Sentada na ponta da cadeira, olhando atentamente para a câmera, ela parece feroz, pronta para matar. Ela é Madonna, santificada em uma nova campanha de publicidade da coleção primavera/verão 2015 de Donatella Versace. Magra e ligeiramente ameaçadora, ela aparenta, pelo menos nas lentes dos fotógrafos de moda Mert Alas e Marcus Piggott, a imagem sinceramente agressiva.
“Ela é tudo isso e mais”, como diz a Srta. Versace, cuja colaboração com a cantora (um catálogo de 12 páginas a ser lançado na próxima primavera americana, em revistas como Vanity Fair e nas edições americana, francesa e italiana de Vogue) é a mais recente expressão do tema.
“Madonna afirma como ninguém: ela não se arrepende de nada”, disse a Srta. Versace. “Ela é autêntica, um modelo que mostra a outras mulheres como fazer o que quiserem e como conseguirem tudo o que quiserem, fazendo tudo para elas mesmas, sem se comprometerem”.
Nos novos anúncios, Madonna parece ter gentilmente seguido o caminho de manequins Versace passados, dentre os quais estão Amber Valletta, Christina Aguilera e, talvez a mais vibrante, Lady Gaga. Todas com uma imagem firme e cabelos loiros partidos ao meio – uma homenagem evidente à magra, porém torneada e exibida Srta. Versace.
Poucas interpretaram o papel de forma tão persuasiva como Lady Gaga. Atada em tecidos de chifon lavanda e bronzeada, ela posou neste ano para a campanha primavera/verão 2014 como uma Donatella idealizada, uma forma, talvez, de trazer de volta a admiração de fã da estilista.
A Srta. Versace, no fim das contas, vestiu a cantora no clipe de The Edge Of Glory e na turnê Born This Way. E, no ano passado, Lady Gaga devolveu o elogio com Donatella, faixa do álbum Artpop, na qual ela canta: “Ela é tão magra. Ela é tão rica e tão loira. Ela é tão fabulosa…e vai além…”.
Ela poderia muito bem estar descrevendo Madonna, sobre a qual ela discutivelmente moldou sua carreira. Mesmo assim, o último ato de Madonna (que também inclui uma aparição na capa da edição mais recente da revista Interview) levanta questionamentos a respeito de sua própria relevância para uma geração de compradores de luxo, talvez mais antenados ao estilo de Lady Gaga, Rihanna ou, por assim dizer, Taylor Swift.
No entanto, para algumas pessoas, Madonna sempre foi muito relevante. “Uma vez atingido o status de ícone, não se trata mais de ser relevante”, afirmou Lisa Mirchin, consultora de propaganda. “Marilyn Monroe ou Audrey Hepburn são relevantes? Creio que sim”.
A Srta. Mirchin, fundadora da GlamBrand, uma agência especializada em moda e beleza, também disse: “Madonna não envelhece, assim como a moda. As mulheres se vestem sem pensar em idade agora. A variação pode ir dos 20 ao ponto que a natureza e a Física permitirem”.
Mais do que eterna, a moda permanece, das especulações à inovação, uma indústria decididamente conservadora. Parafraseando uma teoria avançada de Tina Brown sobre sua estabilidade como editora da revista Vanity Fair, Vanessa Friedman, a diretora de moda do The New York Times, escreveu em uma coluna em agosto que o momento de apresentar uma estória de celebridade é “logo após o topo: logo após a pessoa ter se tornado famosa o suficiente para ser imediatamente reconhecida pelo público em geral”. A realidade, segundo a Srta. Friedman, é que “a moda gosta de fazer o que sabe que funciona, ou seja: o que vende. Ou, pelo menos, o que fora comprovado antes”.
Por ter compartilhado momentos com a estilista, Madonna cumpre o requisito. A Srta. Versace escalou a cantora pela primeira vez em uma campanha de 1995, com fotografia de Steven Meisel, que clicou Vossa Senhoria em preto e branco com um grande cachorro.
Após uma década, Mario Testino retratou o ídolo pop em um cenário de 1960, escondida em trajes relativos a uma socialite bem-intencionada. Vestindo uma camisa estampada e uma saia comportada sob medida, ela posou distraída, digitando e arrumando correspondências.
E, agora, a performer mutável, que já incorporou moda, e também Versace, na arte performática astuta, posa como uma predadora sexual, usando um vestido de couro preto e uma bolsa Palazzo da mesma cor. “É Versace”, disse a estilista, “mas com novos e poderosos ares e atitudes”.
“Quando Madonna me chamou no cenário, ela me perguntou: ‘Qual personagem você quer que eu interprete?’”, lembrou a Srta. Versace, que respondeu: “Quero que você seja Madonna, si mesma’, e ela riu de mim”.
A nova campanha com Madonna será a quarta parceria dos dois. No passado, ela foi “o rosto” de Versace em:
– Campanha Primavera/Verão 1995, dirigida por Steven Meisel;
– Campanha Outono/Inverno 1995, por Mario Testino e;
– Campanha Outono/Inverno 2005, por Mario Testino novamente.
(NY Times)