“Él, iú, ví, Madonna.” Em menos de três segundos, ela conseguiu. Como se fosse 30 anos atrás, repetiu a façanha: fez você memorizar um refrão para sempre. Duvida? Eis uma breve antologia.
Em outubro de 1982 –sim, há quase 30 anos–, Madonna lançava seu primeiro sucesso. Para os já nascidos na época e que já conseguiam escolher as músicas que queriam cantar, o refrão era inevitável: “Everybody, come on, dance and sing”.
Meros dois anos depois, ela (talvez sem saber) lançava outra música que seria –com licença a Caetano– a sua mais completa tradução. Em “Like a Virgin”, definiu a primeira sensação de seus fãs ao ouvir seus sucessivos sucessos -como se eles tivessem sido tocados (ou tocadas) pela primeira vez.
Não era essa sua intenção. Nos pudicos anos 1980 –e acredite: eles eram pudicos– tudo que aquela lasciva Madonna queria era evocar a experiência de receber o enésimo toque erótico como se fosse o primeiro. Mas o que ela registrava ali era um desafio pessoal, um compromisso entre ela e seus fãs de não ser nunca repetitiva, jamais aborrecida e sempre nova.
Era um desafio e tanto. Que Madonna, diga-se, nunca deixou de honrar. Falei de “Everybody” e de “Like a Virgin”. Mas isso faz anos –deve ter gente lendo isso que nasceu depois de ambas as canções.
Escolha o sucesso que marcou sua geração. “Into the Groove”, “Material Girl”, “Open your Heart”,”Who’s that Girl”, “Like a Prayer”, ” Express Yourself”, “Vogue”, “Justify My Love”, “Rain”, “Ray of Light”, “Music”, “Hollywood”, “Hung Up”. E, claro, “Give me All Your Luvin'”.
Você teria coragem de admitir que não é capaz de reconhecer pelo menos uma dessas músicas nos primeiros segundos? Claro que é! Claro que sim! Madonna é o “cálice de ouro”, o padrão que toda a história do pop moderno ainda usa para se pautar.
Mais de uma geração de artistas –sim Britney, sim Gaga– inventou uma carreira em cima de comparações com ela. E o mais divertido é que, menos do que um espelho, Madonna é uma esponja. Nada boba, escolhe as pessoas certas para trabalhar e faz delas suas coadjuvantes preciosas (Nicki Minaj e M.I.A. são suas presas mais recentes).
E não faz isso como uma obsessão –apenas um impulso natural que deixa claro que, décadas depois de “Everybody”, ela ainda tem a mão (e nervos) para tal tarefa. Aos 53 anos, com uma fortuna estratosférica e uma biografia onde a palavra “revolucionária” soa como eufemismo, ela segue em frente.
E promete desafiar quem estupidamente a condenar ao silêncio –ou, pior, à aposentadoria.
Poucos vão admitir, mas você mesmo deseja isso. Como diz a continuação do irresistível refrão de “Give me All Your Luvin”: “uai, ou, iú, you wanna”!
Por Zeca Carmago para a Folha de São Paulo, 26/02/12