Certamente o fim da obrigatoriedade do diploma, decidido ontem no STF por 8 votos a 1, não porá fim ao jornalismo no Brasil. Neste debate precisamos separar duas discussões que não são exatamente a mesma coisa. As reflexões sobre o jornalismo e sobre o status da profissão de jornalista demandam argumentações em separado. Apesar da clara inter-relação entre as reflexões é capcioso afirmar que a não exigência de diploma acabará com a qualidade do jornalismo como um todo.
Vai acabar nada, pura besteira. O que vai acontecer é que os jornalistas terão que realmente serem jornalistas se quiserem ainda continuar a ser chamados como tal. Digo ainda que terão que se adequar a realidade do mercado. Ok, minha profissão, apesar de ser ultra-importante numa redação ou dentro de uma empresa qualquer, jornalismo de redação ou assessoria de imprensa, ela nunca teve o crédito merecido depositado na conta bancária no fim do mês. Somos fundamentais, sem nós, ninguém lê e nada sai, meu chefe não vai pra mídia e não tem o seu nome estampado num jornal, ele não ganha notoriedade; “mas você apenas escreve”, e assim pensam quase todos. Eles não imaginam o quanto é difícil escrever o que é necessário num determinado momento, uma vez que, como qualquer pessoa, para criar, é preciso de inspiração, senão, nada sai. Um pintor renomado não pinta um quadro belo e esplendoroso se ele não estiver inspirado para tal. Se a “luz não desce”, ele ficará ali, tentando, tentando e não achará nada daquilo atraente. O mesmo vale para um bom cantor, um dançarino, um publicitário. Fazemos parte do capital intelectual, e geralmente, é complicado mensurar o quanto esta dádiva que só alguns possuem, é importante para se ter um bom texto, para se ter um bom trabalho. E não é qualquer um que possui a magia das letras.
E penso mais. Um bom jornalista faz a pauta acontecer. Ele escreve, ele produz, ele dá vida a sua escrita, ele manda pronto para a gráfica, ele retoca, ele corrige. Chamo isso de o verdadeiro profissional. O bom jornalista corre atrás, e não é porque eu tenho um diploma de jornalismo que eu acharia que sou um bom jornalista. Eu me acho bom porque, digamos, eu me fiz num conjunto. Centralizei minha competência na minha criatividade, disposição, agilidade e gana de fazer o meu trabalho acontecer, de uma forma ou de outra, além, é claro, de construir a base em meus quatro anos de faculdade (ok, desconsidero como parte da base as aulas de filosofia. Eu matei várias, achava um saco e achei totalmente desnecessário).
O fraco jornalista não tem a ambição de se mexer tanto, e nem de explorar alguns dos vários campos que o curso de Comunicação Social lhe proporciona. Ainda existe jornalista que acha que jornalismo é o jornalismo feito pela Folha de São Paulo, pelo Estado de Minas e por aí vai. Ainda temos jornalistas que acham que assessoria de imprensa não é jornalismo, e que jornalismo digital é coisa de adolescente querendo escrever blog e que o jornalismo da revista CONTIGO não é jornalismo.
Dizer que o webjornalismo participativo, que blogs e que o fim da exigência do diploma representa a morte do jornalismo é assumir que o mesmo é muito frágil, o que não é verdade. O que morre é uma concepção antiga de jornalismo. Tampouco acredito que a decisão do STF acabe com as faculdades de jornalismo. Apesar de jornalistas odiarem ser comparados com publicitários (preferem se comparar com médicos, advogados e engenheiros), esta categoria nunca precisou mostrar diploma em qualquer agência. Mesmo assim, tais empresas vem sistematicamente empregando apenas diplomados.
Sou convicto, portanto, que uma boa formação pode garantir um bom exercício da profissão. Logo, apesar dos rumores distribuídos pela Fenaj, acredito que a formação universitária em jornalismo melhorará com este baque (ela precisa melhorar!) e que fará diferença nas entrevistas de emprego. Espero também que os alunos de jornalismo ampliem seu interesse pelo estudo amplo e continuado.