Crítica O DIA: Madonna em ponto de bala na Argentina

Abrindo sua fantástica fábrica de doces na América do Sul com show para 66 mil pessoas em Buenos Aires, diva mostra que quem é rainha nunca perde a majestade

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Não interessassa se ela é coroa, como apregoam seus críticos mais ácidos. Aos 50 anos, Madonna continua superando os próprios limites em apresentações impecáveis, como a que foi vista na última quinta-feira, em Buenos Aires, Argentina, abrindo a turnê de 11 shows na América do Sul.

Nem o estresse da véspera — o show de quarta-feira teve de ser adiado para quinta por conta do atraso no vôo que levava parte dos equipamentos — tirou o brilho da noite. A estrela estava extremamente simpática com a platéia de 66 mil pagantes.

Uma platéia um tanto fria, é verdade, mas que despertou do estupor quando ela disparou ‘Don’t Cry For Me Argentina’, que cantou pela primeira vez ao encarnar no cinema a ex-primeira-dama do País, Evita Perón.

Às 20h, o DJ Paul Oakenfold começou os trabalhos. Depois, silêncio até as 21h50, quando a diva surge no trono cantando ‘Candy Shop’, seguida de ‘Beat Goes on’, de seu CD ‘Hard Candy’.

Trata-se de um show feito sob medida para uma senhora de 50 anos no auge da boa forma — mas sempre uma senhora. Daí vem um aparato tecnológico de deixar o queixo caído, que exige menos acrobacias da estrela. Os cenários são quase todos virtuais, passados nos telões de altíssima definição, e a qualidade do som, irrepreensível. Fica impossível reproduzir em palavras a grandeza do apuro eletrônico: é preciso ver para crer.

Os bailarinos e as ‘backing vocals’ têm menos personalidade do que nas outras turnês. Em ‘Sweety’, Madonna é absoluta. Ainda na primeira parte, surge Britney na tela fazendo duo em ‘Human Nature’, e ‘Vogue’.

Em seguida, um intervalo para um clipe de ‘Die Another Day’, abrindo a seção boxeadora. Zica: o ringue montado para servir de cenário aos bailarinos-lutadores se desmonta, mas Madonna dá um nocaute no problema aparecendo de shortinho vermelho para um dos grandes momentos, ‘Into the Groove’ remixada a ‘Jump’. Seguem inúmeros solos com guitarra em ‘Ray of Light’ e nas versões roqueiras de ‘Borderline’, ‘Miles Away’ e ‘Hung Up’.

A cantora dedica ‘She’s Not Me’ “às melhores amigas que roubam seu namorado” e trava uma luta sensual com seus clones — uma bailarina recebe um beijo na boca da diva, repetindo a cena que ela viveu com Britney no MTV Awards.

O figurino da terceira parte do show é o mais acertado — um vestido Givenchy com colares de muitas voltas. Ela inicia com ‘Devil Wouldn’t Recognize You’ e ‘Spanish Lesson’ e termina com ‘La Isla Bonita’ e um grupo de música cigana entoando ‘Doli Doli’. Depois, ‘You Must Love Me’ e ‘Don’t Cry For Me Argentina’. Um vídeo com o rosto de Barack Obama ao som de ‘Get Stupid’ anuncia a parte final. Justin Timberlake aparece em telas que dançam com Madonna em ‘4 Minutes’ e mensagens cabalísticas ilustram ‘Like a Prayer’.

Quando ela pede a um rapaz da platéia que escolha uma de suas músicas antigas para cantar à capela, ele grita ‘Like a Virgin!’. Uma dica: o sortudo que escolhe a música fica sempre do lado direito do palco, na chamada ‘platéia vip’, que por aqui custa R$ 600 e está com lotação esgotada, ao contrário dos demais ingressos, ainda disponíveis. ‘Give it 2 Me’ encerra a apresentação.

Mulheres de 50 anos viram causa da diva pop

A mulher que inventou os shows-videoclipes é um caso único de artista pop que permanece no trono há mais de 25 anos e prepara-se para faturar R$ 600 milhões na turnê mais rentável da História. Quinze anos depois de deixar os brasileiros fascinados com ‘The Girlie Show’, Madonna volta ao País no próximo domingo, dia 14, diferente: religiosa, mãe de três filhos e recém-divorciada pela segunda vez.

Talvez isso se reflita na platéia, em que, pelo menos na Argentina, viam-se menos gays-seguidores e mais famílias com crianças e mulheres maduras. A mocinha que quebrou tabus e virou de cabeça para baixo os costumes ao longo dos anos 80 e 90 levanta nesta turnê a bandeira de um novo tipo de revolução: a das mulheres de 50 anos, para quem a vida está apenas começando e deve ser saboreada como um doce sem medo de ser feliz. Não pense duas vezes: é hora de esquecer a dieta e correr para o Maracanã.

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