O júri ainda decide se o vazamento das demos do álbum Rebel Heart ajudou ou prejudicou o sucesso dele. Por um lado, forçou um lançamento comprometido e chocante, ao invés de um retorno explosivo; por outro lado, o vazamento – além do recente amor de Madonna pelo Instagram – provocou um interesse maior do público, ausente nos dois últimos álbuns.
Abrindo com Living For Love – um estouro criado pela mistura curiosa do produtor Diplo, com o coral London Community Gospel Choir e o piano de Alicia Keys – Madonna interpreta o papel da amante desprezada que redescobre a força interior (“Depois da mágoa, vou seguir em frente”), um tema que segue em canções como Unapologetic Bitch. Você talvez consiga se alegrar por ser feroz e triunfante em alguns momentos, mas há poucas oportunidades para uma canção alegre e dança. Há algumas baladas, como Hold Tight (não é a melhor obra de Ryan Tedder), Wash All Over Me e Messiah, sendo que as melhores provavelmente são Ghosttown e a linda Joan Of Arc – uma guitarra pop e fresca abre um novo território pra ela, que poderia ser um single muito bem-sucedido.
O trabalho com Avicii é o melhor em Devil Pray, Heartbreak City e na faixa-título, enquanto a produção de Kanye West brilha em Illuminati. O rap anti-Vogue sobre suspeitos membros da ordem Illuminati é provavelmente a única vez em que Rihanna e a Rainha Elizabeth estarão juntas. Outras produções com o toque de Kanye, como Holy Water e S.E.X. são mais redutivas. S.E.X. é ótima para Nicki Minaj, mas não tanto para Madonna. Convidando um amante para provar a “porta do Céu” dela em Holy Water, ela se abriga em versos que – apesar de distorcidos – claramente afirmam que “Yeezus gosta mais da minha xoxota”. Será uma novidade para Kim (Kardashian).
Nitidamente mais à vontade com as lembranças do passado, em grande parte do álbum, a Rainha do Pop é surpreendentemente auto-referencial. Do sample de Vogue em Holy Water e Justify My Love em Best Night à explosão de cordas de Holiday em Veni Vidi Vici – uma canção que, assim como a faixa-título, reflete sobre como ela venceu as adversidades para alcançar a fama. Com canções como Iconic e Bitch, I’m Madonna, ela também revela, no próprio status e fama, o momento “Curvem-se, vadias!”.
Todos têm uma opinião sobre o que Madonna deveria fazer, o que significa que nem todo mundo estará satisfeito com este trabalho. Enfim, parece que ela tentou agradar muita gente. Há momentos em que ela assume um estilo de música forte e apropriado à idade, que pode fazer os críticos e o público em geral elogiarem-na; há faixas modernas e relevantes como Living For Love, que merecem o sucesso comercial; e também há momentos em que ela baixa o tom, com canções como S.E.X. – voltando a uma atitude chocante que facilmente permite que o bom trabalho dela seja ignorado.
De certa forma, há provavelmente dois ou três álbuns lutando para sair de Rebel Heart. Enquanto todas as canções funcionam com suas próprias características, elas não são convincentes juntas. E mais, com 19 faixas (sem incluir as extras da versão Super Deluxe), é claro que todos vão achar que seria mais garantido eliminar uma meia-dúzia de canções. É decepcionante – e também confuso – que o hino da faixa-título esteja apenas no fim da versão Deluxe. Há um brilhantismo puro quando o refrão chega e ela chora “Então, pela estrada mais improvável eu segui/E, dela, viva, eu mal saí”, mas é possível que muitos não tenham a paciência para ouvir o álbum até aí; sem mencionar que a posição no disco não garante que seja um single, apesar de ser uma das melhores canções pop dela desde Hung Up.
Rebel Heart não estará na mesma categoria de Like A Prayer ou Ray Of Light, mas é justo dizer que ele é superior a Hard Candy e MDNA. Com uma forte campanha promocional, e alguns singles bem escolhidos, 2015 poderia ser o ano em que a Rainha mostra que a habilidade e reputação conquistadas ainda podem ser usadas num cenário moderno e difícil. Afinal de contas: Vadia, ela é Madonna. (Attitude Magazine)