Em 2003, a revista Rolling Stone americana cravou: esqueçam Michael Jackson – o trono de Rei do Pop é de Justin Timberlake. Na época ainda colhendo os frutos de seu álbum-solo de estreia, Justified (2002), o americano tinha o mundo do entretenimento a seus pés: vendeu 3 milhões de cópias numa era em que os programas de compartilhamento de arquivos deixavam a indústria fonográfica mais fraca a cada dia.
Após a morte de Michael Jackson, as previsões da Rolling Stone não se concretizaram. Hoje, Timberlake é apenas mais um ícone em uma cena pop fragmentada e dispersa, que apesar de trazer grandes nomes, como Lady Gaga e Beyoncé, ainda não trouxe nenhum substituto à altura para assumir o lugar de Michael como o novo Rei do Pop. Ao menos, na opinião de produtores, DJs e jornalistas especializados no assunto.
O mundo da música pop não é mais o mesmo: hoje, tanto o mercado quanto os artistas sentem que a cena musical não comporta mais grandes ídolos, que reinem isolados e sejam unanimidade. “O mercado musical mudou completamente. Hoje temos mais artistas em destaque, além da segmentação do público. O pop hoje tem tantas facetas que é muito improvável um artista consolidar todas a ponto de ser o rei do estilo”, afirma o produtor e DJ Deeplick.
O jornalista André Forastieri concorda: mesmo com a internet ajudando na divulgação de muitos artistas, não existe espaço hoje para nada que seja definitivo, hegemônico. “O mundo mudou – aqueles clichês todos, globalização, internet, multiculturalismo. Michael Jackson, quando se autobatizou Rei do Pop, já não era mais. Foi, mas na época de Thriller; Madonna, a rainha. Não tinha para ninguém. Hoje não há mais espaço para essas presenças mitológicas, monolíticas”, afirma ele.
“O que Michael Jackson conseguiu foi inédito, e provavelmente ninguém mais conseguirá. A comparação com Elvis ou Beatles, por exemplo, é completamente absurda, pois nenhum deles teve o impacto e a longevidade de Michael. Diferentemente de qualquer ídolo atual, ele nasceu e morreu artista, influenciando a vida de todos em suas fases”, disse o DJ e produtor Memê, que completa que a influência do integrante mais famoso da família Jackson não pode ser equiparada por uma questão de completude. “Michael influenciou não só a música como a dança, a moda e a história em geral”, finalizou.
Para o produtor californiano Brendan Duffey, responsável pelo Norcal Studios, a morte de Michael Jackson não deixou o trono de Rei do Pop vago, mas sim aumentou ainda mais a importância do astro. “A morte de Michael o deixou maior. Ele está junto com Elvis e Frank Sinatra, um verdadeiro deus musical. Ninguém vai conseguir um lugar semelhante, porque o público não vai deixar”, afirma ele.
Para ele, a morte de Michael não deixou nenhum vácuo na indústria. “O fato de ele estar morto não o tirou da cena musical. Vai continuar sendo o maior artista do pop e vender mais que todo mundo. Hoje, na maioria das vezes, os artistas estão mais voltados para o marketing do que para a música, e foi a música de Michael Jackson que fez sua fama”, completou
Há alternativa?
E os demais artistas da cena pop hoje? Para Deeplick, cantoras como Lady Gaga e Beyoncé podem não ser rainhas do pop, mas têm capacidade para chegar ao topo da cena musical e permanecerem. “Elas precisam fazer sempre músicas geniais, que emocionem e conquistem o público. Desta forma, podem ir longe. Ambas possuem estilos muito diferentes, mas a longo prazo acredito mais no trabalho de Lady Gaga, que tem um estilo que permite transitar por várias musicalidades sem perder a essência”, afirma o produtor.
Duffey acha improvável que alguém consiga dominar a cena musical de maneira tão incisiva. “Artistas como Beyoncé, Jay-Z e Timberlake não serão lembrados como deuses do pop porque eles seguem o mercado, e Michael fez o mercado”, opinou ele.
O jornalista e crítico musical Paulo Terron compartilha da mesma opinião. “Acho que não haverá mais reis no pop. A sociedade já não desenvolve pessoas tão grandes quanto Michael Jackson. Resta a Madonna, mas não dá para levar em consideração porque ela também faz parte desse ‘mundo velho’”, afirma ele, que considera que o papel das gravadoras hoje também influi no surgimento de ídolos de grande porte.
“Não há mais um investimento por parte das gravadoras para que surjam esses grandes ícones, especialmente porque elas não têm mais dinheiro para isso. Do mesmo modo que não teremos novos Beatles, Elvis ou Walt Disney, não haverá um novo Michael Jackson. A monarquia caiu, entramos na república e um novo presidente é eleito de tempos em tempos”, completa. Se ele tem razão ou não, o tempo vai dizer… (Fonte: Virgula)