Madonna estava no Brit Awards, apresentando o poderoso single Living For Love, quando tudo aconteceu. “Leve-me aos Céus, deixe que eu caia… me elevou e me observou cair”.
Ela profetizou tudo, e assim aconteceu. Não foi um tropeço ou uma queda. Não foi engraçado; foi horrível e tão brutal que o público ficou em silêncio. Foi o tipo de acidente que quebra pescoços, danifica o cérebro e terroriza os sonhos dos dançarinos do Cirque Du Soleil. A capa Armani que Madonna usava ao se aproximar das escadas estava apertada demais e não saiu quando os dançarinos a puxaram. Ela foi puxada pelo pescoço e caiu de três degraus, aterrissando bruscamente no chão e não se moveu por um instante. Mas a cantora prosseguiu com a apresentação como se nada tivesse acontecido, apesar de ter perdido o microfone na queda. “Após a performance, uma multidão de membros da sua equipe correu aos bastidores para ajudá-la. Ela estava furiosa e saiu direto pro hotel”, diz uma fonte. “Vários estavam ajudando-a até chegar no hotel. Ela realmente está machucada, cheia de dores e se sentindo muito triste. Diz estar envergonhada e também desapontada”, complementa.
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Mas apesar disso, Madonna tentou parecer que está bem em seu Instagram para acalmar os fãs: “O Armani me enforcou! Minha linda capa foi amarrada muito apertada. Mas nada pode me parar e o amor realmente me levantou! Obrigado pelas boas mensagens! Eu estou bem!” Ela agradeceu ao apoio e também informou que estava bem.
De casa, o coração de todos parou. Isso é todo o necessário pra matar uma Rainha?
Hashtags cheias de ódio, como #elacaiu e #madonnacaída, começaram a intoxicar o Twitter: “Entendo, Madonna. Acontece a mesma coisa com minha avó”. “Espero que Vovó esteja bem. Um quadril quebrado na idade dela pode ser uma sentença de morte”.
Mas como a própria Madonna cantou: “Catei minha coroa e pus de volta na cabeça. Posso perdoar, mas jamais esquecerei”. Depois de uma queda daquelas, qualquer um gritaria de agonia e culparia alguém. Ela se apoiou em um poder maior: ela mesma. Exibindo a famosa força física e mental, ela se levantou, retomou a coreografia e o canto, ao vivo e afinada – da mesma forma que os vocais do Grammy – e concluiu de maneira triunfante.
É esta Madonna que muitos amam há anos, a começar pela dança flamenca de La Isla Bonita. Dizem que não se deve acreditar em propaganda. Mas, com algumas pessoas, os mitos são reais. Ela é mística, com um carisma indestrutível e verdadeiro. Ela nunca se deixou definir por homens e sempre lutou por outras mulheres, destacando na entrevista para a revista Rolling Stone que “as pessoas gostam de colocar as mulheres uma contra as outras”.
Mas o fato não se resume a uma habilidade de sobrevivência individualista, uma irmandade ou uma atitude no estilo Vogue. Madonna não é digna de respeito apenas por sobreviver, ser ousada ou conseguir ser capitalista de todos os ângulos. Ela tem um talento brilhante e bem-sucedido baseado na disciplina, que é a música. Ela já produziu grandes álbuns ao longo da carreira, incluindo Like A Prayer, Ray Of Light e Confessions On A Dancefloor; e o mais recente, Rebel Heart, está nesta lista também. Ela “voltou pro jogo”, como disse o jornal The Telegraph.
Mas quantas vezes Madonna deve provar que ainda é uma jogadora digna? Quantas vezes ela deve quebrar recordes de vendas, com turnês mais lucrativas, melhor do que qualquer um no mundo? As colegas dela já homenagearam as habilidades excepcionais de produtora e compositora, mas, sempre que Madonna trabalha com um homem, é ele quem recebe os créditos.
Quando suas habilidades não são ignoradas, transferidas a homens ou elogiadas como algo do passado, zomba-se delas. As críticas não perdoam, e o riso de escárnio está ficando mais alto, mais cruel e mais feio, como se pôde perceber pelas postagens no Twitter. A longevidade de Madonna foi admirada no primeiro momento, mas agora está sendo sabotada por editoriais que sempre mencionam a idade dela, como se fosse algo pelo que se envergonhar. Ela tem que lidar com muita chacota e xingamento, além do ódio pelo corpo, pela confiança sexual e ambição, pela vulnerabilidade e romanticismo, pelo erotismo, e por aí vai. Tudo que já foi admirado é agora usado contra ela, para fazê-la parecer risível ou desesperada.
Madonna reconhece a misoginia bem. Ela é sobreviveu a um estupro e a um assalto à mão armada. Será que vai piorar ainda mais? Ela só tem 56 anos e está no auge da vida, com poder, talento, experiência e sabedoria, além da inteligência natural e rigor. Ela está prestes a lançar o 13º álbum – um dos melhores. Tudo que a mandam fazer – envelhecer graciosamente, esquecer tudo, se aposentar, ir pra longe e morrer – serve para envergonhá-la, destrui-la e negar o valor desta mulher, que se arrisca a ser vocal e visível, física e política.
Para suportar tudo isso, Madonna deveria ser super-humana. Felizmente, ela é! Mas por que ela deveria ter que aceitar o ódio quando o objetivo é ser lembrada pela brilhante artista que é?
The Guardian