Como muitos já sabem, dezenas de canções do 13º álbum de Madonna, intitulado Rebel Heart, vazaram nos últimos meses. O lado bom dessa terrível notícia são as ótimas críticas que apareceram na Internet.
Já faz anos que Madonna lançou um novo álbum que fosse bom o bastante para agradar críticos e fãs. Todos lembramos do doce, porém fraco, Hard Candy, além do dance despreocupado de MDNA. Ambos, apesar de terem boas canções, não foram fortes o suficiente como obras-primas. Em Hard Candy, Madonna foi ofuscada pelas produções de Pharrell, Justin Timberlake e Timbaland. Em MDNA, ela tentou demais agradar fãs jovens com uma dance music básica e singles genéricos, deixando as letras ricas (a maioria delas sobre o divórcio com Guy Ritchie) de lado para favorecer composições-clichê (lembram de Turn Up The Radio?). Estes momentos foram difíceis para os fãs que conheceram Ray Of Light ou até mesmo American Life aceitarem, devido à profundidade lírica e a música experimental; ou até mesmo que ouviram Confessions On A Dancefloor, por ser a reinvenção de Madonna.
A era Rebel Heart será lembrada em grande parte por tantos vazamentos (todas as canções do álbum, de alguma forma, vazaram em um mês), mas é uma vergonha. Rebel Heart atualmente agrega muito valor à discografia de Madonna, e é o melhor álbum da última década. Enquanto ouvimos as seis primeiras canções anteriormente, já que Madonna as lançou no iTunes no fim de dezembro, tivemos que esperar pelas próximas. E aí estão elas, após todo o álbum e as 25 (!) faixas terem vazado. E adivinha só? Elas são muito boas.
Aqueles que ouviram as demos sabem que Avicii trabalhou muito em algumas canções, incluindo a faixa-título. Bem, no álbum, as produções dele estão mais sutis. Adeus às boas e velhas batidas dance; bem-vindas, melodias. Rebel Heart se torna uma canção country, que caberia bem no álbum Music; enquanto Wash All Over Me é agora a sinfônica última canção do álbum, na qual Madonna reflete sobre sua solidão. De todas as demos, Body Shop é, na verdade, a única que teve a melhor transição. Ela agora está ao som doce de violões, na qual Madonna brilha como uma companheira alegre e romântica.
O álbum questiona a identidade de Madonna: ela é revolucionária, solitária, iludida, uma diva feroz…? Na verdade, ela é tudo isso, e a própria afirma. Sim, ela pode ter defeitos e parecer uma diva sem coração, mas, sério, ela é tão boba no quesito “amor” como todos nós. “Aceite-me com todos os meus defeitos idiotas”, ela canta, e nós aceitamos com alegria.
Este álbum poderia facilmente ser comparado a American Life e às baladas pessoais e suntuosas, uma vez que Madonna lança aqui algumas das melhores músicas em anos. Ghosttown, uma balada apocalíptica, Joan Of Arc, uma confissão da falta de confiança em tempos atuais, e Messiah, uma obra-prima do amor não-correspondido: todas são delicadas, honestas, e provam que Madonna consegue mesmo produzir canções mais lentas com talento e confiança (lembram-se de Take A Bow?).
Mas não esqueçamos das mais agitadas: Living For Love, com a mistura das batidas dubstep e a energia gospel de Like A Prayer, é uma vencedora, enquanto Hold Tight é um hino ascendente. Iconic é a canção mais básica da versão Standard, e sua natureza sombria, porém fortalecedora, faz tudo dar certo. E mais, toda a auto-referência em se tocar Vogue no meio das músicas! A composição de Natalia Kills, Holy Water, parece ter saído de Hard Candy, e a produção futurista com a letra brega nos lembra do potencial de 2008. Madonna também se auto-referencia em Veni Vedi Vici, uma peça autobiográfica na qual ela lembra de sucessos passados.
Ela nos oferece o melhor material dance, graças à mistura de gêneros ecléticos e a exploração autobiográfica, mas ainda brilha nas baladas, nas quais a mulher por trás da persona se revela pela primeira vez desde 2003. Em um mundo mutável, Madonna permanece a mesma, e nós agradecemos muito por esse Rebel Heart em nossas vidas. (Washington Post)