oops! E ela se despe. “O que estará escrito em suas costas?” pensamos. Em SP, no primeiro dia, ela escolheu palavras hebraicas mais sérias, mas no dia 5/12 já brincou com a condição de SAFADINHA. E a platéia vai ao delírio. Normalmente esta parte do show se encerraria como uma virgem, mas isso ela não fez em SP. Isto fecharia o ciclo de quem chega no cabaré com o glamour de Vogue, convida a todos para entrarem em sua loja de doces, expressa a condição humana, pede a todos que toquem seu corpo proclamando o erotismo e… não tivemos essa chance dela se declarar como uma virgem. Os motivos não sabemos.

Interlúdio com mais uma mensagem. Ninguém me conhece, como você me conhece. Suásticas, imagens cortadas da própria se misturando com personalidades boas e más da história, com um balé que traduz o que a musica quer dizer, até culminar com fotos de crianças que se mataram por terem sofrido bullying e cada um desses bailarinos vai caindo ao chão. Muito bonito. Foi onde uma senhora na França a processou, se lembram? E agora ela volta em uma bela coreografia dizendo que é viciada no nosso amor, proclamando uma música que fala que o nome é viciante, cabe como uma luva e não se dá para saciar, toma conta dela como uma droga, o MDMA, e a galera vibra. É muita energia para duas horas de apresentação. É muita vibração. E tudo explode quando todo mundo grita junto com a música MDNA, MDNA. Dizemos que somos pecadores e gostamos assim na próxima canção e depois vem o clássico que nos diz que como uma oração, a sua voz nos faz alcançar o que queremos. Lindo o coro e essa apresentação. Inexplicável.

Finalmente a celebração final em tom de festa pura! Pronto, já estamos extasiados, felizes, completamente preenchidos pela energia, pelo amor, por tudo. Totalmente extasiados ela nos convida a darmos tudo que temos… e assim, neste tom, completamente diferente da sua entrada, ela se despede. A catarse está feita. Quem assistiu a esse espetáculo nunca mais será o mesmo. De alguma forma vai sair dali, do local da apresentação, tocado. É um teatro, como ela mesma diz.

Quanto a mim me coube as sensações que não consigo descrever, as marcas que nunca sairão, e a certeza de que ela realmente é a Rainha. A vontade que dá é de voltar no tempo e passar por toda essa experiencia de novo, sem mudar uma vírgula e sem acrescentar um ponto. Estou pleno, assim como ela mesma diz que quer que as pessoas se sintam depois do show.

E cantemos então como a Nicki Minaj diz em I Don’t Give A: Só existe uma rainha, e é Madonna! Aguardemos para ver o que ela nos preparará para superar essa MDNA.

(Review de Gustavo Espeschit)